Valor econômico, v.21, n.4994, 06/05/2020. Brasil, p. A4

 

Vacina contra coronavírus só deve sair no fim de 2020

Hugo Passarelli

Rafael Bitencourt

06/05/2020

 

 

Com a previsão de que o pico da pandemia do novo coronavírus está mais próximo de atingir o Brasil, ainda não é hora de aliviar o isolamento social da população. Qualquer medida nesse sentido pode pressionar ainda mais o sistema de saúde, que já opera perto do limite em diversas regiões do país. A cautela também é necessária porque a vacina contra a doença só deve estar disponível em larga escala no fim do ano. As opiniões são de Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein.

"Projeções indicam o pico da doença deve ocorrer entre os dias 3 e 10 de maio. As estimativas estão sujeitas a erros, mas acho que estamos próximos desse pico", disse ontem em live do Valor.

O presidente do Einstein lembrou que a decisão sobre o relaxamento do isolamento deve observar a evolução de casos de covid-19. "Momento de relaxar o isolamento é quando novos casos estiverem longe de levar o sistema de saúde ao limite", disse.

Segundo ele, isso não se aplica hoje à situação do Estado de São Paulo, localidade com maior número de casos e mortes no Brasil. "Não conseguimos comprovar que o pico dos infectados já aconteceu aqui", disse.

Embora os estudos para a produção de vacina contra a doença estejam em ritmo acelerado pelo mundo, a fase de testagem está, mesmo nos casos mais avançados, apenas no início. "Existe a perspectiva de vacina produzida em larga escala até o fim do ano", afirmou, lembrando que muitas iniciativas projetam ter até meados do meio do ano um medicamento pronto para começar a ser avaliado em humanos.

Anteontem, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou parceria com mais de 40 países, que doaram conjuntamente € 7,4 bilhões para contribuir com a distribuição e produção de uma vacina contra o novo coronavírus. Brasil e Estados Unidos estão entre os que ficaram de fora de aliança mundial.

Questionado, Klajner disse que, por enquanto, não há comprovação científica de que a hidroxicloroquina, cujo uso é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, seja um remédio eficaz contra a covid-19. "É muito cedo para falar da hidroxicloroquina porque não há comprovação de eficácia. Ela faz parte de um protocolo de pesquisa, não de um protocolo de tratamento", disse.

O presidente do Einstein afirmou não ser contrário à implementação de uma fila única para atendimento dos pacientes da pandemia, mas que a medida deve ser regulamentada e não prever apenas o confisco de equipamentos ou leitos pelo governo. "Há necessidade de se fazer uma regulação para usar leitos ociosos para o setor público. Se simplesmente for confiscado um leito, o setor privado para de comprar insumos", opinou.

Klajner ressaltou, porém, que desde que as regras do novo modelo sejam claras, muitos hospitais privados poderiam atuar para atender a essa demanda. "É melhor ter uma UTI girando com alguma receita do que ficar parada com um custo fixo", disse.

No Eistein, 500 colaboradores contraíram a doença e, destes, 170 pegaram fora do hospital, informou o presidente da instituição. "Dos 500 contaminados, 170 tiveram infecção comunitária, ou seja, pegaram a doença fora do hospital", disse.

Segundo ele, isso desfaz um mito sobre uma suposta insegurança de ambientes hospitalares. "Esses funcionários pegaram a doença nos seus ambientes de convívio, no transporte público, e acabaram trazendo a infecção para dentro do hospital", disse.

Dos infectados, mais de 300 retornaram ao trabalho. De acordo com Klajner, as medidas de proteção, como uso de máscaras e assepsia constante, são obrigatórios a todos, incluindo os funcionários de áreas administrativas.

Para minimizar o risco de contaminação de outros pacientes, o hospital adotou um protocolo para isolar os suspeitos de terem contraído o novo coronavírus dos demais. "Temos duas estruturas de atendimento. O paciente com sintomas respiratórios ou gripais é dirigido para um 'fluxo' diferente, e identificado pela cor vermelha. Aqueles que vêm ao hospital para procedimentos corriqueiros ou agendados vão para outros ambientes", disse.

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Registro de mortes salta e soma 600 em 24 horas 

Rafael Bitencourt

06/05/2020

 

 

O registro de mortes relacionadas à pandemia da covid-19 tem novo salto expressivo no prazo de 24 horas, segundo informou o Ministério da Saúde. Foram 600 novos óbitos incluídos no boletim epidemiológico de ontem. Com isso, o Brasil já contabiliza a perda de 7.921 pessoas infectados pela doença, com um incremento de 8%.

A divulgação contrariou a expectativa do presidente Jair Bolsonaro de contar com uma redução no registro de mortes relacionadas ao novo coronavírus. Pouco antes da apresentação dos números, o presidente declarou a jornalistas, em frente ao Palácio da Alvorada, que o avanço da pandemia já estaria perdendo força. Em reportagem da segunda-feira, do "The Wall Street Journal", o Brasil é apontado como o epicentro global do coronavírus.

"Não sei se hoje [ontem] caiu o número de mortes, se foi menor do que ontem [anteontem], eu não sei ainda, mas se foi, vai ser o sexto dia, se não me engano, consecutivo de queda no número de mortes. É um sinal de que o pior já passou. Peço a Deus para que isso seja verdade e vamos voltar à normalidade", disse Bolsonaro.

Ontem, os casos da doença saltaram de 107.780 para 114.715, com mais 6.935 confirmações em 24 horas, o que corresponde a acréscimo de 6%.

O secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, reafirmou que o pico da pandemia pode vir entre maio e julho, período em que o Brasil enfrenta o aumento da circulação de vírus em razão da queda de temperatura e maior aglomeração das pessoas.

"Não dá para precisar a data, mas, que ocorrerá em maio, junho e julho, eu não tenho dúvida. Então, esse é o período em que nós teremos mais circulação de vírus respiratórios", disse Oliveira.

Até agora, 48.221 pessoas se recuperaram da covid-19 no Brasil. Portanto, 42% dos 114.715 pacientes diagnosticados com a doença já podem ter desenvolvido imunidade contra o vírus. Até segunda-feira, 45.815 pessoas tinham se recuperado.

Por outro lado, 1.579 mortes de pacientes que tiveram síndrome respiratória aguda grave ainda são investigadas, o que indica que o número de óbitos relacionados ao vírus pode ser maior.

A taxa de letalidade da doença no país está em 6,9%. O dado é apurado na relação entre o número total de casos confirmados e de óbitos. Esse índice acaba sendo distorcido pela subnotificação de casos que tem ocorrido pela baixa disponibilidade de testes de diagnóstico.