Valor econômico, v.21, n.4992, 02/05/2020. Empresas, p. B10

 

Em 10 dias, 19 Estados devem reabrir lojas

Adriana Mattos 

02/05/2020

 

 

O mapa da reabertura do comércio mostra o retorno de lojas principalmente no Sul e Centro-Oeste - regiões de menor peso na geração de receita do setor. Haverá uma aceleração nos próximos 10 dias. O Valor cruzou decretos estaduais que autorizam a abertura com dados de associações, e, até a metade de maio, o país terá 19 Estados com lojas reabertas em ruas ou shoppings, o dobro do atual.

Seis Estados ainda estão sem data para reabrir lojas, como Ceará e Amazonas. Outros dois podem reabrir após fim de maio.

A reabertura porém, não é garantia de retomada de consumo - varejistas de moda e eletrônicos projetam aumento gradual no fluxo de consumidores após maio, mas com vendas fracas.

O Estado do Rio de Janeiro tem apenas dois shoppings reabertos, e São Paulo, que responde por cerca de metade do faturamento do varejo no país, nenhum. Os dois Estados, que são o motor do consumo no país, preveem redução gradual da quarentena após o dia 11, mas os governos não descartam adiamentos. "As capitais com peso mais relevante nas vendas do setor são aquelas que estão com contágio mais elevado", diz Alberto Serrentino, sócio da consultoria especializada em varejo Varese Retail.

Em relação aos shoppings, desde a metade de abril, foram reabertos 73 empreendimentos no Brasil, segundo a Abrasce, associação do setor. É menos de 13% da base total de empreendimentos (577). Isso considera as projeções do fim de semana e corresponde a uma média de cinco reaberturas ao dia.

Mais da metade (42 shoppings) está no Sul. Em segundo lugar vem o Centro-Oeste, com 11 aberturas, e em terceiro, o Sudeste, com sete shoppings reabertos em Minas Gerais (4), Rio (2) e Espírito Santo (1).

Além da expectativa de retomada lenta no consumo, o movimento ainda ocorrerá de forma desigual para as varejistas. Os decretos municipais autorizando o funcionamento de lojas atingem principalmente cidades do Sul e do Centro Oeste. Estas regiões respondem por menos de 20% das vendas e 8% da base de lojas do comércio nacional, respectivamente.

Nesses locais, o varejo regional lidera as vendas em determinados mercados. Mas há também redes nacionais que estão voltando a abrir lojas nessas regiões como Renner, sediada em Porto Alegre (RS), Hering, fundada em Blumenau (SC) e a paulista Magazine Luiza.

"A boa notícia é que essa reabertura, apesar de ocorrer em regiões menos relevantes para as vendas [nacionais] tem impacto no on-line. Mesmo quem não tem lojas nessas regiões pode ser beneficiado de uma recuperação, ainda vagarosa, no consumo nessas cidades", afirma Serrentino. Sobre esse assunto, Jose Isaac Peres, fundador e presidente da Multiplan, que conta com 19 shoppings no Brasil, disse a analistas na quinta-feira que há uma "grande demanda reprimida", que pode se transformar em consumo.

Neste momento, com as vendas do Dia das Mães já comprometidas, administradores de shoppings discutem como será o segundo semestre. Abrir um espaço para crianças abraçarem e beijarem Papai Noel, por exemplo, não parece ser uma boa ideia.

"Será um Natal ainda com limitação de contato físico, por isso, as atividades com Papai Noel devem desaparecer. Ninguém vai fazer fila para beijar e abraçar alguém", diz um administrador de shopping de São Paulo.

Na mesma linha, a área de entretenimento nos centros comerciais, como as equipadas com brinquedos para crianças, deve ser afetada. Em alguns shoppings, estuda-se a interrupção temporária desse tipo de serviço.