Correio braziliense, n. 20807 , 11/05/2020. Mundo, p.10

 

Novos casos de Covid deixam a Ásia em alerta

11/05/2020

 

 

A segunda onda de contaminações por Sars-CoV-2 pode ter chegado à China e à Coreia do Sul, que voltam a registrar infecções por transmissão local. Diagnósticos coincidem com a retomada da vida normal, com reabertura de escolas e do comércio

A China e a Coreia do Sul voltaram a registrar casos de coronavírus, levantando o temor de que a segunda onda de covid-19 se aproxima do continente asiático. Wuhan, cidade chinesa apontada como o berço da pandemia, reportou o primeiro caso desde 3 de abril. No país, já são 14 pessoas infectadas. O governo sul-coreano também está em alerta: ontem, foram anunciados 34 novos diagnósticos, sendo 26 por transmissão local. Depois de conter a propagação do vírus e flexibilizar as restrições, a prefeitura de Seul se viu forçada a fechar novamente todos os bares e boates da capital.

De acordo com o prefeito, Park Won-soon, as novas estatísticas são consequência dos casos de infecção em Itaewon, um dos distritos de vida noturna mais movimentados da cidade. Quase 20 contaminações estariam relacionadas a um homem de 29 anos que testou positivo para o Sars-CoV-2 depois de passar algum tempo em cinco nightclubs e bares no local. As autoridades de saúde calculam que 7,2 mil pessoas visitaram os locais identificados, e pedem que elas se apresentem, voluntariamente, para exames.

“O descuido pode levar a uma explosão de infecções”, afirmou o prefeito de Seul, Park Won-soon, antes de informar que a o fechamento de bares e boates seguirá em vigor por tempo indeterminado.

“Isso não vai terminar até que realmente chegue ao fim”, disse, ontem, o presidente sul-coreano, Moon Jae-in. De acordo com ele, os novos casos de contaminação mostram que, mesmo durante a fase de estabilização, situações similares podem surgir novamente a qualquer momento. “Estamos em uma guerra prolongada. Peço a todos que colaborem com as medidas preventivas e as regras, até que a situação tenha acabado”, insistiu o presidente.

Preparação

No início do mês, o chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Europa, Hans Kluge, alertou que o mundo deve se preparar para uma segunda ou terceira onda do coronavírus. “A covid-19 não vai desaparecer tão cedo (…). Se a primeira onda desaparecer, temos que nos preparar para uma segunda ou terceira onda, especialmente se não houver uma vacina. Isso exigirá a colaboração de todos”, destacou Kluge.

Modelos epidemiológicos sugeriram que, se as medidas de isolamento social na China tivessem sido mantidas até junho, seria possível adiar os novos surtos para o fim de outubro. Contudo, o país começou a abertura gradual ainda em abril. No sábado, o governo anunciou que estuda regras para o retorno das atividades de cinemas e academias. No mesmo dia, Pequim admitiu que a covid-19 revelou “lacunas” no sistema de saúde e de prevenção de doenças infecciosas.

Ontem, com os 14 novos casos, o país registrou, pela primeira vez desde 1º de maio, um aumento de dois dígitos no número de contaminações em um único dia. A maioria dos diagnósticos ocorreu em Shulan, no nordeste chinês. A cidade foi colocada em quarentena.

Com o registro em Wuhan, a China elevou o nível de risco epidemiológico na grande metrópole localizada no centro do país. A capital da província de Hubei foi particularmente afetada pelo Sars-CoV-2 desde o primeiro caso, no fim de novembro passado. Por mais de dois meses, o epicentro da epidemia chinesa foi mantido em confinamento estrito.

Desde o fim da quarentena, em 8 de abril, quando as atividades começaram a ser retomadas progressivamente, o nível de risco era pequeno. Agora, passou para médio. Segundo a Comissão Nacional de Saúde, o mais recente infectado é um homem de 89 anos, que mora no distrito de Dongxihu, ao noroeste de Wuhan.

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Desconfinamento na Inglaterra

11/05/2020

 

 

Duramente criticado por adotar restrições mais tarde que seus grandes vizinhos europeus, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, apresentou, ontem, um plano de reabertura progressiva no país com maior número de mortes pela covid-19  (31 mil) do continente — e segundo do mundo, atrás dos Estados Unidos. Diante das sérias consequências econômicas da quarentena — o Banco da Inglaterra prevê queda de 14% no PIB —, o governo decidiu convocar setores como construção e indústria a retomar o trabalho a partir de hoje.

Na quarta-feira, as pessoas também serão incentivadas a fazer exercícios ilimitados ao ar livre, tomar sol, dirigir para destinos afastados e até jogar em equipes, disse Johnson. No fim de semana, os grandes parques de Londres foram palco da multiplicação de piqueniques e outras atividades ainda não autorizadas. Na sexta-feira, as ruas ficaram agitadas, com as comemorações do 75º aniversário da rendição dos nazistas no final da Segunda Guerra Mundial, com pequenas festas entre vizinhos que tentavam manter o distanciamento.

Multas

Por outro lado, o primeiro-ministro anunciou que as multas serão aumentadas para quem desrespeitar as regras. Boris Johnson também afirmou que, “se houver problemas, não hesitaremos em colocar os freios no desconfinamento”.

Em uma segunda fase, provavelmente em 1º de junho, lojas e escolas primárias poderão reabrir. Para julho, espera-se que locais públicos, como cafés e restaurantes que respeitem a distância, retomem as atividades.

As medidas anunciadas ontem, no entanto, aplicam-se apenas à Inglaterra, pois as nações autônomas da Escócia, Gales e Irlanda do Norte determinam, por conta própria, a flexibilização. A reabertura gradativa será baseada em um sistema de alerta com cinco níveis, similar ao que existe para a ameaça terrorista, que informará ao país sobre a evolução da pandemia. “No momento, acreditamos que o país está no nível quatro de uma escala até cinco”, afirmou o ministro do Governo Local e da Habitação, Robert Jenrick.