Correio braziliense, n. 20807 , 11/05/2020. Política, p.3

 

Certeza sobre a reeleição

Ingrid Soares

11/05/2020

 

 

PODER » Respondendo a um apoiador que o indagou sobre a hipótese de sofrer impeachment, Bolsonaro diz que deixa a Presidência em 1º de janeiro de 2027. Confirma o que os críticos vêm dizendo: ele está mais preocupado com outro mandato do que com a pandemia

O presidente Jair Bolsonaro afirmou a apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada, ontem, que sairá da cadeira da Presidência apenas no dia 1º de janeiro de 2027. A resposta foi depois de ele ser questionado sobre eventuais pedidos de impeachmentou de renúncia, deixando claro que já pensa na reeleição, apesar de nem sequer ter chegado à metade do mandato.

Depois do passeio de jet ski, sábado, no mesmo dia em que a barreira dos 10 mil mortos pela covid-19 foi rompida, ontem Bolsonaro participou do “chá de revelação” promovido pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) — fografado segurando uma arma — e a nora, Heloisa Wolf Bolsonaro. Ficou sabendo que será avô de uma menina.

Na retorno das comemorações, o presidente parou para falar com simpatizantes, mas não concedeu entrevistas. Foi quando um dos visitantes disse ao chefe do Executivo: “A renúncia sai? A democracia pede sua renúncia ou impeachment”. Bolsonaro mostrou-se surpreso com a indagação. “Eu vou sair dia 1º de janeiro de 2027”.

Ele voltou a dizer que, hoje, aumentará a lista de atividades tidas como essenciais. “Devo botar mais algumas profissões como essenciais. Já que não querem abrir, eu vou eu é abrir”, afirmou.

Bolsonaro comentou sobre a sanção ao projeto que prevê o congelamento do aumento do salário de servidores públicos. A previsão é de que ocorra hoje. “Pelo que o Paulo Guedes me disse, a questão do ajuste da economia, amanhã (hoje) a gente sanciona o projeto com veto, e está resolvida a parte dele”, salientou.

Mais cedo, Bolsonaro alfinetou governadores e criticou as medidas de restrição impostas por eles como estratégia de combate ao novo coronavírus. Em um vídeo postado nas redes sociais, um policial aparece fiscalizando usuários de ônibus em um município do Maranhão, por conta do decreto que prevê a circulação apenas de trabalhadores de serviços essenciais. “O chefe de família deve ficar em casa passando fome com sua família. Milhões já estão sentindo como é viver na Venezuela”, escreveu Bolsonaro, na legenda do vídeo.

Jornalistas

O clima de hostilidade pelos apoiadores de Bolsonaro contra os jornalistas que cobrem o Palácio da Alvorada está cada vez mais acirrado. Na manhã de ontem, dois simpatizantes, vestidos de verde e amarelo, reviraram o lixo deixado pelos profissionais da imprensa no local.

Os dois remexiam os sacos e filmavam as notas fiscais, com nome e CPF dos repórteres que cobrem o presidente, para dizer que foram os jornalistas que sujaram o local. No vídeo, um dos homens acusava os repórteres de serem “porcos e sujos”.

“Querendo ou não, isso é um descaso com meu dinheiro, com o seu dinheiro. Porque isso tudo aqui é sustentado com o dinheiro dos nossos impostos. É por isso que, quando falam que essa mídia é porca e suja, é nos dois sentidos. Eu pensei que fosse só em um, mas é, literalmente, também”, apontou um dos homens.

Outra polêmica foi com relação a um vídeo, postado no Twitter oficial da Secretaria de Comunicação, na qual houve quem enxergasse que os dizeres remetiam aos pórticos dos campos de concentração nazistas. A publicação termina com os seguintes frases: “O trabalho, a união e a verdade nos libertará. Juntos, vamos seguir fazendo deste grande país uma grande nação”. Nas redes sociais, muitos enxergaram conexões com a expressão “Arbeit Macht Frei”, que ornava a entrada de Auschwitz e que quer dizer “O trabalho te liberta”.