Correio braziliense, n. 20804 , 08/05/2020. Negócios, p.9

 

Crise encosta o dólar nos R$ 6,00

Rosana Hessel

08/05/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Moeda americana mantém a marcha de subida, fechando a R$ 5,84. De acordo com analistas, só não cruzou uma nova barreira porque Bolsonaro voltou a ficar ao lado de Paulo Guedes, depois de ter dado aval ao reajuste dos servidores, contrariando o ministro

A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) encerrou o dia com nova queda em meio ao aumento dos impactos da crise política e da saúde no mercado financeiro, e com o dólar batendo novo recorde, de R$ 5,843, registrando alta de 2,44% sobre a véspera. Após o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, reduzir a taxa básica de juros (Selic) de 3,75% para 3% ao ano, na quarta-feira, o mercado resolveu apostar em nova alta da moeda americana, que sinaliza que pode chegar a R$ 6 nos próximos dias — em mais um teste para ver se o BC voltaria a vender reservas internacionais.

“A barreira dos R$ 6,00 só não foi testada hoje (ontem) porque o presidente Jair Bolsonaro afirmou que vai acatar a determinação de Paulo Guedes sobre o veto ao reajuste dos servidores públicos, demonstrando que o ministro ainda tem voz ativa no governo”, lembrou o economista Rafael Ribeiro, da Clear Corretora. “A briga política entre os Três Poderes só atrapalha a economia e o mercado financeiro, mas ainda não dá para saber onde o dólar vai parar. Só sei que a tendência é de alta”, afirmou Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

Alexandre Espírito Santo, economista da Órama, reforçou que a expectativa da Bolsa é de continuar nesse sobe e desce, devido à piora no panorama econômico diante do agravamento da pandemia no país, e também ao aumento das tensões políticas. “O Banco Central foi bem claro ao considerar o cenário de riscos maiores ao fazer um corte maior do que o mercado esperava. Com a queda na Selic, a reação do câmbio é natural, porque o investidor estrangeiro vai continuar saindo do país. Não vai adiantar o BC vender swap cambial ou reservas, porque o país não está mais atrativo para esses investidores”, destacou.

A B3 voltou a cair, puxada pela queda nas ações de bancos, e encerrou o pregão de ontem com recuo de 1,20%, a 78.118 pontos. O Banco do Brasil informou uma queda de 20% no lucro do primeiro trimestre do ano, depois de Bradesco e Itaú Unibanco reportarem redução de mais de 40% na rentabilidade e aumento nas provisões para inadimplência. Os papéis das três instituições fecharam no vermelho hoje.

“Uma certeza é que, com a taxa de juros básica cada vez menor, pois o BC sinalizou que fará novo corte, a margem dos bancos deverá cair e o mercado está precificando”, avaliou Rebeca Nevares, sócia fundadora da Ellas’s Investimentos, assessoria financeira credenciada à XP Investimentos.