Valor econômico, v.21, n.4998, 12/05/2020. Brasil, p. A3

 

Crise agrava desmatamento na Amazônia, diz Salles

Cristiane Agostine

Carolina Freitas

12/05/2020

 

 

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou ontem que o desmatamento na região amazônica foi agravado por causa da pandemia de covid-19, que dificulta a atuação de agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para coibir a destruição da floresta. Salles minimizou a responsabilidade do atual governo sobre o crescimento das áreas devastadas e associou o problema às gestões anteriores. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados na sexta-feira, o desmatamento na Amazônia brasileira cresceu 64% em abril, em comparação com o mesmo mês de 2019.

"O que vemos é realmente o aumento do desmatamento, que foi agravado por esse problema da restrição da covid-19", disse Salles à imprensa. O ministro afirmou que é preciso "segurar" o percentual de crescimento do desmatamento e "trabalhar para que haja redução no ano que vem.

Salles participou do lançamento da "Operação Verde Brasil 2", uma nova operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para combater o desmatamento da Amazônia, anunciada pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Os servidores do Ibama deverão se reportar aos oficiais militares durante a GLO.

O desmatamento na Amazônia se agravou durante a pandemia. Em abril foram derrubados 406 km2, alta de 64% na comparação com o ano passado.

O ministro do Meio Ambiente, no entanto, disse que o crescimento das áreas desmatadas vem de governos anteriores e está acontecendo há pelo menos oito anos. "Como todos nós sabemos, ele [desmatamento] vem aumentando desde 2012 e essa curva de aumento é mais forte de 2018 para frente. Mas desde 2012 há o aumento do desmatamento", afirmou.

Ao tentar justificar o problema, Salles disse que, além da dificuldade de logística e de fiscalização e controle, os presidentes anteriores não deram "alternativa econômica" para que o desmatamento não ocorresse. "Nos últimos 20 anos, não houve a adoção de medidas que dessem uma alternativa econômica sustentável para a população que vive na Amazônia", declarou o ministro.

Até mesmo ao falar da falta de servidores do Ibama para atuar na região, Salles culpou as gestões anteriores e disse que Bolsonaro assumiu um governo com dificuldades econômicas, que não permitem a abertura de concurso para novos servidores para o instituto.

No evento, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, disse que a "manutenção da Amazônia é cara" e complicada, mas reclamou das críticas ao desmatamento no país. Segundo o ministro, "muitas vezes o mundo forja" uma visão sobre o Brasil "para nos colocar como vilões".

"A gente não pode aceitar essa pecha de vilões", afirmou. Heleno disse ainda que as outras nações derrubaram suas florestas e "talvez não conseguiriam" preservar a Amazônia Legal. "Agora querem ensinar a gente a preservar a Amazônia."

Responsável pelo Conselho da Amazônia, o vice-presidente da República disse que é preciso impedir as queimadas para o Brasil não continuar como alvo de críticas. "Não queremos que o Brasil seja colocado como o vilão do meio ambiente. Não somos isso. Queremos deixar claro compromisso com desenvolvimento sustentável da Amazônia", disse.

Mourão disse que as ações contra as práticas ilegais na Amazônia não podem ser sazonais, mas permanentes, e afirmou que o governo espera adequar índices de desmatamento à legislação, que permite 20% de desmatamento na Floresta Amazônica.

Mourão agradeceu governadores por colaborarem em operação para combate a crimes ambientais e afirmou que o uso das Forças Armadas nesse tipo de operação ambiental não é o ideal, mas "infelizmente" é o que o governo federal tem "para impedir ou limitar que ilegalidades continuem". Segundo o vice-presidente, a Operação Verde Brasil 2 deve durar 30 dias, podendo ser prorrogada.

"As Forças Armadas nesta operação não estão substituindo Ibama, ICMBio ou Funai", disse o vice-presidente. "Não podemos continuar a empregar indefinidamente as Forças Armadas em atividades de fiscalização. Precisamos recompor quadro do Ibama e do ICMBio, mas temos questões orçamentárias", afirmou. Mourão disse ainda que "seria bom" realocar funcionários de outros órgãos no Ibama e ICMBio. "Mas não podemos."

Durante a entrevista coletiva, Augusto Heleno foi questionado se prestará depoimento em inquérito que investiga declarações do ex-ministro Sergio Moro (Justiça), sobre interferência do presidente em ações da Polícia Federal. O ministro desconversou. "Não tenho que falar disso aqui", afirmou Heleno.