Correio braziliense, n. 20803 , 07/05/2020 Mundo, p.12

 

"Isso é pior do que Pearl Harbor ou o 11/9"

Rodrigo Craveiro

07/05/2020

 

 

Depois de minimizar o impacto da pandemia de covid-19 nos EUA, Donald Trump reconhece situação mais grave do que bombardeio do Japão e ataque da Al-Qaeda. Washington desiste de eliminar força-tarefa e reitera suspeita sobre a China

Depois de ameaçar pôr fim à força-tarefa de resposta ao novo coronavírus, no começo do próximo mês, o presidente Donald Trump desistiu da ideia e comparou a pandemia a duas das maiores tragédias da história dos Estados Unidos. “Este é, realmente, o pior ataque que já tivemos. É pior do que Pearl Harbor. É pior do que o World Trade Center. Nunca houve um ataque como este. E ele nunca deveria ter ocorrido”, afirmou o republicano, durante a assinatura da Proclamação em Honra do Dia Nacional dos Enfermeiros, no Salão Oval da Casa Branca. “(O ataque) Poderia ter sido contido na fonte. Poderia ter sido parado na China. Deveria ter sido parado na fonte, e não foi”, acrescentou. A declaração do magnata e a manutenção da força-tarefa marcam uma guinada na retórica presidencial, a pouco menos de seis meses das eleições. Também ontem, o governo Trump tornou a colocar a China sob suspeita em relação à origem da doença.

Em 10 de fevereiro passado, Trump disse que o novo coronavírus “milagrosamente” desapareceria em abril. Duas semanas depois, assegurou que a covid-19 estava “sob controle” nos EUA. A Casa Branca impulsionou, nos últimos dias, uma disputa contra governadores reticentes à retomada das atividades econômicas do país. “A força-tarefa tem feito um ótimo trabalho”, acrescentou, ao citar a fabricação de milhões de máscaras e a testagem de cidadãos — mais de 7,7 milhões de resultados de testes foram divulgados. “Eu não sabia o quão popular era esse grupo de trabalho”, ressaltou, ao revelar que a força-tarefa poderá ganhar mais dois ou três integrantes. “É muito apreciado pelo público.”

Até o fechamento desta edição, a covid-19 tinha matado 72.812 norte-americanos (30 vezes mais vítimas do que no bombardeio japonês a Pearl Harbor e 24 vezes mais do que os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001). O novo coronavírus infectou 1,2 milhão de cidadãos dos EUA. Vários modelos epidemiológicos sustentam que o número de óbitos no país deve chegar a 100 mil antes do início de junho.

Professor de medicina da Universidade Johns Hopkins e da Universidade Georgetown, Lawrence Gostin disse ao Correio que a pandemia de covid-19 “levou mais vidas em questão de meses do que em muitos anos da Guerra do Vietnã” (1955-1975). “Assim como Pearl Harbor, ela se transformou em crise nacional. Trump não tem escutado os conselhos dos cientistas. Ele ameaçou dissolver a força-tarefa de resposta à covid-19 e está politicamente tão motivado a reabrir o país que ignorou as recomendações da saúde pública”, explicou.

Para Gostin, Trump é o “responsável” pela epidemia da covid-19 nos EUA. “Ele teve várias semanas para se preparar e não deu uma orientação clara e consistente ao público. O governo não intensificou a testagem e o rastreamento de contatos de infectados, a fim de controlar a epidemia no país. Enquanto isso, o presidente atribuiu a culpa à China e à Organização Mundial da Saúde (OMS), quando, na verdade, é o seu próprio governo que deveria ser responsabilizado”, acrescentou.

Laboratório

Na última segunda-feira, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, anunciou que há “uma grande quantidade de evidências” de que o novo coronavírus saiu de um laboratório do Instituto de Virologia de Wuhan, na província de Hubei, região central da China. Ontem, o chefe da diplomacia de Washington alegou que “não tinha certeza” da culpabilidade chinesa, mas “evidência significativa”. “Não temos certeza, mas há evidência significativa de que isto veio do laboratório. Estas duas afirmações podem ser verdadeiras. (…) O povo americano ainda está em risco porque não sabemos se começou no laboratório ou se começou em outro lugar. Existe uma maneira fácil de encontrar a resposta para isso: transparência, abertura, o tipo de coisa que as nações fazem quando realmente querem fazer parte da solução para uma pandemia global.”

A televisão estatal chinesa classificou as acusações como “insanas”, enquanto a OMS as tachou de “especulativas”, sob a falta de provas. “O senhor Pompeo se expressou em várias ocasiões, mas não pode apresentar provas”, disse a porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Hua Chunying. “E por quê? Porque não há nenhuma.”

Surpresa em ataque japonês

Data: 7 de dezembro de 1941

Local: Base naval de Pearl Harbor, Oahu, Havaí

Horário: 8h (início, hora local)

Mortos: 2.403 (2.335 militares e 68 civis)

Uma ofensiva militar do Japão à base de Pearl Harbor, no Havaí, forçou os Estados Unidos a entrarem na Segunda Guerra Mundial, no dia seguinte. Durante o bombardeio com 353 aviões japoneses, os EUA perderam 8 navios de guerra, 8 cruzadores, 30 destróieres, 4 submarinos, 47 outros navios e 390 aeronaves.

Atentado terrorista nos EUA

Data: 11 de setembro de 2001

Local: World Trade Center (Nova York) e Pentágono (Washington)

Horário: 8h46 (início, hora local)

Mortos: 2.977

Um comando de 19 terroristas islâmicos da rede Al-Qaeda sequestrou quatro aviões comerciais e os utilizou para ataques suicidas. Duas aeronaves foram lançadas contra as Torres Gêmeas do World Trade Center, que desabaram pouco depois, em Manhattan. Um terceiro avião atingiu o Pentágono, na capital. Outro caiu em Shanksville, na Pensilvânia.

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Alemanha vai retomar liga de futebol

07/05/2020

 

 

O governo alemão autorizou a retomada do Campeonato Alemão de futebol, com portões fechados. A primeira e a segunda divisões voltarão a ser disputadas em 15 de maio. Mais de dois meses após a suspensão das competições devido à pandemia do coronavírus, a Bundesliga será a primeira das grandes ligas de futebol da Europa a retomar a competição, cumprindo uma série de protocolos de proteção. “A Bundesliga pode voltar a partir da segunda metade de maio, respeitando as regras que foram combinadas”, declarou a chanceler alemã, Angela Merkel, ao se reunir com autoridades dos Estados federados em que foram abordadas as medidas de confinamento.

A Alemanha trilha, assim, um novo caminho para as ligas europeias. A França suspendeu definitivamente sua temporada na semana passada, enquanto Inglaterra, Espanha e Itália aguardam, na melhor das hipóteses, voltar a jogar em junho. Outros países com ligas menos poderosas fixaram datas para o reinício de suas competições, entre elas, Ilhas Faroe (9 de maio), Sérvia (30 de maio) e Turquia (12 de junho). O Bayern de Munique liderava o Campeonato Alemão no momento da suspensão dos jogos, após a 25ª rodada, com quatro pontos de vantagem sobre o Borussia Dortmund.

O país deu mais um passo, ontem, no plano de desconfinamento, com a reabertura de todas as lojas e escolas. “Os dados mais recentes” sobre a evolução da pandemia do novo coronavírus “são muito satisfatórios”, disse Merkel. “Portanto, chegamos a um ponto em que podemos dizer que atingimos o objetivo de retardar a propagação do vírus.”

A Alemanha planeja suspender quase todas as restrições impostas em meados de março para conter a disseminação de covid-19, com a exceção do fechamento das fronteiras e da proibição de grandes eventos esportivos ou culturais com a presença de público. O plano também prevê a reabertura, a partir da próxima semana, de todas as lojas, incluindo aquelas com áreas superiores a 800 metros quadrados, que até agora permaneciam fechadas, e de todas as escolas. Isso afeta escolas primárias e jardins de infância. Restaurantes e hotéis também vão poder abrir a partir da próxima semana, dependendo da região.