O Estado de São Paulo, n.46203, 17/04/2020. Política, p.A4

 

Bolsonaro tira Mandetta e anuncia Teich na Saúde

17/04/2020

 

 

Presidente demite ministro da Saúde e escolhe oncologista como novo titular da pasta; logo depois, ataca Rodrigo Maia (DEM), insinuando que o parlamentar trama contra seu governo

Desafio. Bolsonaro e Nelson Teich, que assume o Ministério da Saúde antes do pico das infecções e da possível sobrecarga do sistema de saúde

O presidente Jair Bolsonaro demitiu ontem o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e anunciou o oncologista Nelson Teich como novo titular da pasta. A mudança ocorre após semanas de desavenças entre o presidente e seu auxiliar em torno da diretriz das políticas públicas de combate à pandemia do novo coronavírus. Apoiado pela Associação Médica Brasileira, Teich se reuniu com Bolsonaro antes de ser confirmado como novo ministro e disse que “existe um alinhamento completo” entre ele e o presidente. Afirmou que não pretende fazer qualquer mudança brusca na política da pasta, mas indicou que não deverá contrariar a retórica de Bolsonaro em favor da flexibilização das medidas de isolamento social e da retomada do comércio e da atividade econômica. “Saúde e economia: as duas coisas não competem entre si.”

O novo ministro vai assumir o comando do ministério em um cenário de previsões negativas: o ponto mais alto da curva de infectados e de sobrecarga do sistema de saúde ainda está por vir.

Remanescente do Ministério original montado por Bolsonaro no início de seu governo, Mandetta foi exonerado 49 dias após o registro do primeiro caso do novo coronavírus no Brasil. Até ontem, em todo o País, o número de mortes de pessoas infectadas pela doença chegou a 1.924, com um total de 30.425 casos. Somente nas últimas 24 horas, foram 2.105 novos casos da covid-19 e 188 óbitos. O agora ex-ministro se despediu dos funcionários da pasta com um discurso emocionado, no qual afirmou: “Não tenham medo, não façam um milímetro do que acham que não deveriam fazer”.

O anúncio de sua demissão provocou panelaços no fim da tarde de ontem em bairros de São Paulo, Rio e Brasília. Com o semblante abatido e a fala pausada, Bolsonaro tratou a saída de Mandetta como um “divórcio consensual”, apesar das divergências públicas e da queda de braço que protagonizaram nos últimos dias. Após a demissão, ele confrontou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), insinuando que o parlamentar trama contra a sua gestão. “Ele quer atacar o governo federal, enfiar a faca. Parece que a intenção é me tirar do governo”, afirmou em entrevista à CNN.