O globo, n. 31637, 20/03/2020. Especial Coronavírus, p. 10

 

À distância, Mandetta reforça pedido de afastamento

Renata Mariz

André de Souza

Naira Trindade

20/03/2020

 

 

Governo adota novo espaçamento entre autoridades em entrevistas; comitiva presidencial aos EUA já tem 18 contaminados

 Um dia depois de dar entrevista no Palácio do Planalto sentado próximo do presidente Jair Bolsonaro e de outros colegas de Esplanada, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, manteve distanciamento maior de outras autoridades ontem. Em entrevista coletiva no Ministério da Saúde, cada um dos participantes foi separado por uma cadeira vazia, que criou um afastamento físico entre eles.

Além do exemplo, Mandetta ressaltou a importância desse afastamento: explicou que é preciso manter uma distância de dois metros para evitar o risco de contágio.

—Dois metros de distância de uma pessoa para a outra. Essa é a recomendação atual de distância social, porque quando você fala, a gotícula, mesmo que você não veja, sai —disse Mandetta.

O ministro destacou que o vírus pode permanecer no local por algum tempo:

—Quando eu falo aqui, cai em cima dessa mesa. Eu saio e o pessoal tem que passar álcool na mesa.

As coletivas no Ministério da Saúde têm sido virtuais, como medida de enfrentamento ao novo coronavírus. Apenas os cinegrafistas são permitidos. Os repórteres enviam perguntas por meio do WhatsApp.

O governo ainda tenta lidar com o desgaste causado pelas posturas consideradas equivocadas na condução da crise. Quatro dias após a ida do presidente Jair Bolsonaro a uma manifestação, desobedecendo as recomendações de se manter em isolamento devido à pandemia do novo coronavírus, no Palácio do Planalto a avaliação é de que a alta adesão ao panelaço contra Bolsonaro na noite de quarta-feira foi um “efeito rebote”. Monitoramento interno do governo das redes sociais de Bolsonaro mostra que o presidente vem perdendo apoio desde domingo.

Numa tentativa de reagir ao desgaste, Bolsonaro convocou a coletiva com seus ministros na quarta-feira. Há no governo um temor de que a popularidade do presidente sofra uma queda nos próximos meses. A orientação no momento é para que ele se distancie da ala ideológica, deixando-a sob comando de seus filhos.

Ontem, o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Sergio Segovia, recebeu o resultado positivo para o novo coronavírus. Ele é o 18º integrante da comitiva do presidente Jair Bolsonaro que retornou dos Estados Unidos na semana passada a contrair a doença.

O senador Nelsinho Trad (PSD-MS), também infectado, está internado no hospital Sírio-Libanês de Brasília, em estado estável. Já o presidente da Casa, Davi Alcolumbre, passou a noite de quarta-feira no mesmo hospital, mas recebeu alta na manhã de ontem.