Valor econômico, v.20, n.4975, 04/04/2020. Política, p. A8

 

Weintraub diz que nova epidemia deve surgir na China

Daniel Rittner

04/04/2020

 

 

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse ontem que considera alta a probabilidade de uma nova epidemia surgir na China, durante os próximos dez anos, porque os chineses comem “tudo o que o sol ilumina” e não são como os brasileiros, que “criam porco no chiqueiro”.

Ele foi convidado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, a participar de uma live em suas redes sociais. Eduardo esteve no centro de um entrevero diplomático envolvendo o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, que cobrou pedido de desculpas do parlamentar por ter chamado o coronavírus de “vírus chinês”.

“Eu discordo de você que este é o vírus chinês. É um vírus chinês”, comentou Weintraub com o filho do presidente. Segundo ele, nos últimos anos, foram quatro epidemias - e todas vindas da China. “Eu até fui estudar isso no passado porque afeta o mercado financeiro”.

O ministro, então, apresentou seu raciocínio: quando um parasita chega a um grupo novo, vem descalibrado de outra espécie animal e se torna mais forte. Na China, acrescentou Weintraub, os animais ficam mais expostos e em contato com humanos: “Isso que você vê no YouTube não é fantasia, é realidade. Quando você entra em um mercado de Hong Kong, tem um monte de bicho vivo”.

“Porco, aqui [no Brasil], a gente cria no chiqueiro. A população está quase toda urbanizada. Não cria frango e porco em casa”, comparou. Lembrando que já estudou na China e foi o único ocidental de sua turma a ter recebido nome em mandarim como homenagem, Weintraub contou que seus amigos chineses lhe explicaram sobre os hábitos alimentares locais: “A gente come tudo o que o sol ilumina. E às vezes, o que o sol não ilumina, também come”.

“Nos próximos dez anos vem outra doença dessas da China?”, perguntou o ministro, para responder imediatamente em seguida: “A probabilidade é bem alta. Eles não vão mudar os hábitos deles”.

Na live, Weintraub manifestou discordância com o isolamento social da mesma forma e ao mesmo tempo de cidades de portes diferentes e com estágios distintos no estágio da pandemia, como as grandes capitais e, por exemplo, Sorocaba (SP) ou Poços de Caldas (MG).

Para ele, o “outro lado está possuído” e tenta usar a pandemia politicamente. Um efeito colateral do avanço do coronavírus, segundo o ministro, é que “um monte de partideco de esquerda” já começou a “botar pilha” contra a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Se não tiver Enem, você desmobiliza, quebra a expectativa de cinco milhões de famílias”.

“Quando você não tem expectativa, é facilmente cooptado. Como eles [governos de esquerda] destruíram a economia, um monte de pessoas, como eu, se mobilizou. Agora eles tentam quebrar expectativas e mostrar para as pessoas que o destino é sombrio”.

Eduardo fez uma avaliação de que querem “colocar na conta do presidente” todos os reflexos negativos da pandemia, seja para retirá-lo do Palácio do Planalto, seja para enfraquecê-lo até 2022. Sobre o coronavírus, o deputado cortou rapidamente Weintraub quando o ministro disse que a gripe espanhola veio do porco: “Não pode falar em espanhol não porque é racismo, hein?”.