Correio braziliense, n. 20793 , 27/04/2020. Cidades, p.20

 

Aulas sem data para retorno

Mariana Machado

27/04/2020

 

 

CORONA VÍRUS » Governador usou as redes sociais para afirmar que não há previsão para que os alunos voltem às instituições de ensino. Decreto determinou o fechamento das escolas até 31 de maio devido ao coronavírus

Em mais um capítulo da polêmica sobre a reabertura ou não das escolas do Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha (MDB) usou as redes sociais para se pronunciar, e afirmou que não há previsão para a retomada das atividades dentro das instituições de ensino. Em uma publicação no Instagram e Facebook, o chefe do Executivo local informa que as secretarias de Educação e Saúde analisam de que forma poderá ser feita a volta às aulas. “Não há data prevista. O importante é ter segurança e responsabilidade para salvar vidas”, diz o comunicado. Em 12 de março, o Governo do Distrito Federal (GDF) publicou, no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF), decreto determinando a suspensão das aulas nas redes pública e privada de ensino. O prazo, até o momento, é de que as escolas permaneçam com os portões fechados até 31 de maio.

O secretário de Educação, João Pedro Ferraz, contudo, havia informado a possibilidade de retorno dos alunos às salas de aulas em meados de maio. Em entrevista ao Correio, o titular da pasta deu detalhes sobre como isso será feito. Segundo ele, os estudantes precisarão seguir regras de proteção. O órgão irá adquirir equipamentos, como novos lavatórios e termômetros para medir a temperatura dos alunos. Quem tiver febre será enviado de volta para casa. O secretário, também, participou de uma live sobre o plano de retomada gradual, e afirmou que o ano letivo de 2020 será concluído até o fim deste ano.

Em nota oficial, a Secretaria de Educação informou que está mantida a previsão de reabertura em 31 de maio. “Para isso, a pasta precisa de informações relacionadas às condições de saúde dos servidores a fim de tomar todas as medidas cabíveis com relação aos profissionais que estão no grupo de risco.”

Dias antes, Ibaneis havia se reunido com o presidente da República, Jair Bolsonaro, para debater a reabertura dos colégios cívico-militares, possibilidade que não agradou aos pais. Uma petição on-line reúne, até o momento, mais de 19 mil assinaturas de pessoas insatisfeitas, pedindo a manutenção da quarentena. O receio é de que, com a aglomeração de crianças e adolescentes nas escolas, muitos acabem contraindo a Covid-19.

Novos casos

Até o fechamento desta edição, o Distrito Federal acumulava 1.253 casos de coronavírus, dos quais 682 pacientes haviam se recuperado. Ontem, mais 105 brasilienses receberam o diagnóstico da doença. Homens continuam sendo maioria, com 712 infectados, contra 413 mulheres. A faixa etária em que o vírus tem mais incidência é em pessoas entre 30 e 39 anos, sendo 27,53% do total das ocorrências.

O Plano Piloto continua sendo a região administrativa mais atingida, com 207 diagnósticos da Covid-19, seguido de Águas Claras (97), e Lago Sul (67). Até sábado, o Varjão não tinha nenhum morador infectado mas, agora, há um registro. Apenas Fercal não tem nenhum morador com a confirmação da doença. Enquanto isso, cresce a transmissão dentro do sistema carcerário, com 161 infectados.

No sábado, o DF chegou ao número de 27 mortes por coronavírus, após o falecimento da professora aposentada Celina Xavier Gontijo, 63 anos. Moradora de Águas Claras, ela esteve internada por 25 dias, na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital das Forças Armadas (HFA). A Secretaria de Saúde divulgou que a paciente tinha distúrbios metabólicos, o que foi negado pela família.

Em nota oficial, o órgão informou que, em função do sigilo do prontuário, não pode detalhar a comorbidade. “Minha mãe não tinha nenhum problema de saúde. Ela era muito saudável”, afirma a bancária Camila Gontijo, 39 anos. Ela conta que os primeiros sintomas apareceram em 21 de março, quando a mãe apresentou coriza. Uma semana depois, teve febre baixa — 37,5 ºC —, o que acendeu o sinal de alerta. “Pensamos que fosse uma sinusite e ficamos com medo dela ir imediatamente ao hospital. Contudo, como ela começou a ter muito cansaço e fadiga, insistimos para que fosse.”

Celina deu entrada no hospital em 31 de março, e logo foi internada na UTI. “Do momento que ela foi entubada, não apresentou nenhuma melhora significativa. Por isso, se eu puder deixar uma mensagem para as famílias, é para que cuidem uns dos outros”, destaca. Camila reforça a importância do isolamento. “Ficar em casa não é muito bom, ninguém gosta, mas é a única forma de preservar quem se ama. É a maior prova de amor que a gente pode dar para os nossos vizinhos, filhos, netos mas, principalmente, pais e avós.”

Por região

Veja quais as cinco regiões com mais casos de Covid-19 no DF

Plano Piloto       207

Águas Claras        97

Lago Sul               67

Guará                   56

Ceilândia             48

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Brasilienses relatam demora no pagamento

Thais Umbelino

27/04/2020

 

 

O pagamento do auxílio emergencial, renda básica no valor R$ 600 a trabalhadores informais, autônomos e sem renda fixa, durante a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus tem gerado expectativas para quem necessita do coronavoucher. As contas continuam a chegar, e muitas pessoas estão impedidas de trabalhar devido à quarentena. Muitos profissionais receberam a confirmação do benefício, mas depois de aprovado, quanto tempo leva para receber o Auxílio Emergencial? A demora na aprovação ou falta de informações sobre o andamento do processo são as principais reclamações dos moradores da capital.

Os dias têm sido difíceis para Synara Ligia Mendes, 31 anos. A autônoma depende da solidariedade das pessoas para conseguir se manter durante a pandemia. “Estou recém-operada de cesárea, e dependo de remédios para cuidar da minha saúde. Além disso, os gastos com o recém-nascido são muitos e, ainda, tenho uma filha de 2 anos”, relata a cozinheira. “As contas estão atrasadas, e meu marido teve que deixar a nossa única fonte de renda para poder me ajudar por causa dos meus problemas de saúde. A gente vive sem saber como será o dia de amanhã”, desabafa Synara. Apesar de ter o benefício aprovado no aplicativo desde 14 de abril, a autônoma não recebeu o valor na conta dela. “Tentei ligar no 111 e nada. A ligação cai ou diz que o número é inexistente. Na Caixa eles falam que não resolvem nada pessoalmente, e aconselham o cliente a desinstalar e reinstalar o aplicativo. Mas também não funciona”, reclama.

No site oficial, o banco explica que o crédito será automático para os beneficiários do Bolsa Família, conforme o calendário de pagamentos do programa, sendo duas parcelas no mês de abril e uma no mês de maio. Já para os cidadãos inscritos no Cadastro Único, que não estão no Bolsa Família, o pagamento começou a ser feito em 9 de abril, e seguirá cronograma conforme mês do nascimento do beneficiário. Segundo a Caixa, os brasileiros que fizeram o cadastramento por meio do site ou aplicativo Auxílio Emergencial vão receber o benefício após 3 dias da validação dos dados pelo Governo Federal, por meio da Dataprev.

Ao Correio, a instituição financeira informou, por meio de nota oficial, que cerca de 75 milhões de brasileiros receberam a resposta sobre o Auxílio Emergencial após análise. De acordo com o banco, a consulta está disponível no aplicativo Caixa Auxílio Emergencial, no site auxilio.caixa.gov.br ou da central telefônica exclusiva 111. Até sábado, o programa havia creditado mais de R$ 26 bilhões para 37,2 milhões de pessoas no país inteiro. “A Caixa pagará, ainda, até 30 de abril, mais R$ 6,1 bilhões, para, aproximadamente, 7,7 milhões de brasileiros”, conclui o texto.

Beneficiados

A renda amparou Luciene Canhizares, 41, e a mãe Clorinda Canhizares, 61. “Meu cadastro único estava desatualizado, então fiquei na dúvida se o benefício ia cair. Baixei o aplicativo e preenchi dados básicos como nome, data de nascimento, CPF e nome da mãe. Depois de 5 dias, apareceu que estava em análise, e a situação permaneceu até dia 14. Depois, depositaram na conta”, diz. Mas a autônoma só descobriu o depósito seis dias depois. “Como não avisaram nada, eu ficava olhando no aplicativo”, relata.

No início da pandemia, o negócio da vendedora foi prejudicado. “Eu e minha mãe vendemos dindin na porta de uma escola no Guará. Com o decreto ficamos sem ter aonde ir”, conta. A ajuda e a solidariedade dos clientes foram essenciais para mãe e filha. “E agora, como nós duas recebemos o benefício, vamos conseguir colocar todas as contas em dia”, comemora Luciene.

Quem tem direito?

Pelas regras em vigor da nova lei, terão direito a receber a renda básica as pessoas que atendam, de forma conjunta, aos seguintes critérios:

Ser maior de 18 anos de idade;

Não ter emprego formal ativo;

Não seja titular de benefício previdenciário ou assistencial, de seguro-desemprego ou de programa de transferência de renda federal, com exceção do Bolsa Família;

Ter renda familiar mensal per capita de até meio salário mínimo ou a renda familiar mensal total seja de até três salários mínimos;

Não ter recebido rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70.

Além disso, o beneficiário tem que se encaixar em um dos três perfis:

Ser microempreendedor individual (MEI);

Ser contribuinte individual do INSS (Instututo Nacional do Seguro Social);

Ser trabalhador informal, autônomo ou desempregado, de qualquer natureza, inclusive o intermitente inativo, inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) até 20 de março de 2020 ou que cumpra, nos termos de autodeclaração, o requisito de renda mensal per capita de até meio salário mínimo ou renda familiar mensal de até três salários mínimos.

O auxílio emergencial, segundo a lei, vai substituir o benefício do Bolsa Família nas situações em que for mais vantajoso, de forma automática. A mulher provedora em uma família monoparental, ou seja, sem a presença de um pai, receberá duas cotas do auxílio de R$ 600.

Serão pagas três parcelas de R$ 600,00, duas em abril e a última em maio, para até duas pessoas dentro da mesma família. O calendário de pagamento pode ser conferido no dite www.auxilio.caixa.gov.br.