Valor econômico, v.20, n.4978, 10/04/2020. Política, p. A9

 

Militares no governo reforçam apoio a Bolsonaro

Cristiane Agostine

10/04/2020

 

 

Acusados de "tutelarem" Jair Bolsonaro, militares que participam do governo federal reforçaram ontem que estão ao lado do presidente da República. O vice-presidente Hamilton Mourão usou as redes sociais para afirmar que está no "mesmo passo" do presidente, apesar de ser alvo de críticas do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Na sequência das declarações de Mourão, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Fernando Ramos, disse que está em sintonia com Bolsonaro, assim como os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e o ex-ministro e presidente dos Correios, Floriano Peixoto - todos integrantes das Forças Armadas ou com passagem pelo Exército.

Mourão usou o Twitter para divulgar que está alinhado com o presidente, apesar de divergências sobre as medidas de isolamento social para conter a disseminação do novo coronavírus pelo país. "Aos aventureiros de muitos costados que nesta hora de dificuldades pretendem inviabilizar o governo, lembro que sou o vice do presidente Jair Bolsonaro e que os paraquedistas andam sempre no mesmo passo", afirmou o vice-presidente pela rede social, lembrando da atuação dele e de Bolsonaro no Exército. "O Brasil vencerá o covid-19 [sic] como venceu todas as guerras de sua história".

Horas depois da publicação de Mourão, o ministro da Secretaria de Governo também escreveu no Twitter. "Só lembrando também que existem mais paraquedistas ao lado do nosso presidente Bolsonaro: ministro [Augusto] Heleno, ministro Fernando [Azevedo e Silva], General Floriano Peixoto e ministro [Luiz Eduardo] Ramos! Paraquedistas são como Águias, aves da mesma plumagem que voam juntas e enfrentam qualquer desafio! Vamos vencer o Covid-19 [sic]!!", disse Ramos.

Assim como o vice-presidente, militares têm defendido a quarentena para minimizar os efeitos da pandemia do coronavírus. Mourão disse que o isolamento social deveria ser mantido durante abril, quando está previsto o pico de casos da doença. Já o presidente é crítico das medidas de distanciamento social e tem se isolado dentro dó próprio governo por defender a retomada imediata das atividades econômicas.

Mourão e militares têm atuado como "bombeiros" no governo federal, para minimizar as crises abertas por Bolsonaro e o isolamento do presidente. A última polêmica do presidente foi a quase demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta na segunda-feira, revertida por pressão dos militares, do Congresso e de empresários. Ao atacar publicamente o ministro da Saúde e ameaçá-lo de demissão, o presidente desgastou-se ainda mais nesta semana.

Depois da publicação feita pelo ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente e integrante do chamado "gabinete do ódio" do Palácio do Planalto, usou as redes sociais para dar um recado indireto aos militares. "O Presidente se mostra novamente um Líder! Conduz mais um problema contra 'tudo' e 'todos', com inteligência e visão de ÁGUIA. Então os URUBUS surgem dos esgotos e se vangloriam, quando antes não davam um pio de apoio enquanto as hienas pretendiam novamente matá-lo covardemente", escreveu Carlos no Twitter.

O filho do presidente tem usado as redes sociais para questionar as ações de Mourão. Apoiadores do presidente têm divulgado que o vice-presidente estaria articulando a saída de Bolsonaro.

O motivo das críticas mais recentes de Carlos foi a reunião do vice-presidente com governadores da Amazônia Legal, entre eles o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).

"O que leva o vice-presidente da República se reunir com o maior opositor SOCIALISTA do governo, que se mostra diariamente com atitudes totalmente na contramão de seu Presidente?", afirmou Carlos na rede social, reproduzindo uma afirmação feita por Dino, de que a reunião com Mourão foi marcada pelo "diálogo técnico, respeitoso e sensato". "Se Bolsonaro entregar o governo para ele [vice-presidente], o Brasil chegará em 2022 com melhores condições", afirmou o governador. Dino e lideranças da centro-esquerda defendem a renúncia de Bolsonaro.

Criticado por se reunir com Dino, o vice, no entanto, é o responsável pelo Conselho Nacional da Amazônia Legal e tem de dialogar com o governador do Maranhão, um dos Estados da Amazônia Legal.