O globo, n. 31659, 11/04/2020. Opinião, p. 2

 

Flexibilização do isolamento social quando casos crescem é temerária

11/04/2020

 

 

No momento em que sistema de saúde é posto à prova, governos e cidadãos relaxam quarentenas
Enquanto não se descobrir um remédio contra a eficácia científica comprovada, ou uma vacina, o isolamentos o cia léo que resta para tentar conter a transmissão do vírus. Tem sido assim no mundo inteiro. Mesmo cidades que relutaram em adotá-lo—etal vez os maiores exemplos sejam Milão e Nova York — tiveram de fazê-lo tardiamente, já em condições dramáticas. A epidemia que surgiu em Wuhan, na China, no fim de 2019, aportou no Brasil em fins de fevereiro. Ou seja, o país pôde antever uma situação que chegaria aqui inexoravelmente. O que lhe permitiu criar estratégias, como o isolamento social, para freara doença. Apesar das críticas do presidente Jair Bolsonaro ao isolamento, governadores e prefeitos adotaram medidas drásticas para reduzir o número de pessoas em circulação. Levantamentos mostram que em cidadesco moo Rio houve, num primeiro momento, redução de até 75% no fluxo de pessoas. Mas ainda há perigosas aglomerações, como nos transportes, em agências bancárias, nos calçadões, em comunidades etc. Além disso, pesquisas mostram que a adesão à quarentena vem caindo nos últimos dias. Em São Paulo, a taxa de isolamento, que estava em 57% (abaixo dos 70% desejáveis), caiu para 45%. Mesmo com as medidas de contenção, o número de casos e de mortes tem crescido de forma preocupante, e teme-se um colapso nos sistemas de saúde nas próximas semanas. Portanto, não há justificativa plausível para que se relaxem os isolamentos. Cada vez mais, pessoas que não estão em atividades essenciais precisam ficar em casa. Porém, no momento em que a situação se agrava começam a surgir propostas para afrouxar as quarentenas, o que é uma temeridade. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, quer flexibilizar o isolamento em estados e municípios que têm mais de 50% de leitos vagos. A questão é que esses números mudam rapidamente, e sabe-se que quase metade dos municípios brasileiros não tem leitos de internação pelo SUS e precisariam mandar pacientes para outros locais. No Rio, o governador Wilson Witzel flexibilizou o isolamento em municípios onde não há casos confirmados da doença—a decisão ficaria a critério dos prefeitos. Ora, está mais do que comprovado que não existem áreas imunes à expansão do novo coronavírus. As próximas semanas serão cruciais para o sistema de saúde de todo o país, pois é esperado aumento significativo no número de casos, e os gargalos da rede são conhecidos. Não é hora de se relaxar na contenção da doença. Ao contrário, mais (...)