O globo, n. 31663, 15/04/2020. Especial Coronavírus, p. 7

 

Bolsonaro reforça que está no comando da crise

15/04/2020

 

 

Em reunião, presidente diz que suas opiniões devem ser sempre levadas em consideração; Mandetta afirma estar ‘focado no trabalho’

ADRIANO MACHADO/REUTERSBolsonaro. Presidente chega ao Planalto: reunião para reforçar autoridade

 O presidente Jair Bolsonaro usou uma reunião com sua equipe ministerial para ressaltar que o comando a ser seguido pelo governo na crise do novo corona vírus é o seu. Ele fez questão de lembrar aos subordinados o fato de ter sido eleito para ocupar a cadeira de presidente da República. O recado veio dois dias depois de o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, dizer em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, que as divergências no discurso sobre o combate ao coronavírus “levam para o brasileiro uma dubiedade ”. Mandetta ficou calado no encontro e, em entrevista depois, disse estar “focado no trabalho”.

Na reunião interna, Bolsonaro deu seu recado em um discurso curto, no qual repetiu que precisa ter suas opiniões consideradas. A auxiliares mais próximos, o presidente relata especial incômodo porque o ministro da Saúde não teria sequer apresentado ao Palácio do Planalto os planos de sua pasta. Bolsonaro disse, mais de uma vez, que, mesmo que sua avaliação sobre a Covid-19 não seja a melhor, ele precisa ser ouvido.

O foco do debate entre os ministros foi a economia, principal preocupação do presidente. Paulo Guedes (Economia) destacou o volume de recursos injetado para combater os impactos da crise, enquanto a ministra Tereza Cristina (Agricultura) expôs sua preocupação com áreas afetadas com as paralisações, como os pequenos agricultores e também as floriculturas.

Em entrevista após a reunião, Mandetta foi questionado se suas declarações no domingo eram uma tentativa de “forçar uma demissão”, como avaliaram aliados do presidente.

— Não vejo nesse sentido. Acho que é mais uma questão sobre a comunicação, sobre como vamos comunicar. É no trabalho que a gente está focado —respondeu o ministro.

Na mesma entrevista, o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, que na semana passada teve vazado um áudio no qual defendia a saída do colega, disse prestar “apoio incondicional” a Bolsonaro e defendeu a necessidade de buscar equilíbrio entre o enfrentamento à doença e a economia.

— É importante todos nós, como sociedade, e particularmente os gestores municipais refletirem até onde o Brasil enfrenta essa enfermidade, e até onde vai o processo em que mais de 4.300 cidades brasileiras estão a milhares de quilômetros de um caso de coronavírus, e estão sem atividade econômica. Faço isso em caráter pessoal. Me sinto no dever de fazer essa alerta —disse Onyx.

Questionado se há sinergia no governo no combate ao novo coronavírus, o chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, citou a determinação para que todas as informações passem pelo centro de operações comandado pela pasta “para que não houvesse duplicidade de ações ou desperdícios de esforços”.

— Lógico que de vez em quando há um desencontro, isso é normal em uma crise desse volume, que tem mais de uma onda eque envolve diversos ministérios, com diversos interesses diferentes. Mas todos voltados para o bem do país —afirmou Braga Netto.

O presidente segue consultando aliados sobre a possibilidade de trocar o comando da pasta da Saúde. Como O GLOBO mostrou, os nomes mais cotados são os da cardiologista Ludhmila Hajjar, diretora de Ciência e Inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia, e de Claudio Lottenberg, presidente do Conselho do Hospital Israelita Albert Einstein.