O globo, n. 31664, 16/04/2020. Especial Coronavírus, p. 5

 

Em busca do cargo

Thais Arbex

Silvia Amorim

Naira Trindade

16/04/2020

 

 

Bolsonaro começa a receber cotados para comandar a saúde

 

REPRODUÇÃOOncologista. Nelson Teich será recebido hoje em Brasília

 Após o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, dar entrevista em tom de despedida, o presidente Jair Bolsonaro começará, na manhã de hoje, a receber cotados para assumir a pasta que lidera o combate ao coronavírus. O oncologista Nelson Teich será o primeiro e, amanhã, deverá ser a vez do presidente do Conselho do Hospital Israelita Albert Einstein, Claudio Lottenberg. Auxiliares têm aconselhado Bolsonaro a ouvir alguns médicos antes de escolher quem comandará a área. A diretora de ciência e inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Ludhmila Hajjar, é outro nome tido como forte.

Teich desembarcará em Brasília de manhã. Além do presidente, deve ter conversas com os ministros Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), além do senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente. O oncologista tem o apoio do secretário especial de Comunicação, Fabio Wajngarten, e do empresário Meyer Nigri, da construtora Tecnisa. A Associação Médica Brasileira também faz elogios ao oncologista, que é próximo do ministro da Economia, Paulo Guedes. Teich chegou a ser cotado para o posto em 2018, antes da escolha de Mandetta.

Em artigo publicado no último dia 5, como mostrou o colunista Lauro Jardim, Teich defendeu que, naquele momento, o chamado “isolamento horizontal”, quando só pessoas que atuam nos serviços essenciais seguem circulando nas ruas, era a melhor estratégia de combate à Covid-19 por permitir maior cuidado com os pacientes “e ganhar tempo para entender melhor a doença e para implantar medidas que permitam a retomada econômica do país”.

Há aliados do presidente que defendem outros nomes. Ludhmila Hajjar tem apoio do cirurgião Antonio Macedo, responsável pelas últimas cirurgias do presidente. Ela também tem o respaldo do procurador-geral da República, Augusto Aras. Aliados de Bolsonaro dizem que o presidente ficou empolgado com a história de uma das pacientes de Ludhmila Hajjar: Gina Dal Colleto, de 97 anos, que teve alta no domingo de Páscoa, após se curar da Covid-19. Em entrevista ao GLOBO anteontem, Hajjar defendeu a construção de uma “saída responsável” para o isolamento:

— Sou favorável ao isolamento como estratégia de contenção da doença. Mas precisa ser uma transição. Devemos iniciar estudos sérios e simulações para ofertar à população uma saída responsável, organizada do isolamento.

Outro nome mencionado é o de Claudio Lottenberg, presidente do Conselho do Hospital Israelita Albert Einstein. Ele, porém, teria perdido pontos nas últimas conversas por comandar o LIDE Saúde, do grupo empresarial fundado pelo governador de São Paulo, João Doria, desafeto de Bolsonaro. Lottenberg defende mais “criatividade” para a adoção de um isolamento que possa reduzir danos à economia. Ele afirma que só aceitaria eventual convite se o objetivo for realizar um trabalho de natureza técnica.

— Vou considerar se for convocação de natureza técnica e boa para o Brasil. Se tiver política, não sou a pessoa —afirmou ao GLOBO.

Também foi mencionado o nome de Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, como revelou a colunista Bela Megale. Ele tem relação próxima com Flávio Bolsonaro.