Valor econômico, v.20, n.4979, 13/04/2020. Brasil, p. A3

 

Benefíco pode mais que compensar queda da massa salarial 

Bruno Villas Bôas

13/04/2020

 

 

Cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) mostram que as medidas de proteção ao trabalhador anunciadas pelo governo federal podem mais do que compensar as potenciais perdas de massa salarial do trabalho durante o pior momento dos efeitos do novo coronavírus.

Sem a política de proteção do governo federal, a população ocupada no país (empregados, trabalhadores por conta própria, empregadores) tenderia a mostrar uma redução de 4,9% no segundo trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto o rendimento médio real teria leve alta de 0,5%. O total de desempregados chegaria a 17 milhões.

Dessa forma, Daniel Duque, pesquisador do Ibre/FGV, calcula que a massa de rendimento do trabalho (soma dos salários de todos os trabalhadores) cairia de R$ 632 bilhões no segundo trimestre de 2019 para R$ 604,2 bilhões no segundo trimestre de 2020 por causa dos efeitos do novo coronavírus, o correspondente a R$ 27,8 bilhões a menos.

"A questão é que o gasto esperado do auxílio emergencial do governo federal é da ordem de R$ 100 bilhões, o que representa 15% da massa de rendimentos do trabalho do segundo trimestre do ano passado. Ou seja, mais do que compensa essas perdas potenciais estimadas", acrescenta Duque.

Somente na quinta-feira, primeiro dia de pagamento do auxílio emergencial, o governo liberou cerca de R$ 1,5 bilhão para os inscritos, segundo a Caixa Econômica Federal. Foram 2,5 milhões de cidadãos beneficiados pela medida por meio de contas da Caixa e do Banco do Brasil.

Duque lembra que, além do auxílio emergencial de R$ 600, a serem pagos por um período de três meses, o governo federal também autorizou saques do FGTS a partir de junho, o que poderia elevar a massa salarial ampliada em pelo menos mais 4%, considerando a hipótese de um saque médio de R$ 500 dos trabalhadores formais.

O desafios nos cálculos do Ibre/FGV continua sendo entender como o programa de proteção ao emprego lançado pelo governo vai influenciar o mercado de trabalho nos próximos meses. Entre as medidas está a redução da jornada de trabalho e do salário dos trabalhadores em 25%, 50% ou 70%.

A LCA Consultores também calculou os possíveis impactos das medidas de isolamento social sobre a massa salarial do país. Considerando o cenário básico da consultoria, de queda de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, a massa de rendimentos do trabalho deve recuar para R$ 211,691 bi em junho, 2,7% abaixo de fevereiro (R$ 217,563 bilhões).

"Deve haver uma retração tanto da massa de renda quanto do rendimento médio dos trabalhadores, como autônomo, conta própria e informal", disse Cosmo Donato, economista da LCA e autor dos cálculos. "O trabalhador com CLT deve ser mais protegido e manter renda num primeiro momento."