Correio braziliense, n. 20788 , 22/04/2020. Artigos, p.11

 

Ações contra coronavírus marcam aniversário da UnB

Márcia Abrahão Moura

22/04/2020

 

 

Na semana do aniversário da Universidade de Brasília e da cidade que abriga a instituição — ambas inauguradas em 21 de abril, com apenas dois anos de diferença —, as comemorações não são como tínhamos imaginado. As necessárias medidas de isolamento social, estabelecidas por critérios científicos para frear o avanço da pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), mudaram rotinas, planos e prioridades.

Nas últimas semanas, a Universidade tem dado demonstrações contundentes de competência e comprometimento com a sociedade. A estrutura da UnB está aberta e engajada na busca de novos conhecimentos e na condução de soluções que atenuem o impacto da pandemia. Nossa comunidade tem atuado de diversas maneiras: estudos do vírus em si (com o sequenciamento do genoma do Sars-Cov-2, por exemplo), pesquisas sobre a eficácia de medicamentos e apresentação de alternativas para o enfrentamento da doença, abarcando todas as áreas do conhecimento.

As iniciativas foram tão numerosas que decidimos estruturá-las em um comitê específico de pesquisa, inovação e extensão da Covid-19. Uma chamada pública para a prospecção de projetos selecionou 115 propostas de excelente qualidade. Com apoio da Secretaria de Saúde (SESDF), da Secretaria de Ciência e Tecnologia e da Fundação de Apoio à Pesquisa (FAPDF), temos a perspectiva de conseguir R$ 30 milhões para dar início à execução de parte dos projetos.

Há iniciativas para investigar os efeitos da hidroxicloroquina e da azitromicina em pacientes infectados, para produzir álcool em gel para famílias em vulnerabilidade socioeconômica e para produção de máscaras com nanotecnologia, mais eficientes no combate à Covid-19. Outros projetos se dedicam a ações de cuidado com a população de rua e ao desenvolvimento de um ventilador mecânico de baixo custo e de um sistema para análise de raio-x de forma imediata, por meio de inteligência artificial. Com ele, o diagnóstico pode ser feito de maneira mais simples, em segundos. No total, os projetos somam R$ 70 milhões. O apoio de parceiros públicos e privados será imprescindível para complementar os recursos.

Além disso, o Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Superior, destinou quase R$ 10 milhões para atender a projetos de pesquisadores da área de saúde e do Hospital Universitário (HUB). Entre eles, está um para a criação de salas de situação em até 100 localidades do DF e do Entorno, algo essencial para melhorar a decisão de gestores públicos durante a pandemia. A Fazenda da UnB, em demonstração de solidariedade, doou parte da produção de alimentos para 35 famílias em vulnerabilidade socioeconômica.

A universidade também tem integrado redes de cooperação interinstitucional, com entidades como o Laboratório de Saúde Pública do DF (Lacen), o Hospital das Forças Armadas (HFA) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Emprestamos máquinas ao Lacen, que ampliou a capacidade de abarcar a demanda por exames diagnósticos de Covid-19. Com a Fiocruz e o Conselho Regional de Psicologia, estamos oferecendo apoio psicológico aos profissionais da saúde na linha de frente de combate à doença. Caberá aos docentes da UnB a supervisão clínica dos casos.

O HUB está capacitando médicos e enfermeiros voluntários da Força Nacional do SUS para atuarem em Manaus, uma das cidades mais atingidas pela pandemia no país. O hospital também integra o plano de contingência da SESDF e está preparado para receber pacientes graves de coronavírus, em parceria com o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), referência para o tratamento da doença no DF. O Hran foi, aliás, o primeiro destino de máscaras protetivas desenvolvidas por professores e estudantes da UnB, que trabalharam dia e noite para garantir a entrega do material, produzido de forma voluntária. O diretor do Hran é um dos nossos ex-estudantes, que tanto nos orgulham.

Em outra frente de atuação, a universidade criou um comitê gestor do plano de contingência da Covid-19. Desde a confirmação dos primeiros casos no país, o grupo nos auxilia a tomar decisões embasadas cientificamente e adequadas para cada fase do surto. Agora, dedica-se, entre outras tarefas, a cuidar da saúde mental das pessoas neste momento tão difícil. Há atendimento psicológico on-line, rodas de terapia virtual comunitária, práticas de meditação e outras iniciativas que buscam garantir o bem-estar.

 A mobilização de nossa comunidade, nos quatro campi, emociona e evidencia que só será possível superar esta situação por meio da aplicação adequada do conhecimento acadêmico, da solidariedade, da colaboração e da responsabilidade social. A crise nos traz ensinamentos também. Está clara, por exemplo, a importância do fortalecimento do sistema nacional de ciência e tecnologia e das universidades públicas.

» MÁRCIA ABRAHÃO MOURA

Reitora da UnB