O Estado de São Paulo, n.46193, 07/04/2020. Metrópole, p.A9

 

SP vê adesão ao isolamento cair e entende quarentena

Pedro Venceslau

Paloma Cotes

João Ker

Tulio Kruse

07/04/2020

 

 

Queda foi identificada pelo Estado entre 3ª semana de março e início de abril; Doria disse que vai acionar PM contra quem infringir ordem de fechar comércio não essencial e evitar aglomerações. Governo estima ao menos 111 mil mortes em 6 meses, mesmo com medidas

O governador João Doria (PSDB) prorrogou a quarentena em São Paulo para conter o avanço do novo coronavírus. A medida começou no Estado no dia 24 e teria validade até hoje, mas foi prorrogada por mais 15 dias. O Estado já identificou, entre a terceira semana de março e a primeira semana de abril, redução do número de pessoas que continuaram dentro de casa. Segundo estimativas do governo, o total de mortes nos próximos seis meses deve chegar a 111 mil, mesmo com as medidas de isolamento. Sem a quarentena, o número de óbitos projetado é de 277 mil até outubro.

O decreto estadual vai determinar o fechamento do comércio e de serviços não essenciais, o que inclui bares, restaurantes e cafés, que só podem funcionar com serviços de delivery. Já os serviços considerados essenciais, como farmácias e supermercados, podem abrir as portas. A medida vale para todos os 645 municípios paulistas e o decreto a ser publicado hoje tem os mesmo itens do anunciado no dia 24.

“Vocês terão a obrigação de seguir a deliberação do governo de São Paulo. Ela é constitucional”, frisou Doria, afirmando que a medida tem de ser cumprida pelos prefeitos. Na última semana, algumas cidades do interior publicaram normas para afrouxar as restrições.

“Nenhuma aglomeração, de nenhuma espécie, em nenhuma cidade ou área de São Paulo, será permitida”, afirmou Doria. O anúncio foi no Palácio dos Bandeirantes, com a participação de vários médicos e do infectologista David Uip, chefe do Centro de Contingência da covid-19, que estava afastado por ter sido infectado pelo vírus.

A circulação de pessoas na cidade de São Paulo aumentou na última semana, em meio à recomendação de que a população fique em casa para frear o contágio. Em uma semana, de 23 de março a 2 de abril, o isolamento na capital foi de 66% dos paulistas a 52,4%, segundo a projeção feita por um estudo do Instituto Butantã e da Universidade de Brasília (UnB), divulgada pelo governo estadual.

Após o início das medidas restritivas, o isolamento atingiu o nível mais baixo no dia 3. Foi a primeira vez, desde o início do fechamento de comércio, que mais da metade dos paulistas foram às ruas – só 47% ficaram em casa. A estimativa foi feita com base em dados de geolocalização de telefones celulares.

“Através da triangulação das antenas que recebem o sinal do celular, a gente sabe que você andou mais de cem ou duzentos metros da sua casa”, afirmou o pesquisador Júlio Croda, que participou do estudo. O médico integrava a equipe do Ministério da Saúde há até duas semanas. “Existe uma variação de 47% a 70%, sendo que nos finais de semana é que há maiores níveis de isolamento”, acrescentou.

Diferentemente do presidente Jair Bolsonaro, que fala em receio de crise econômica e defende reabrir o comércio, Doria tem afirmado que pretende manter o isolamento social.

Repressão. Doria afirmou que fará uso de força policial para quem infringir as regras. Há orientação para que a Polícia Militar disperse aglomerações. Serão medidas de orientação, em um primeiro momento. Em um segundo momento, seriam medidas coercitivas, mas Doria afirmou que “espera que isso não seja necessário’.

Questionado sobre se poderia vir a tomar outras medidas restritivas, Doria disseque a orientação é elevar o rigor. “Se houver necessidade de mais medidas restritivas, não hesitaremos em fazê-lo, seguindo a orientação dos especialistas.”

Segundo a Prefeitura, 50 estabelecimentos já foram interditados na cidade por descumprir o isolamento. Até ontem, a Prefeitura recebeu 9.744 denúncias de furo à quarentena.

Balanço. São Paulo é o Estado com o maior número de mortes e de casos, com 304 óbitos e 4.866 notificações. Segundo as projeções do governo estadual, o isolamento pode poupar mais de 160 mil vidas. No cenário sem qualquer medida, haveria 277 mil óbitos em seis meses. Com o isolamento social, o número caiu para 111 mil.

De acordo com a projeção do governo estadual, 89 mil mortes serão evitadas nos próximos 70 dias em toda a região metropolitana de São Paulo, caso as atuais medidas sejam mantidas. Essa projeção foi calculada com base nas taxas atuais de isolamento, mesmo com a média menor na última semana.

Croda alerta que é preciso manter ou aumentar ainda mais as restrições de circulação de pessoas. O Ministério da Saúde, porém, já sinaliza querer afrouxar as restrições (mais na pág. A10). “As medidas que foram implementadas são bastante favoráveis do ponto de vista de preservar a capacidade do serviço de saúde na resposta”, disse ele.

A projeção do Estado também foi feita para internações em hospitais. Sem quarentena, seria 1,3 milhão em 180 dias. O estudo mostra que esse número cai para 670 mil com o isolamento social.

Para internação em UTIs, o estudo do governo paulista aponta que as restrições podem fazer os casos caírem de 315 mil para 147 mil.