O globo, n. 31667, 19/04/2020. Especial Coronavírus, p. 6

 

Bolsonaro: servidor estadual pode ficar sem salário

Marcello Côrrea

Luísa Martins

19/04/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que a paralisação da atividade econômica causada pelas restrições em estados e municípios para conter o coronavírus pode afetar o pagamento de salários de servidores públicos. A declaração foi dada a um grupo de apoiadores no Palácio do Planalto. No mesmo dia em que foram realizadas carreatas pelo país defendendo o fim do isolamento social, o presidente passeou pela Esplanada e confraternizou com apoiadores, contrariando as recomendações de isolamento da Organização Mundial de Saúde (OMS). Ele criticou as medidas restritivas adotadas por gestores locais e voltou a defender a reabertura do comércio e até mesmo a realização de jogos de futebol, mesmo que sem a presença do público.

— Desde o começo, sozinho, venho falando dos dois problemas: o vírus e o desemprego. O desemprego já se faz presente no seio da sociedade. Os informais cresceram muito, são quase 40 milhões no Brasil. O pessoal celetista também, milhões já perderam seus empregos. A economia não roda dessa forma. Vai faltar dinheiro para pagar servidor público, e o Brasil está mergulhando num caos — afirmou o presidente. O projeto que trata do auxílio federal a estados e municípios tem o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ao fazer referência indireta a Maia, Bolsonaro afirmou que não vão tirá lo do cargo.

—Eu quero crer que não seja apenas má vontade desses políticos, que não vou nominar aqui, querer abalar a Presidência da República. Não vão me tirar daqui —disse o presidente, enquanto manifestantes gritavam “Fora, Maia”. Mais cedo, em conversa com jornalistas, Bolsonaro já havia criticado o Legislativo por ter aprovado a recomposição de impostos a estados e municípios:

— Não tem dinheiro para tudo isso. Vão ficar querendo que o contribuinte pague esta conta até quando? Especialistas têm declarado, no entanto, que a ajuda financeira aos estados e aos cidadãos mais vulneráveis é importante para assegurar o cumprimento das medidas de isolamento de quem pode ficar em casa. Bolsonaro voltou a defendera flexibilização das medidas restritivas. Doto poda rampa do Palácio do Planalto, apontou para o Supremo Tribunal Federal (STF), que fica em frente à sede do Executivo, e lembrou que a Corte determinou que cabe aos governadores e prefeitos decretar ações de isolamento social.

—A decisão foi do Supremo Tribunal Federal, que decidiu que estados e municípios podem decretar as medidas que acharem necessárias para conter o avanço desse vírus—afirmou o presidente.—O Supremo falou que eu não tenho autoridade para isso, o Supremo disse isso, no que depender de nós, nós vamos começara flexibilizar.

Numa transmissão ao vivo porre de social, Bolsonaro disse ter recebido pedidos para que os jogos de futebol sejam retomados. Segundo ele, a decisão não pode ser tomada pelo governo federal. No entanto, defendeu que os sindicatos de jogadores sejam ouvidos. Apoiadores do presidente fizeram ontem carreatas no Rio, em São Paulo e Porto Alegre, para pedir o fim da quarentena e a reabertura do comércio. (*do Valor)