Valor econômico, v.20, n.4954, 06/03/2020. Brasil, p. A2

 

PT quer auditoria em novos benefícios do Bolsa Família

Marina Falcão

Vandson Lima

06/03/2020

 

 

A bancada do PT no Senado solicitou ao Tribunal de Contas da União (TCU) uma auditoria no programa Bolsa Família. O pedido dos parlamentares ocorreu depois que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) apresentou um levantamento que mostra que apenas 3% dos novos benefícios do programa foram concedidos à região Nordeste em janeiro, enquanto Sul e Sudeste ficaram com mais de 75%.

A informação sobre a concessão de benefícios foi publicada na edição de ontem do jornal "O Estado de S. Paulo".

O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que os parlamentares estão se movimentando para recolher assinaturas para instalação de uma início a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).

Segundo os dados, o Nordeste respondia por 36,8% das famílias que estão atualmente no cadastro único sem acesso ao Bolsa Família em dezembro. Trata-se de 1,3 milhão famílias de um total de quase 3,6 milhões em todo o país. A maior parte (939 mil) estava na extrema pobreza.

Aos nove Estados da região, onde os governadores fazem oposição ao presidente Jair Bolsonaro, foram concedidos 3.025 benefícios, metade do que foi liberado isoladamente à Santa Catarina, Estado governado por Carlos Moisés (PSL) e dono do terceiro maior PIB per capita do país.

Ao Valor o Ministério da Cidadania afirmou que "as especulações" sobre as novas inscrições para o programa Bolsa Família privilegiarem as regiões Sul e Sudeste em detrimento da região Nordeste "não têm sustentação na realidade e são mais uma tentativa de dividir os brasileiros".

O ministério não esclareceu a aparente distorção na distribuição no primeiro mês do ano. Disse apenas que, no mês de fevereiro, 6,7 milhões de famílias nordestinas foram beneficiadas pelo programa, de um total de 13,2 milhões, o que corresponde a 50,75% dos pagamentos. "Para incluir novas famílias, o programa depende da emancipação, procedimentos rotineiros de averiguação e revisões cadastrais, fiscalização, desligamentos voluntários, e, claro, disponibilidade orçamentária".

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), disse que o atual direcionamento do Bolsa Família não poderá ser permitido, pois é "mais uma atitude preconceituosa e desumana do governo federal". Para o governador, verificar que o Nordeste ficou com 3% dos novos benefícios é "inaceitável" e "uma verdadeira agressão".