Correio braziliense, n. 20784 , 18/04/2020. Cidades, p.15

 

Bares e restaurantes pressionam para reabrir

Darciane Diogo

18/04/2020

 

 

CORONAVíRUS » Setor elabora protocolo de segurança para convencer o governo local a também liberar as atividades do segmento em 3 de maio, data prevista para a retomada de grande parte do comércio. Empresários se comprometem a seguir medidas protetivas

Após o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), prever a reabertura de parte do comércio para 3 de maio, bares e restaurantes elaboraram um protocolo de segurança para também retomar as atividades. No entanto, a liberação para o funcionamento desse segmento ainda é avaliada pelo chefe do Palácio do Buriti e não há confirmações oficiais sobre esse setor, segundo o GDF. Ao lado da flexibilização das restrições, o Executivo local deve adotar medidas para evitar a disseminação da Covid-19, como a distribuição de 1 milhão de máscaras descartáveis para a população nos próximos 15 dias. O DF chegou ontem a 24 óbitos por causa da doença (leia mais na página 16).

O presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar-DF), Jael Silva, afirmou que propôs, na quinta-feira, em reunião com o governador e alguns secretários do governo, a possibilidade de os estabelecimentos do setor retornarem às atividades, desde que baseados em um conjunto de regras. "Vamos abrir (lojas) de forma gradativa, com um protocolo de segurança. Até terça-feira, encaminharemos o documento ao gabinete de crise", adiantou.

Entre os critérios submetidos ao governo, o Sindhobar ressaltou o distanciamento entre pessoas, para evitar aglomerações; o reforço na higienização das lojas e dos funcionários; e a observação da distância mínima de, no mínimo, dois metros entre as mesas. "A população tem de estar tranquila quando abrirmos. Temos um número muito grande de empresas fechadas. Quanto mais ficarmos assim, são mais empresas que estão quebrando e mais gente sendo demitida", alertou Jael.

Na avaliação de Beto Pinheiro, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o protocolo de segurança elaborado pelo Sindhobar é suficiente para respaldar comerciantes e clientes no momento em que as portas reabrirem. "Temos alguns procedimentos para fazer a tarefa de casa. Vamos construir todo o protocolo. Várias cidades estão liberando a abertura", argumentou. De acordo com ele, medidas como a disponibilização de álcool em gel em cada mesa, a utilização de máscaras e até a medição de temperatura dos funcionários deverão ser adotadas.

Receio

Alguns empresários, no entanto, temem a reabertura e preveem baixo faturamento nas vendas. É o caso do gerente da pizzaria Casa Baco, Wagner Luiz Moreira. Com o estabelecimento fechado desde 1° de abril, ele diz que, primeiramente, deve-se ter o controle total da pandemia. "Os restaurantes são ambientes propícios à contaminação. As pessoas ficam próximas uma das outras, e disso não sou a favor. Voltar de uma vez não será legal, até porque os clientes estarão receosos e não sairão tão rápido de casa. Então, vai abrir para aparecer ninguém?", questionou.

Atiê Araújo, 35, é proprietário de um bar na 206 Sul. Ele fechou o estabelecimento antes da publicação do decreto do GDF. Mesmo em um período de poucas vendas, o empresário acredita na retomada do setor. "Tomamos uma medida de segurança mais drástica e optamos por não trabalhar com delivery, por questão de segurança. Se for para reabrir, que seja de forma gradativa, mantendo distância uns dos outros e tomando todas as precauções", destacou.

Além da reabertura do comércio, o governo local esclareceu, em nota, que os shopping centers da capital podem ser incluídos na lista. Contudo, o GDF informou que esses estabelecimentos terão de testar os funcionários e oferecer máscaras para clientes e trabalhadores. Os lojistas precisarão, ainda, usar aparelhos para medir a temperatura dos clientes.

Kamila Castro, 33, é dona de loja de artigos infantis no Brasília Shopping. Desde o fechamento, a loja implementou o delivery para não perder clientes. Segundo ela, as vendas caíram em mais de 90%. "Sou a favor de abrir o shopping. Aqui, por ser uma loja para crianças, eu tomo os devidos cuidados com a limpeza, e continuaremos mantendo com a reabertura. O nosso estabelecimento tem um fluxo menor; então, não gera aglomeração", alega.

A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) informou que vem "mantendo diálogos constantes com as autoridades sobre a possibilidade da reabertura dos estabelecimentos". Em nota, a entidade reforçou que a decisão para reabrir é do poder público, que tem capacidade técnica e responsabilidade de definir o melhor momento para o retorno das operações. O Conjunto Nacional esclareceu que analisará as novas determinações das autoridades, mas assegura que a prioridade é garantir a saúde e a segurança de todos que frequentam o centro comercial, como colaboradores, lojistas e clientes.

» Colaborou Matheus Ferrari

Ações

O GDF tornará o uso da máscara de proteção individual obrigatória para toda população a partir de 3 de maio. A medida acompanha a decisão de flexibilização do isolamento social. A oferta será feita em locais de grande circulação, no transporte público, nos comércios e nas agências bancárias. A confecção ficará a cargo da Federação das Indústrias do DF (Fibra), que disponibilizará a mão de obra, e do Banco de Brasília (BRB), que dará R$ 1 milhão. O valor permite a compra de 450 mil unidades. O restante do pagamento será feito com as doações oferecidas ao Comitê de Emergência Covid-19.

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Entrevista - Francisco Maia: "Desmonte do Sistema S é crueldade"

Alexandre de Paula

18/04/2020

 

 

A redução em 50% da alíquota de contribuição das empresas para o Sistema S até 30 de junho, definida pela Medida Provisória nº 932/2020, do governo federal, colocou em alerta todo o setor. A decisão, avalia o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio/DF), Francisco Maia, é “crueldade” e nula em termos de impacto positivo. Segundo ele, estudos indicam que os cortes podem provocar 40 mil demissões em todo o Brasil e 1 mil na capital federal.

Ao Correio, Maia, que está à frente dos conselhos do Serviço Social do Comércio (Sesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) no DF, argumenta que a medida é ação ideológica do ministro da Economia, Paulo Guedes, e que, além de trazer prejuízos para o sistema, é ineficaz para ajudar empresas na crise. “Esse dinheiro é retirado a pretexto de desoneração da folha e para incentivar a geração de empregos. O recurso não é destinado para investir contra a pandemia e, nesses 90 dias, ninguém está contratando. Então, isso não serve para nada”, critica.

O que motiva a redução dos repasses?

Essa questão é uma decisão ideológica do ministro Paulo Guedes. Ele tenta isso desde que assumiu. E tentou fazer várias investidas nesse dinheiro, que é constitucional para garantir o equilíbrio entre o capital e o trabalho, para que houvesse uma contrapartida social. Talvez por desconhecer como funciona o sistema, ele tentou fazer isso várias vezes e não conseguiu. Agora, ele se aproveitou desse momento e editou essa MP.

Qual a destinação desses recursos retirados?

Esse dinheiro é retirado a pretexto de desoneração da folha e para incentivar a geração de empregos. O recurso não é destinado para investir contra a pandemia e, nesses 90 dias, ninguém está contratando. Então, isso não serve para nada. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) fez uma proposta: “Não toquem nos 50%, e oferecemos R$ 1 bilhão em serviços e equipamentos para investir contra a pandemia”. O governo ignorou. Essa MP não se justifica, não beneficia ninguém. É querer desmontar um sistema que tem mais de 70 anos e que funciona muito bem.

Qual impacto direto nas atividades?

Hoje, temos 110 mil funcionários. Se não pararmos essa sangria, pelo menos 40 mil pessoas serão demitidas. Em Brasília, 1 mil. Num momento como esse, colocar 40 mil pessoas nas ruas é crueldade. Mesmo depois da retomada, a nossa receita não vai ser a mesma. Se isso realmente acontecer, vamos fechar 260 unidades no Brasil. E, depois da pandemia, também seremos essenciais para uma retomada, porque o mercado de trabalho vai mudar muito e vários profissionais vão precisar ser realocados. O Senac tem capacidade de treinar essas pessoas, ajudá-las. Então, nesse momento, esse desmonte do Sistema S é crueldade.

Quais são as principais ações do Sistema S contra a pandemia aqui no DF?

Colocamos 200 funcionários nossos à disposição da Secretaria de Saúde. Fizemos um acordo para que os nossos do sistema de odontologia atenda ao excedente de pacientes da pasta. Estamos ajudando no acampamento para pessoas em situação de rua no autódromo e fazendo atendimento psicológico para quem nos procura. Estamos também fazendo 2,5 mil marmitas por dia, a R$ 5, para profissionais autônomos, e o Senac confecciona 12 mil máscaras por semana. Além disso, vamos doar 10 respiradores para o governo. Estamos indo além do atendimento ao setor comercial.