Título: Ações da Eletrobras caem 15%
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 20/11/2012, Economia, p. 12

Perdas impostas à empresa pelo governo levam papéis da estatal à maior queda em 15 anos. MP 579 tornou-se fonte de incertezas

A adesão integral da Eletrobras aos termos impostos pela Medida Provisória (MP) 579 para renovar em 2013 os seus contratos de concessão resultou ontem em um tombo histórico de suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa). Os papéis preferenciais (PN) da estatal derreteram 15,43% — a maior queda em 15 anos —, para R$ 9,81 , refletindo o mau humor dos sócios minoritários diante da expectativa, reiterada pela diretoria, de perdas de pelo menos R$ 18 bilhões no patrimônio e de R$ 9 bilhões na receita anual.

Na sexta-feira, o Banco Santander cortou o preço-alvo para as ações da Eletrobras de R$ 15,34 para R$ 9,69. Para piorar, ainda circularam ontem notícias de que os prejuízos decorrentes do processo de renovação determinado pelo governo podem levar a companhia a não pagar dividendos aos acionistas preferenciais referentes ao exercício de 2012. Na quinta-feira, a empresa anunciou lucro de R$ 1 bilhão no terceiro trimestre, 35,91% a menos que o apurado em igual período de 2011.

Foi o segundo recuo recorde seguido nos preços das ações PN da Eletrobras. Na sexta-feira, já haviam afundado ao menor patamar em mais de sete anos. Também os papéis ordinários (ON), que dão direito a voto nas decisões da companhia, não resistiram à desconfiança dos investidores em relação à MP 579 e desabaram 13,41%.

Apesar do péssimo desempenho das ações da estatal de energia, o Ibovespa, índice que mede a lucratividade dos papéis mais negociados na BM&FBovespa, encerrou a segunda-feira com alta de 1,89%. O pregão paulista acompanhou o quadro internacional, no qual os investidores se mostraram confiantes quanto a uma solução para a crise fiscal que atormenta os Estados Unidos. O Dow Jones, da Bolsa de Nova York, avançou 1,31%.

Queixas De qualquer forma, o clima é de apreensão ante as incertezas criadas pela MP 579. Os analistas lembram que a Eletrobras também tem papéis (ADRs) listados na bolsa norte-americana e deverá receber queixas no exterior. Acionista minoritário da estatal há 10 anos, o fundo norueguês Skagen já protestou formalmente e cogita recorrer à Justiça para evitar perdas maiores à companhia.

As concessionárias têm direito a indenização pelos investimentos feitos e ainda não cobertos nas tarifas das contas de luz. Mas o valor oferecido, R$ 20 bilhões, é considerado insuficiente. Só a Eletrobras esperava ser compensada em R$ 30 bilhões e não receberá nem a metade disso. Em protesto contra os efeitos da MP, o conselheiro José Luiz Alquéres, ex-presidente da Light e da própria estatal, renunciou na semana passada. O Ministério de Minas e Energia informou ontem ao Correio que Cteep, Cesp e Emae entraram com recursos administrativos questionando cláusulas da MP e “os seus pedidos estão sob análise”.

“O ideal seria o governo encontrar uma solução intermediária, alterando a MP e oferecendo alguma compensação às concessionárias”, sublinhou Jorge Trinkenreich, diretor da PSR Consultoria. Segundo ele, ainda não é possível prever o tamanho que o mercado elétrico terá após absorver todos efeitos das mudanças. “Até lá, haverá grande turbulência”, resumiu.