O Estado de São Paulo, n.46179, 24/03/2020. Economia, p.A17

 

BC põe mais de R$ 1,2 trilhão à disposição dos bancos

Fabrício de Castro

Eduardo Rodrigues

24/03/2020

 

 

Valor equivale a 16,7% do PIB e é muito superior ao que foi destinado ao setor na crise de 2008, R$ 117 bi, 3,5% do PIB

Para combater os efeitos negativos da epidemia de coronavírus sobre o sistema financeiro, o Banco Central já anunciou a disponibilidade de R$ 1,216 trilhão para os bancos brasileiros. A cifra, divulgada ontem pelo próprio BC, equivale a 16,7% do PIB.

Os recursos têm como objetivo manter a liquidez no sistema – ou seja, a disponibilidade de dinheiro para que as instituições financeiras possam fazer normalmente suas operações com os clientes (empresas e pessoas físicas). Não significa, no entanto, que essa enxurrada de recursos vai ser emprestada pelos bancos – até porque tomar empréstimo em meio à crise é uma decisão dos clientes.

Mesmo assim, chama a atenção o fato de que o anúncio de recursos já é substancialmente superior ao verificado após a crise econômica global de 2008. Na época, o BC proveu liquidez de R$ 117 bilhões, o equivalente a 3,5% do PIB.

Entre as medidas para combater o efeito da pandemia sobre o sistema financeiro estão a redução das alíquotas de compulsório sobre depósitos a prazo, de 31% para 25%, e a diminuição da parcela dos recolhimentos compulsórios considerados no Indicador de Liquidez de Curto Prazo (LCR) dos bancos. Estas duas medidas, anunciadas em 20 de fevereiro, representam a injeção de R$ 135 bilhões no sistema.

Compulsórios. Ontem, o BC anunciou nova redução das alíquotas dos compulsórios, de 25% para 17%. A medida, que valerá até 14 de dezembro, representa um adicional de R$ 68 bilhões para o sistema financeiro.

Também ontem, o Banco Central promoveu uma flexibilização nas regras das Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) – um título emitido por instituições financeiras para obter recursos para financiar o setor agrícola. Pelo cálculo do BC, isso permitirá um adicional de R$ 2,2 bilhões de recursos para os bancos.

Uma quarta medida anunciada pelo BC está ligada à possibilidade de empréstimos aos bancos com lastro em Letras Financeiras (LF) garantidas por operações de crédito.

Na prática, a autarquia vai emprestar dinheiro aos bancos, tomando LF como garantia. Essa medida tem potencial de liberação de R$ 670 bilhões para as instituições.

O objetivo dessas medidas, reforçou ontem o Banco Central, é prover liquidez ao mercado financeiro. “Vai haver liquidez para todo o sistema”, afirmou o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, durante coletiva virtual com jornalistas.

Incentivo 

R$ 135 bilhões

É o valor que deve ser injetado na economia só com a redução da alíquota de compulsórios sobre os depósitos a prazo, que vão cair de 31% para 25%