Título: Balcão de dados sigilosos
Autor: Seffrin, Felipe ; Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 27/11/2012, Política, p. 5

PF desbarata quadrilhas que quebravam sigilos de políticos e magistrados. Dirigente da CBF está envolvido

São Paulo e Brasília — Uma operação da Polícia Federal desbaratou duas quadrilhas envolvidas em crimes financeiros e em espionagem ilegal, que movimentaram até R$ 30 milhões só em 2012. Foram presos 33 suspeitos. Mais de 10 mil pessoas podem ter sido vítimas das quadrilhas, incluindo senadores, ministros e desembargadores. Um dos investigados pela Operação Durkheim, como foi batizada, é o presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF) e vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo del Nero. O dirigente foi conduzido a uma delegacia em São Paulo, onde prestou depoimento. O computador dele e alguns documentos foram apreendidos.

Além de efetuar as prisões, a PF cumpriu 87 mandados de busca e apreendeu cerca de R$ 600 mil em dinheiro e 27 carros de luxo. Mais 34 pessoas foram conduzidas à sede da corporação, em São Paulo, onde a ação foi centralizada. Também houve prisões e apreensões em Goiás, no Rio de Janeiro, em Pernambuco e no Pará, além do Distrito Federal. A PF não detalhou o grau de envolvimento de Del Nero no esquema nem divulgou nomes de outros suspeitos. Segundo o delegado responsável, Valdemar Latance Neto, a operação não tem relação com futebol.

Em nota divulgada na página oficial da FPF, Del Nero disse que foi surpreendido pela operação, que colheu documentos na entidade e no seu escritório de advocacia, mantido em sociedade com o deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), relator-geral da Lei da Copa. Mas ele negou que os documentos apreendidos tivessem ligação com suas atividades profissionais.

Latance Neto disse que, “entre os compradores interessados em dados sigilosos, havia pessoas comuns, grandes empresários ligados à espionagem empresarial, e um grande escritório de advocacia”.

Após prestar depoimento, Del Nero viajou para o Rio de Janeiro, onde a cúpula do futebol nacional e integrantes da Fifa se reúnem para a Conferência de Futebol Soccerex. No evento, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, preferiu não comentar o envolvimento do cartola paulista. “Preciso saber exatamente o que a PF procurava, só posso me manifestar quando as razões e os motivos da operação estiverem esclarecidos”, disse.

Policiais envolvidos A PF já identificou 180 pessoas que tiveram seus dados quebrados e negociados. As informações sobre extratos telefônicos eram revendidas a R$ 300 pelo grupo. Entre as vítimas estão um senador, um ex-ministro, dois prefeitos, dois desembargadores, uma filial de emissora de TV, um banco e diversas empresas, cujos nomes não foram revelados. Nas organizações criminosas estão policiais civis, militares e federais, pessoas ligadas a operadoras de telefonia, e um gerente de banco, entre outros. Eles responderão por crimes de corrupção ativa e passiva, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, com penas de até 12 anos de prisão.

A Operação Durkheim teve início a partir do suicídio de um delegado federal em Campinas, em 2010. Antes de morrer, ele divulgou informações sobre seu envolvimento e o de outras pessoas em diversos crimes. “Foi identificada quase uma centena de contas no exterior, sobretudo em Hong Kong”, explicou o delegado Júlio César Baida Filho. O segundo braço do esquema fazia espionagem e concentrava os dados, que eram repassados a intermediários — que se diziam detetives particulares — e seriam os usuários das informações obtidas nas quebras ilegais dos dados fiscais, bancários e telefônicos das vítimas.

Números da ação policial

10 mil pessoas tiveram sigilos bancários violados pelo esquema R$ 20 milhões montante movimentado pela quadrilha R$ 300 valor de cada sigilo quebrado pela quadrilha 87 mandados de busca e apreensão cumpridos pela PF em cinco estados e no Distrito Federal 33 pessoas presas 73 investigados que devem ser indiciados no inquérito