Correio braziliense, n. 20567, 14/09/2019. Mundo, p. 13

 

"Estamos prontos para nos proteger"

14/09/2019

 

 

O chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, afirmou ontem, na sede das Nações Unidas, em Genebra, que o país está pronto para se defender da invocação do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar) pelos Estados Unidos e por uma dezena de países americanos, o que poderia legitimar uma intervenção militar. “Nós nos defendemos (...) Estamos pontos para nos proteger, estamos preparados para responder. Não vamos permitir que ninguém pise no sagrado solo venezuelano. Nós responderíamos e tomara que nunca aconteça”, disse o chefe da diplomacia do governo de Nicolás Maduro.
O tratado foi invocado por Washington em meio a exercícios militares realizados por forças venezuelanas na fronteira com a Colômbia e após uma convocatória da Organização de Estados Americanos (OEA) a seus chanceleres. A ativação do Tiar recebeu o voto favorável de países como Argentina, Chile, Colômbia e Brasil. Cuba e Uruguai, em contrapartida, reagiram à medida.
O chanceler cubano, Bruno Rodríguez, destacou, no Twitter, que Washington deveria “evitar disparates”. “A paz da América Latina e do Caribe está sob ameaça imperialista”, enfatizou.
Por sua vez, Montevidéu classificou a iniciativa como uma tentativa de usar a força para tirar Maduro do poder. “O Uruguai se negou a apoiar essa convocação que mostra uma clara tentativa, novamente, de manejar politicamente instrumentos jurídicos internacionais, a favor de interesses, cuja única meta é a derrubada de um governo, não importa a legitimidade do procedimento que se utilize”, assinalou um comunicado publicado na página da Presidência uruguaia.
Defesa
Para Jorge Arreaza, a decisão de invocar o Tiar é arriscada, porque “o espírito” desses países, “sobretudo os fronteiriços”, consiste em “ativar um mecanismo, pelo menos teoricamente, para atacar militarmente” a Venezuela. “Nós jamais agrediríamos qualquer país-irmão, nem pisaríamos em solo de qualquer país-irmão em quaisquer circunstâncias, somente em defesa de nosso povo e de nossa integridade territorial”, disse o ministro venezuelano.
Os exercícios militares, justificou Arreaza, são medidas de proteção. “Nós não podemos ficar de braços cruzados enquanto estão preparando ataques à Venezuela”, argumentou o chanceler de Maduro. Colômbia e Venezuela compartilham uma fronteira de 2.200km, onde Caracas mobilizou 150 mil efetivos até 28 de setembro, alegadamente em decorrência de supostas ameaças de Bogotá. Os dois países romperam relações há sete meses.

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Guaidó sob investigação

14/09/2019

 

 

A Procuradoria da Venezuela instaurou ontem uma nova investigação criminal contra o líder opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente por mais de 50 nações, por sua suposta conexão com uma quadrilha colombiana que o teria ajudado a atravessar ilegalmente a fronteira do país, em 22 de fevereiro passado. A decisão foi tomada após a divulgação de duas fotografias em um rede social, nas quais Guaidó aparece ao lado de integrantes desse grupo. O episódio pode se tornar uma nova frente de embates entre Caracas e Bogotá.
“Diante das graves evidências, levadas a público (...), em relação ao vínculo do cidadão Juan Guaidó com o grupo narcoparamilitar Los Rastrojos, este Ministério Público decidiu abrir uma investigação penal”, anunciou o procurador-geral, Tarek William Saab, que é próximo ao governo do presidente Nicolás Maduro.
A divulgação das fotografias foi feita pela Fundação Progresar, uma organização não governamental colombiana de direitos humanos que monitora a violência na fronteira. Nas imagens, o líder opositor venezuelano aparece com Jhon Jairo Durán, apelidado de El Costeño, e com Albeiro Lobo Quintero, também conhecido como El Brother. Ambos são membros do Los Rastrojos presos na Colômbia.
Juan Guaidó cruzou a fronteira para uma participação surpresa no megashow realizado na cidade colombiana de Cúcuta, às vésperas da operação que levaria medicamentos e alimentos aos venezuelanos. A remessa da “ajuda humanitária”, que contava com apoio logístico da Colômbia e dos Estados Unidos, fracassou, no que representou o primeiro forte baque político do presidente da Assembleia Nacional venezuelana.
O governo de Maduro acusa Guaidó de ter sido protegido pelos integrantes do Los Rastrojos ao atravessar a fronteira, violando a proibição de deixar o país imposto após se autoproclamar presidente interino.