Correio braziliense, n. 20551, 29/08/2019. Política, p. 2

 

Força-tarefa pela Amazônia

Rodolfo Costa

Augusto Fernandes

29/08/2019

 

 

Poder » Bolsonaro se reunirá com países fronteiriços à região, em setembro, para discutir uma política única de preservação do meio ambiente. Chile vai ajudar no combate às queimadas. Governadores pedem ao STF R$ 1 bi dos recursos recuperados pela Lava-Jato para ações no local

O presidente Jair Bolsonaro anunciou uma reunião em 6 de setembro com os chefes de Estado de países que fazem fronteira com a região amazônica, “exceto o da Venezuela (Nicolás Maduro)”, conforme frisou, para discutir uma “política única” sobre a preservação do meio ambiente e a exploração sustentável. A reunião será em Letícia, na Colômbia.

Bolsonaro deixou implícito que não fechou as portas para o recebimento de doações em prol da preservação da Amazônia. Tanto que, na terça-feira, deu sinal verde para a oferta do Reino Unido, de 10 milhões de libras (R$ 51 milhões). Além do dinheiro, o governo aceitará suporte para debelar as queimadas na floresta. A prova disso é que o Chile vai operar na região com quatro aviões especializados em combate aéreo contra incêndio. O anúncio foi feito após o encontro do chefe do Planalto com o presidente chileno, Sebastián Piñera. Eles tomaram café da manhã no Palácio da Alvorada, ontem.

Apesar da mudança de tom em relação à ajuda financeira, Bolsonaro mantém a queda de braço com o presidente da França, Emmanuel Macron. A ideia é que o Brasil negocie um eventual recebimento de recursos do país europeu apenas depois de um pedido de desculpas do dirigente francês por ter chamado o chefe do Planalto de mentiroso e sugerido uma “internacionalização” da Amazônia.

“Somente após ele se retratar do que falou no tocante à minha pessoa, que representa o Brasil perante a lei, e bem como ao espírito patriótico do nosso povo, que não aceita relativizar a soberania da Amazônia. Em havendo isso, aí, sem problema nenhum, voltamos a conversar”, disse. “Quando vocês olham para o tamanho do Brasil, a oitava economia do mundo, parece que 20 milhões de euros é o nosso preço. O Brasil não tem preço: 20 milhões ou 20 trilhões são a mesma coisa para nós. Qualquer ajuda de forma bilateral nós podemos aceitar, até porque, no futuro, podemos, também, ajudar um outro país que tenha um problema.”

Colaboração

Participante da reunião do G-7 no último fim de semana, Sebastián Piñera, o único presidente latino-americano presente na cúpula como convidado, sustentou que o Chile está empenhado em ajudar e organizar a colaboração de outros países que queiram aportar recursos ao Brasil. Ele admitiu que a doação de 20 milhões de euros oferecida pelas sete nações mais ricas do mundo é um bom reforço e será bem-vinda, desde que respeitada a soberania do Brasil e de Bolsonaro.

“Cada país sabe que colaboração quer prosseguir e que colaboração não quer. A Amazônia captura um quarto do carbono que se emite no mundo. É um verdadeiro paraíso da biodiversidade e uma fábrica de oxigênio. Por isso, todos queremos (o bem da) a Amazônia”, ressaltou. “Mas os países amazônicos, que são nove, entre os quais o mais importante em tamanho é o Brasil, têm soberania sobre a Amazônia. Temos de reconhecer isso sempre. Portanto, são os principais interessados e responsáveis em cuidar e proteger as florestas e a biodiversidade.”

Supremo

Em outra linha de defesa da floresta, governadores da Amazônia Legal pediram ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes que uma parte dos R$ 2,5 bilhões recuperados pela Petrobras na Operação Lava-Jato, em um acordo de leniência com autoridades dos Estados Unidos, seja utilizada para o combate aos incêndios. Em reunião feita ontem no gabinete do magistrado, representantes dos estados da região Amazônica apresentaram uma proposta para que, pelo menos R$ 1 bilhão dos recursos, sejam alocados para ações de proteção ao meio ambiente.

Na sugestão apresentada a Moraes, R$ 200 milhões seriam distribuídos para descontingenciar recursos do Ministério do Meio Ambiente (MMA); R$ 400 milhões para o governo federal aplicar em atividades da Amazônia; e R$ 400 milhões diretamente para os Executivos dos nove estados da Amazônia Legal (Maranhão, Pará, Amapá, Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima, Tocantins e Mato Grosso).

Dois governadores conversaram com o ministro: Waldez Góes (PDT), do Amapá, e Antonio Denarium (PSL), de Roraima. Também estiveram presentes os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). “Nós estamos acreditando que, diante da carência de recursos, das dificuldades fiscais e das complicações de retomada do Fundo Amazônia — que nós defendemos —, e de também poder receber o que o G-7 está disponibilizando, temos uma situação nova que pode acontecer com mais rapidez. Então, nós pleiteamos, conversamos e pedimos celeridade ao ministro, uma vez que as questões fiscais são desafiadoras”, disse Góes.

O governador do Amapá afirmou que o montante seria importante não apenas para controlar as queimadas, mas para propiciar a elaboração de um plano de monitoramento para a floresta. Segundo ele, “além das ações emergenciais que precisam ser feitas na Amazônia, precisamos de atitudes permanentes. Não adianta só apagar o fogo agora. O monitoramento, a fiscalização, o controle e a punição de quem pratica atividades ilegais na Amazônia têm de ser permanentes”. “Tirada de madeira ilegal não tem período de inverno e verão. O fogo ainda pode se acalmar quando as chuvas chegam, mas a madeira ilegal é durante 12 meses do ano”, destacou. De acordo com Góes, mesmo que Bolsonaro rejeite a doação oferecida pelo G7, os próprios governos de cada estado podem negociar diretamente com as nações que compõem a cúpula.

Oferta de ajuda

O G7, grupo dos países mais industrializados do mundo e composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, ofereceu 20 milhões de euros (R$ 93 milhões) ao Brasil para controlar os incêndios florestais no país.

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O apelo de ex-ministros

Luiz Calcagno

29/08/2019

 

 

A Câmara vai se mobilizar para aprovar projetos de leis ambientais em detrimento de pautas que possam ser consideradas contrárias à preservação da natureza. Na próxima semana, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reunirá parlamentares ambientalistas e ruralistas para pactuar uma pauta que não “seja destrutiva para o meio ambiente”. A informação foi dada pelo líder da oposição, Alessandro Molon (PDB-RJ), após uma reunião, ontem, com Maia e sete dos nove ex-ministros do Meio Ambiente. No encontro, o grupo entregou um documento pedindo a suspensão da tramitação de PLs contrários à pauta.

Participaram também da reunião representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entre outras. O documento ainda será entregue aos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.

Além da suspensão das propostas, os ex-ministros pedem a criação de uma comissão especial para a execução de audiências públicas com especialistas, gestores públicos, representantes do agronegócio, populações locais e ativistas pelo meio ambiente. O documento requer, também, a recomposição do orçamento do Ministério do Meio Ambiente. “É preciso que a gente fortaleça os órgãos de fiscalização e controle, de gestão ambiental e de monitoramento”, explicou Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente.

Ricardo Salles recebe alta

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, recebeu alta ontem do Hospital das Forças Armadas. De acordo com o último boletim médico, ele foi submetido a exames de rotina, que não detectaram problema grave. Os médicos, porém, recomendaram cinco dias de repouso. O informe voltou a mencionar “um mal-estar” como causa da curta internação de Salles, na noite de terça-feira.