Correio braziliense, n.20546, 24/08/2019. Política, p.4

 

Protestos no Brasil e no mundo

Jorge Vasconcellos

24/08/2019

 

 

Poder / Manifestantes saíram às ruas em Brasília e em várias cidades do país para cobrar maior proteção à Amazônia. Eles prometem repetir atos neste fim de semana. Houve mobilizações também na Europa e na América do Sul.

Manifestações contra as queimadas na Amazônia e a política ambiental do governo foram realizadas, ontem, em várias cidades do país, dando a largada a uma série de protestos que está programada para este fim de semana. Em Brasília, centenas de pessoas partiram, no fim da tarde, da Rodoviária do Plano Piloto, percorreram a Esplanada dos Ministérios e pararam ao lado do prédio do Ministério do Meio Ambiente. Os manifestantes projetaram imagens de chamas no edifício e, como ocorreu em outras cidades, pediram a saída do ministro da pasta, Ricardo Salles, e do presidente Jair Bolsonaro.
“Amazônia fica, Bolsonaro sai”, dizia uma das faixas na Esplanada, num ato pacífico que causou lentidão no trânsito e reuniu pessoas de diferentes gerações. “Nós temos de ir para a rua mesmo, não temos outro instrumento. É ir para cima dos responsáveis por isso. Eu estou morrendo com a Amazônia, porque, como é que a gente vai respirar? Como é que o mundo vai respirar?”, questionou Gecima Bastos Pinheiro, 75 anos, professora e psicóloga aposentada.
O estudante Dimitrius Berçot Júnior, 18, disse que a população tem de mostrar poder. “O pessoal tem que vir para a rua, ocupar o espaço, defender a Amazônia, porque o que Bolsonaro está fazendo não está certo”, disse. “A Amazônia está correndo muito risco e, se a gente não cuidar, a tendência é só piorar.”
Em São Paulo, os manifestantes se concentraram em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp).  Eles empunhavam cartazes com frases como “chega de lucrar com a destruição” e “Vender a Amazônia aumenta o PIB do Brasil?”.
No Rio de Janeiro, o protesto começou na escadaria do Palácio Pedro Ernesto, na Cinelândia, no centro da cidade. Bolsonaro e o ministro Salles eram os principais alvos das críticas dos manifestantes. Em seguida, eles fizeram uma caminhada em direção ao BNDES.
Em Salvador, o ato ocorreu no centro da cidade. Na Praça Municipal, os participantes gritaram pedidos de “justiça climática” em defesa da Amazônia. Também cobraram a fiscalização do desmatamento ilegal e a demarcação dos territórios indígenas.
Houve protesto também em Curitiba. A mobilização, no centro da cidade, teve participação de muitas crianças, adolescentes e índios. Alguns participantes estavam fantasiados com temas da natureza. O grupo se reuniu na Praça Dezenove de Dezembro e seguiu pela Rua XV até a Boca Maldita.

 

Exterior

Manifestações ocorreram também em vários países. Aos gritos de “Salvem a Amazônia” e “Fora, Bolsonaro”, cerca de 300 pessoas protestaram diante da embaixada do Brasil em Londres. “Vimos as imagens horríveis (da floresta em chamas) e queremos fazer algo em solidariedade para com o povo do Brasil. Também temos filhos e gostaríamos que crescessem num mundo que tem seus pulmões”, declarou Luisa Brown, 36. “Estou muito preocupada com a mudança climática, mas especialmente pelo impacto do agronegócio”, emendou Lucy Brown, 41, acompanhada dos filhos de 2 e 4 anos. As duas são membros da Extinction Rebellion, o movimento de desobediência civil criado no fim de 2018 para lutar contra a falta de ação diante da mudança climática.
“É verdade que preferem hambúrguer a oxigênio?”, questionava o cartaz exibido por outro manifestante. “É o Donald Trump brasileiro, tudo que interessa a ele é o lucro, o dinheiro”, protestou Graham Cox, de 57. Ele contou que se uniu ao Extinction Rebellion, porque, em 35 anos de ativismo ambiental, assinou todas as petições “e não viu nada mudar”.
Em Dublin, ao menos 100 pessoas ocuparam a entrada de um edifício que abriga a embaixada brasileira. Houve manifestações também em Berlim, Barcelona, Paris, Amsterdã, Lima, Bogotá, Quito. (Com Agência France Press)
“Nós temos de ir para a rua mesmo, não temos outro instrumento. É ir para cima dos responsáveis por isso. Eu estou morrendo com a Amazônia, porque, como é que a gente vai respirar?”

Gecima Pinheiro, psicóloga aposentada

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Autoridades e celebridades divulgam fake news

24/08/2019

 

 

Madonna, Cristiano Ronaldo, Novak Djokovic, Leonardo DiCaprio e até Emmanuel Macron. Muitas personalidades buscaram alertar sobre a situação atual da Amazônia e os incêndios que a atingem, mas, muitas vezes, usando imagens antigas e até mesmo de lugares distantes, gerando desinformação.
“Nossa casa arde. Literalmente”, escreveu em suas contas no Twitter e no Instagram o presidente da França, Emmanuel Macron. A imagem que ele usou na postagem, no entanto, foi tirada pelo fotógrafo americano Loren McIntyre, conhecido por seu trabalho para a National Geographic e, embora não se saiba o ano de publicação, sabe-se que tem, pelo menos, 16 anos, já que McIntyre morreu em 2003.
Já o presidente do Chile, Sebastián Piñera, usou uma imagem de 2013, do fotógrafo Nacho Doce, da Reuters, feita em Novo Progresso, no Pará, para alertar sobre “os incêndios florestais no #Amazonas” e oferecer ajuda ao Brasil e à Bolívia.
O ator americano Leonardo DiCaprio publicou duas fotos que tampouco mostram os momentos atuais. Uma é a mesma compartilhada por Emmanuel Macron, e a segunda, de 2016. Foi tirada na floresta amazônica do Peru, em Puerto Maldonado, embora o ator mencione apenas a Amazônia brasileira em sua mensagem. O também ator Jaden Smith, filho de Will Smith, compartilhou uma foto de 1989 para ilustrar que “a Amazônia está em chamas”.
O mundo esportivo não ficou atrás em termos de fake news. O tenista sérvio Novak Djokovic compartilhou no Twitter uma imagem feita em 1989 pela Sipa Press, e posteriormente adquirida pela Rex Features. Depois, ela foi publicada pelo jornal The Guardian, em 2007, em uma reportagem especial sobre o desmatamento da Amazônia. Em sua conta no Instagram, o piloto britânico de Fórmula 1 Lewis Hamilton escolheu a mesma foto da Amazônia que o presidente francês.
O jogador português da Juventus Cristiano Ronaldo alertou no Instagram que “a Floresta Amazônica produz mais de 20% do oxigênio do mundo e está queimando durante as últimas três semanas”. Entretanto, a foto não mostra a Floresta Amazônica. A imagem foi feita em 29 de março de 2013, por Lauro Alves, da agência brasileira RBS, na reserva ecológica de Taim (RS).
E, entre tantas outras celebridades que compartilharam fotografias antigas, a cantora pop americana Madonna publicou a foto da Amazônia em 1989 com a mensagem: “Os incêndios estão destruindo. Isso é devastador para o Brasil (...) Presidente Bolsonaro, por favor...”.

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Novo dividido sobre Salles

Rodolfo Costa

​24/08/2019

 

 

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ganhou um importante aliado após a fritura interna feita pelo Novo. Depois de a Executiva Nacional se posicionar friamente em relação aos ataques sofridos por ele — alvo de críticas e ameaçado de impeachment em processo pedido pela Rede —, o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), líder do partido na Câmara, saiu em defesa do ministro, sustentando que medidas de combate às queimadas na Amazônia estão em andamento e que tudo ao alcance dele está sendo feito.
A declaração é simbólica. Dentro do próprio partido, foi vista como um gesto importante para evitar a fritura de Salles. Fato é que o Novo faz pouco caso da permanência dele na legenda. E deixou isso claro publicamente, em manifestação no portal. A sigla frisou que não indicou o ministro e que, portanto, ele “não representa a instituição”. Manifestou, ainda, que “qualquer eventual sanção a um filiado está prevista e deve seguir rigorosamente o que está estabelecido no estatuto do partido”. Conclui dizendo que os “mandatários do Novo no Legislativo” esperam que a postura do governo e, “em especial, de filiados” seja feita com “equilíbrio, diálogo” e pautada em “dados, fatos e evidências”.