O Estado de São Paulo, n. 46112, 17/01/2020. Política, p. A6

 

Expectativa positiva do governo recua

Gustavo Porto

17/01/2020

 

 

 Recorte capturado

Segundo pesquisa XP/Ipespe, 40% consideram que o restante do mandato de Bolsonaro será ótimo/bom; há um ano, índice era de 63%

Após um ano de mandato, o presidente Jair Bolsonaro perdeu capital político. Levantamento da XP Investimentos, em parceria com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), mostra que o presidente não conta mais com o mesmo apoio que tinha e a expectativa positiva para o restante do mandato caiu 23 pontos porcentuais em um ano. Neste mês, 40% dos entrevistados disseram ter expectativas “ótima e boa” para os três últimos anos de Bolsonaro no governo. Em janeiro de 2019, porém, essa avaliação positiva para o mesmo período era de 63% e, em dezembro, já estava em 43%.

Na prática, Bolsonaro inicia o segundo ano de sua gestão registrando oscilações negativas de popularidade, se o porcentual for comparado com 2019. A pesquisa mostrou que o governo foi classificado como “ruim e péssimo” por 39% dos entrevistados. Trata-se do mesmo índice desde novembro, mas há um ano apenas 20% tinham o mesmo julgamento.

O primeiro ano do governo foi marcado pela votação da impopular reforma da Previdência, considerada necessária para o ajuste fiscal, e por dificuldades de relacionamento com o Congresso, além de forte bloqueio de recursos para áreas essenciais, como saúde e educação. Embora o desemprego tenha diminuído, ainda está elevado, atingindo 11,9 milhões de pessoas. A condução da política causou dissabores para Bolsonaro, muitos deles provocados por seus próprios filhos.

Na percepção dos entrevistados, o senador Flávio (sem partido-RJ), o vereador Carlos (PSC-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) exercem hoje “muita influência” sobre o governo do pai (55%), mais até do que os militares (53%) e as redes sociais (50%). As igrejas evangélicas, que ajudaram a eleger o presidente, aparecem com 41% no quesito influência. Os resultados da área econômica, comandada pelo ministro Paulo Guedes, também dividem opiniões. Para 45% dos consultados, a economia do País está no caminho certo. Outros 43%, no entanto, apontam que o rumo está errado.

Legislativo. O levantamento indicou, ainda, que 45% dos ouvidos consideram o Congresso ruim ou péssimo, embora o Legislativo tenha sido renovado em mais da metade nas eleições de 2018. Esse porcentual era de 37% no mesmo período do ano passado 2019 e de 44% em dezembro. O desempenho positivo do Congresso é o pior da atual legislatura, com apenas 9% de ótimo e bom, contra 13% em dezembro e 17% em janeiro de 2019. Outros 41% dos entrevistados avaliam o Parlamento como regular – 39% no mês passado e 34% há um ano. A pior avaliação é a da Câmara, pois 83% responderam que não confiam na instituição. Já no Senado, esse índice é de 79%.

Os partidos também enfrentam o descrédito da população. Entre os entrevistados, 89% dizem não confiar nas legendas. A pesquisa mediu, por outro lado, a percepção das pessoas sobre o grau de corrupção no País. Para 32%, a corrupção aumentará, mesmo porcentual dos que dizem acreditar que nada vai mudar. Outros 30% esperam que a corrupção diminuirá.

A pesquisa teve abrangência nacional e ouviu mil entrevistados, entre segunda-feira e ontem. A margem de erro da pesquisa é de 3,2 pontos porcentuais, para mais ou para menos.

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Presidente brinca sobre 'Moro 2027'

Julia Lindner

Emilly Behnke

17/01/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro fez ontem uma brincadeira com a possibilidade de o ministro da Justiça, Sérgio Moro, ser eleito presidente em 2027 – ano que marcaria o fim de um possível segundo mandato presidencial. O comentário foi feito durante evento no Palácio do Planalto com crianças venezuelanas.

“E a partir de 2027, quem assume aqui no Brasil? Quem assume?”, questionou Bolsonaro à plateia, enquanto apontava com um dos dedos para trás, sem olhar. Diretamente atrás dele estava o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno. Moro estava ao lado dele.

Sem querer, Bolsonaro acabou apontando para Heleno, que se surpreendeu: “Eu?”, questionou o ministro, provocando risadas. Em seguida, o presidente se virou para o ministro da Justiça e brincou: “Perdeu, Moro”. A fala gerou novas gargalhadas.

Bolsonaro fez o comentário em resposta ao presidente da Azul Linhas Aéreas, John Rodgerson, responsável pela viagem das crianças venezuelanas, como parte da Operação Acolhida. Rodgerson disse que a empresa “acredita muito” em Bolsonaro. Após as brincadeiras do presidente, Moro reagiu dizendo que espera que seja criada uma linha da companhia entre Brasília e Curitiba, sua cidade, até 2027. “Espero que até lá tenha passagem”, declarou.

O presidente tem reiterado que vai concorrer à reeleição. No ano passado, ele afirmou que entregará um País “muito melhor” para quem o suceder no comando do Palácio do Planalto, “em 2026”.

Para conseguir se viabilizar como candidato ele está empenhado em criar seu partido, o Aliança pelo Brasil, depois que rompeu com o PSL, partido pelo qual se elegeu.

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'Vai continuar', afirma Bolsonaro sobre secretário

Mateus Vargas

17/01/2020

 

 

Presidente defende Wajngarten e diz que chefe da Comunicação não é ‘um porcaria igual alguns que têm por aí’

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que o secretário de Comunicação Social da Presidência, Fabio Wajngarten, “vai continuar” no governo. Bolsonaro disse que não viu, “até agora”, ilegalidade na relação da FW Comunicação e Marketing, empresa da qual Wajngarten é sócio, com emissoras de TV e agências de publicidade que recebem recursos do governo.

“Se for ilegal, a gente vê lá na frente. Mas o que eu vi até agora está tudo legal com o Fabio. Vai continuar. É um excelente profissional. Se fosse um porcaria, igual alguns que têm por aí, ninguém estaria criticando ele”, disse Bolsonaro em frente ao Palácio da Alvorada.

Wajngarten é sócio da FW Comunicação e Marketing, dona de contratos com ao menos cinco empresas que recebem recursos direcionados pela Secom, entre elas as redes de TV Band e Record, como revelou o jornal Folha de S.Paulo. O secretário afirmou que os acordos comerciais foram feitos antes do seu ingresso na Secom.

Wajgarten se afastou do comando da FW em 15 de abril, três dias antes de sua nomeação. Em seu lugar na companhia ele deixou Fabio Liberman, irmão do número 2 da Secom,

Samy Liberman. Adjunto de Wajngarten, Samy trocou Miami por Brasília para assumir o cargo e é visto no Planalto como o braço direito do chefe. Seu irmão aparece nos registros da Receita Federal como dono ou sócio de dez firmas, que atuam em setores variados, de reprodução humana a negócios imobiliários.

Wajngarten afirmou que todas as contas dele são “100% abertas”, admitiu que não sabia como funcionava o processo de nomeação para o cargo, mas que foi orientado pelos órgãos da Presidência. O secretário não teria avisado a Comissão de Ética sobre os negócios da FW.

O colegiado deve discutir, em reunião no próximo dia 28, se há elementos para abrir um processo por conflito de interesse. Nesses casos, se for instaurado processo, a punição costuma ser uma advertência.

Imprensa. Ontem, durante cerimônia de troca de comando da Operação Acolhida – responsável pela recepção de refugiados venezuelanos no Brasil –, Bolsonaro voltou a fazer ataques à imprensa. O presidente fez um discurso exaltado na solenidade no Palácio do Planalto.

“À imprensa, não tomarei nenhuma medida para censurá-la, mas tomem vergonha na cara. Deixem nosso governo em paz”, afirmou.

Em outros momentos do discurso, Bolsonaro acusou jornalistas de não publicarem a verdade e disse que alguns profissionais atuam para prejudicar o País. Ao final, pediu desculpas aos convidados da cerimônia pelo “desabafo”.

‘Tudo legal’

“Se for ilegal, a gente vê lá na frente. Mas o que eu vi até agora está tudo legal com o Fabio. Vai continuar.”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE