O globo, n.31427, 23/08/2019. País, p. 06

 

Autonomia do BC vai blindar o novo Coaf, diz Roberto Campos Neto 

Gabriel Shinohara 

23/08/2019

 

 

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, defendeu que uma possível autonomia da instituição vai garantir uma blindagem contra pressões de poderes políticos e econômicos sobre o novo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ), rebatizado de Unidade de Inteligência Financeira (UIF).

No início da semana, o presidente Jair Bolsonaro determinou a transferência do órgão do Ministério da Economia para o BC, e a troca no nome e no comando do Coaf.

A demissão do antigo presidente, Roberto Leonel, que havia sido indicado para o cargo pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, provocou reação de servidores preocupados com possível interferência política no Coaf. Além disso, especialistas em transparência na administração pública alertam para o risco de a mudança abrir a chance de o Brasil sofrer sanções do Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo (Gafi/FATF), uma entidade internacional da qual o Brasil é integrante.

A afirmação de Campos Neto foi feita ontem durante a cerimônia de posse do novo presidente da UIF, Ricardo Liáo. O evento aconteceu na sede do órgão, em Brasília, e foi fechado para a imprensa. A transcrição do discurso foi divulgada pela assessoria do Banco Central.

Atualmente, tramita no Congresso um projeto do governo para dar autonomia ao Banco Central. “Estou seguro que os termos do Projeto de Lei Complementar nº 112, de 2019, de iniciativa do Poder Executivo, com as alterações que o Congresso venha a promover, irão garantir os necessários mecanismos de blindagem técnica e operacional, oferecendo ao BCB autonomia e à UIF uma blindagem ainda maior quanto a eventuais pressões de poderes políticos ou econômicos”, afirmou Campos Neto.

Em uma transmissão ao vivo pelas redes sociais na noite de ontem, o presidente Bolsonaro comentou o tema, chamado por ele de “novela do Coaf ”. Ele negou que qualquer mudança no órgão tenha sido motivada por investigações que têm como alvo o senador Flávio Bolsonaro, seu filho. As apurações pelo Ministério Público do Rio de possível prática de “rachadinha” no gabinete do atual senador na Alerj tiveram origem em relatórios do Coaf que apontaram movimentações financeiras atípicas de assessores:

— Falam de tudo (no caso do Coaf): que eu interferi, que quero prejudicar as investigações. Citam as questões da minha família. Tudo que poderia fazer com a minha família já fizeram: quebraram o sigilo, passaram para frente as informações, passaram para a imprensa e causaram um transtorno enorme para minha família.