O Estado de São Paulo, n. 46046, 12/11/2019. Política, p. A8

 

'O lulismo é uma bola de chumbo', afirma Ciro

Pedro Venceslau

Adré Italo Rocha

12/11/2019

 

 

Ex-ministro diz que discurso de Lula amarra o País ao passado e descarta aliança com PT

Ex-presidenciável. Ciro Gomes, ao chegar para palestra numa faculdade de São Paulo: críticas a Lula, ao PT e a Bolsonaro

Dois dias depois do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursar para a militância em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e reacender a polarização política com o presidente Jair Bolsonaro (PSL), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), candidato derrotado à Presidência em 2018, fez duras críticas ao petista, a quem chamou de “sem escrúpulo”. “Lula é um encantador de serpentes. A presunção dele é que as pessoas são ignorantes e que pode, usando fetiches, intrigas e a absoluta falta de escrúpulos que o caracteriza, navegar nisso. O mal que Lula está fazendo ao Brasil é muito grave e extenso”, afirmou.

Ciro falou com jornalistas ontem à tarde, antes de uma palestra na universidade FMU, na capital paulista. O ex-ministro apoiou Lula pela primeira vez na eleição presidencial de 1989, quando era prefeito de Fortaleza, no 2.° turno da eleição de 2002, e também nas eleições de 2006, quando era ministro da Integração Nacional no governo do petista. Em 2018, porém, o pedetista se afastou do ex-presidente durante a campanha.

Ontem, o ex-ministro disse ainda que tanto Lula quanto o presidente Jair Bolsonaro querem a polarização. “São duas faces da mesma moeda”, afirmou. Questionado sobre a possibilidade da formação de uma frente ampla de esquerda para enfrentar o grupo de Bolsonaro em 2020 e 2022, o ex-ministro descartou de forma categórica qualquer possibilidade de estar ao lado do PT. “O lulopetismo virou uma bola de chumbo amarrando o Brasil ao passado. Ele (Lula) está fazendo de conta que é candidato e que foi inocentado”, disse Ciro. Em seguida, afirmou que “nunca mais” vai andar “com a quadrilha que hegemoniza o PT”.

Segunda instância. Sobre a possibilidade do Congresso encampar uma proposta que restitua a possibilidade de prisão em segunda instância, o pedetista disse que a Constituição “não é cueca” para ser trocada pela sujeira do dia a dia. “O artigo 5.° da Constituição Federal repete entre nós um princípio de todo constitucionalismo mundial: a presunção de inocência até que o trânsito em julgado aconteça. Contra essa cláusula não pode haver emenda”, disse.

Em seu discurso em São Bernardo no sábado, Lula mostrou disposição para viajar pelo Brasil para aglutinar a oposição em torno do seu nome. Em sua fala, disse Bolsonaro foi eleito para governar para o povo brasileiro “e não para os milicianos do Rio”. O ex-presidente também atacou os ministros Paulo Guedes, da Economia, e Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, e a Operação Lava Jato.

O ex-presidenciável afirmou que tem respeito pelo “petista médio” e lembrou que apoiou os governadores Camilo Santana no Ceará, Rui Costa na Bahia e Wellington Dias no Piauí. “Meu problema é com a cúpula corrompida do lulopetismo. Com essa gente nem para ir para o céu”. Ainda segundo o pedetista, Lula e Bolsonaro são “rigorosamente iguais” do ponto de vista econômico. “Há uma distinção: o Lula paralisou as privatizações e usou as estatais para subornar gente para seu projeto de poder. A polarização é só no fetiche e no adjetivo”.

Bolívia. O ex-ministro comentou ainda a situação da Bolívia e a renúncia de Evo Morales da presidência do país. “Todas as pessoas de bem do mundo devem gritar em alto e bom som que exigem providências da comunidade internacional que protejam a vida do presidente Evo Morales. Ele corre risco de vida”, afirmou.

Ele chamou de “calhorda” a posição dos países vizinhos, inclusive o Brasil, quando negaram ceder espaço aéreo para que Morales tentasse asilo político. “A Bolívia está entrando em ambiente de absoluta anomia”, afirmou. “Há uma evolução para a violência fruto de um golpe de Estado ao modo anos 50 e 60”, completou.

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Major Olimpio pede a prisão de Lula por discurso no ABC

Daniel Weterman

12/11/2019

 

 

O senador Major Olimpio (PSL-SP), líder do PSL na Casa, entrou com representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) para pedir a prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por causa do discurso feito pelo petista a apoiadores no ABC Paulista no último sábado, 9. “Uma incitação desta natureza ultrapassa qualquer razoabilidade de liberdade de expressão e demonstra um projeto de poder que quer se utilizar da violência e da quebra da ordem pública para a proteção de criminosos”, escreveu o senador no documento.

Olimpio afirmou que o petista incitou a violência contra a ordem pública e pede para que o procurador-geral da República, Augusto Aras, instaure procedimentos contra o ex-presidente com base na Lei de Segurança Nacional.

Solto desde a sexta-feira passada, Lula criticou contexto político e econômico do País, cobrando da esquerda uma postura mais firme.

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'Justiça não tolerará crise institucional e saberá agir', diz Toffolli

Tânia Monteiro

12/11/2019

 

 

Presidente do STF reage às declarações de Lula contra o “lado podre' da Justiça, da PF e do Ministério Público

Equilíbrio. Toffoli afirma que o Judiciário serve à ‘pacificação’

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, reagiu aos discursos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, após ser solto na sexta-feira, tem feito críticas à “banda podre” de instituições como a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal. Segundo Toffoli, “o Judiciário e a Justiça são feitos para a pacificação social”.

“Se alguém quer se valer da Justiça para uma luta social, não vai conseguir. A Justiça não tolerará uma crise institucional e saberá agir a tempo e a hora”, afirmou ao Estado, sem mencionar nomes. Para Dias Toffoli, “radicalismo não leva a lugar nenhum”. “O que se espera é que as pessoas tenham serenidade e pensem no Brasil.”

O presidente do Supremo declarou ainda que “a nação brasileira é devedora das Forças Armadas para a construção do Brasil e para a unidade nacional, assim como o Judiciário”. E completou: “O Judiciário saberá agir no momento certo”.

Em entrevista ao site O Antagonista, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não descarta acionar a Justiça contra Lula. “Temos uma Lei de Segurança Nacional para ser usada. Alguns acham que as falas desse elemento, que por ora está solto, infringem a lei. Agora, nós acionaremos a Justiça quando tivermos mais do que certeza de que ele está nesse discurso para atingir os seus objetivos”, disse.

Na semana passada, Toffoli deu o voto de minerva que permitiu a presos condenados, como Lula, aguardarem em liberdade até que todos os seus recursos sejam julgados pela Justiça. A decisão mudou entendimento anterior da Corte pelo qual era possível o cumprimento da pena a partir da condenação em segunda instância.

A mudança no entendimento permitiu a soltura, além de Lula, de outros condenados, como o ex-ministro José Dirceu, na Lava Jato, e o ex-governador de Minas, Eduardo Azeredo, no caso do mensalão mineiro.

Lula fez dois discursos após deixar a prisão. Em um deles, disse que foi condenado pelo “lado podre do Estado brasileiro, o lado podre da Justiça, o lado podre do Ministério Público, o lado podre da Receita Federal, o lado podre da Polícia Federal, que trabalharam para tentar criminalizar a esquerda, o PT e o Lula.”

José Dirceu convocou “esquerdistas” a saírem do imobilismo. “Estou de novo na trincheira da luta. Agora não é mais do Lula livre. Agora é para nós retomarmos o governo”, disse.

Mediação

“Se alguém quer se valer da Justiça para uma luta social, não vai conseguir. A Justiça não tolerará uma crise institucional e saberá agir a tempo e a hora.”

“O que se espera é que as pessoas tenham serenidade e pensem no Brasil.”

Dias Toffoli

PRESIDENTE DO SUPREMO