Título: Crescimento socialista começa a ser testado
Autor: Colares, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 30/10/2012, Política, p. 4

Apesar da expansão do PSB e da influência no Nordeste, Eduardo Campos terá uma série de obstáculos se quiser entrar na corrida pelo Planalto

"A leitura das eleições municipais é insuficiente para prever uma eleição nacional." A frase do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), pode não estar direcionada a uma legenda específica, mas serve ao PSB de Eduardo Campos. Nessas eleições, o partido teve o melhor resultado entre as capitais, abocanhando cinco prefeituras — Recife, Belo Horizonte, Fortaleza, Cuiabá e Porto Velho — e reforçou a influência na Região Nordeste. Mas isso não significa que o atual governador de Pernambuco e presidente da sigla vai encontrar brisa e água fresca no percurso até 2014 se resolver encarar mesmo a disputa presidencial.

Ao contrário, Campos enfrentará problemas até dentro do próprio Partido Socialista Brasileiro, começando por duas das capitais recém-conquistadas, Belo Horizonte e Fortaleza. A falta de apoio em uma importante capital nordestina, Salvador, onde ACM Neto (DEM) venceu, e as consequências de um possível conflito com o PT também minam o terreno em que o presidente do PSB vai pisar nos próximos dois anos. As vitórias dos socialistas Marcio Lacerda na capital mineira e de Roberto Cláudio em Fortaleza não podem ser atribuídas à força política de Eduardo Campos, o que dificulta a formação de palanques nessas capitais.

Lacerda, por exemplo, não só foi secretário de Desenvolvimento Econômico de Aécio Neves (PSDB) em Minas Gerais como teve o tucano como principal cabo eleitoral. Em uma possível disputa entre Aécio e Campos pela faixa presidencial, há grande possibilidade de o prefeito de Belo Horizonte fechar com o tucano, e não com o atual partido.

Na capital cearense, a vitória de Roberto Cláudio é creditada aos irmãos socialistas Cid e Ciro Gomes, que tiveram sérias desavenças públicas com o presidente do PSB. Em 2010, ainda sem engolir o apoio do PSB à candidatura de Dilma Rousseff, Ciro disse que o presidente da legenda não estava no nível que a história impunha a ele. Recentemente, Cid defendeu a reeleição da presidente.

Satélite Sem contar que, com Dilma concorrendo, o lançamento da candidatura de Eduardo Campos significa rompimento com o PT. O PSB, que tem dois ministérios no atual governo, tenta empurrar pelo menos para o fim de 2013 as discussões em torno da corrida presidencial. Mas a voz do partido pode ser resumida na declaração do senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que, mesmo dizendo que "o lugar de 2014 é em 2014", já declarou que a legenda não vai aceitar ser mero satélite, orbitando ao redor do PT.

Rollemberg lembrou ainda que o PSB foi o partido que mais apoiou o PT no primeiro e no segundo turno — foram 413 coligações com petistas encabeçando a chapa. A recíproca, no entanto, não ocorreu. "No segundo turno, o PT disputou 17 prefeituras e teve o apoio do PSB em 10. O PSB disputou sete, mas o PT só nos apoiou em uma (Duque de Caxias, no Rio de Janeiro)", disse. Apesar do crescimento nas eleições deste ano, no cômputo geral, o PSB elegeu 442 prefeitos. Entre os sete maiores partidos, o resultado só foi melhor que o do DEM (277), perdendo inclusive para o recém-criado PSD (495).

As pedras no caminho Confira os problemas que Eduardo Campos terá que contornar caso confirme a pretensão de disputar o Palácio do Planalto em 2014

Rompimento com o PT Se quiser lançar o nome de Eduardo Campos para disputar a Presidência em 2014, o PSB vai ter que romper a aliança com Lula e Dilma. Nessas eleições, o PSB foi o partido que mais apoiou o PT. Foram 413 coligações com petistas nas cabeças de chapa.

Efeito dominó O racha com o PT pode custar ao PSB espaço na Esplanada. Hoje, os socialistas ocupam o Ministério da Integração Nacional, com Fernando Bezerra Coelho, e a Secretaria de Portos, cujo titular, Leônidas Cristino, tem status de ministro. A fatura do eventual rompimento com o governo federal seria, fatalmente, cobrado pela base.

Capilaridade Apesar de ter abocanhado cinco capitais, melhor resultado nesse quesito, o PSB não tem tanta expressividade quando se contabiliza todos os cargos de prefeitos e de vereadores. O partido elegeu 442 prefeitos, atrás do PMDB, do PSDB, do PT, do PP e do recém-criado PSD. Entre os sete maiores, só ganha do DEM. E, sem uma ampla vascularização do partido entre os municípios, uma campanha de porte presidencial fica bastante comprometida.

Belo Horizonte Apesar de entrar na matemática socialista, a vitória de Marcio Lacerda (PSB), prefeito reeleito na capital mineira, entra na conta de Aécio Neves (PSDB), que foi o principal cabo eleitoral do aliado. Em uma possível oposição Aécio contra Eduardo em 2014, Lacerda deve compor o palanque do tucano em detrimento do presidente do próprio partido.

Fortaleza A capital cearense também entra no balanço positivo do PSB nas eleições, mas não necessariamente no de Eduardo Campos. Lá, o prefeito eleito Roberto Cláudio (PSB) fecha com os irmãos Cid e Ciro Gomes, que já protagonizaram importantes desavenças públicas com Eduardo Campos e podem não facilitar a vida do governador de Pernambuco.

Salvador A força de Eduardo no Nordeste sofre um deficit na capital baiana. Na disputa pela prefeitura, quem levou a melhor foi ACM Neto (DEM), que, na balança das eleições presidenciais, pesa para o lado de Aécio Neves.

>> ponto a ponto Eduardo Campos Hora de comemorar

» Rosália Rangel

Recife — No dia seguinte às eleições de domingo, o presidente do PSB, Eduardo Campos, convocou uma entrevista coletiva para comentar o resultado da disputa. Na ocasião, o governador de Pernambuco disse que não pretende antecipar o debate de 2014 tampouco entrar em conflitos com o PT, com quem travou embates importantes nesta eleição. Nesse momento, o socialista quer apenas comemorar os resultados obtidos pelo partido e deixar para depois os acertos que precisarão ser feitos com os atuais aliados, para evitar que se transformem rapidamente em desafetos.

Relação com Dilma Temos uma relação com a presidente Dilma de grande respeito. Estamos na base de sustentação do seu governo. Ajudamos no processo eleitoral por ver nela virtudes e qualidades para ser presidente da República. É um direito de cada um dizer o que acha e o que presume da nossa relação com a presidente, mas nossa relação continua a ser de companheiros e muito respeito. (Em um telefonema) a presidente mandou cumprimentos e recomendou que fosse o mais discreto possível com vocês. Falamos sobre vários assuntos administrativos e ficamos de ter uma conversa nos próximos dias. Eu creio que para a outra semana.

Amizade com Lula Falaram muito sobre a relação com o presidente Lula, com o PSB, comigo. Está cheio de notícia nestes últimos 100 dias. Mas o mais importante é o fato. O fato é que uma relação de tantos anos, que passou por momentos tão duros e bonitos da política brasileira nos últimos 20 anos ou mais, não vai ficar ao sabor do disse me disse de quem se interessa por separar as pessoas, por intrigar as pessoas. O presidente Lula tem extraordinária experiência de vida e maturidade. Quanto ao tema de 2014, é muito cedo para a gente pensar qual será a conjuntura que se viverá até lá. Vai ser preciso a gente viver para ver.

Força do partido Quem ganha eleição ganha também responsabilidade, e é preciso saber usar a vitória e a força política para aquilo que interessa ao país. Para ajudar o governo federal a enfrentar esse momento em que a crise internacional tem repique, para tomar medidas que vão ao encontro do crescimento, com inclusão social, com valores que são valores caros ao PSB, e é isso que vamos fazer.

Os próximos passos Agora é cuidar de ajudar os que ganharam os municípios em nome do PSB, para que possamos prepará-los para fazer o melhor a partir de janeiro. O seminário do PSB (marcado para o fim de novembro) é para a análise de conjuntura, para que os prefeitos tenham uma ideia de como será o primeiro ano das administrações que, geralmente, é um ano mais duro, em que se trabalha com orçamento que foi feito pelo antecessor. Então, a primeira preocupação é termos uma análise de conjuntura com apoio dos economistas e técnicos ligados ao partido. Depois, uma ideia dos primeiros passos para a nova gestão.