O globo, n.31362, 19/06/2019. Rio, p. 09

 

A arma do crime 

Gustavo Goulart 

Carolina Heringer

19/06/2019

 

 

Pistola é achada no quarto de enteado de pastor morto

O principal fio condutor da polícia para desvendar o assassinato do pastor evangélico Anderson Carmo de Souza, de 49 anos, ainda é uma trama envolvendo a família. Responsável pela investigação do caso, a delegada Bárbara Lomba, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, disse ontem à noite que uma pistola calibre 9mm foi encontrada no quarto de Flávio dos Santos Rodrigues, de 38 anos,filho de um relacionamento anterior da deputada federal Flordelis (PSD). Ela era casada com a vítima — o casal tinha 55 filhos, sendo 51 adotivos. Flávio foi detido na segunda-feira, logo após o enterro do padrasto .

 

Uma perícia preliminar, de acordo com Bárbara, indicou que a pistola encontrada no quarto de Flávio foi a arma usada no crime. O laudo cadavérico de Anderson, elaborado pelo Instituto Médico-Legal, identificou 30 perfurações de entrada e saída de projéteis, a maioria na região pélvica. Além de Flávio,Lucas dos Santos, de 18 anos, foi preso na segunda-feira, logo após o enterro do pai. Fontes da polícia afirmaram que ele disse ter participado do ataque ao pastor, que ocorreu na madrugada de domingo, a pedido de Flávio. Oficialmente, no entanto, a Delegacia de Homicídios não confirmou a informação.

— O fato é que, na casa da família, encontramos uma pistola 9mm, no quarto ocupado pelo Flávio. Coletamos o padrão balístico. Nós achamos a arma utilizada no crime —informou Bárbara.

MAIS DEPOIMENTOS

Ontem à noite, duas pessoas que estavam na casa da família, em Niterói, foram levadas para prestar depoimentos na Delegacia de Homicídios. A identidade delas não foi revelada, mas seria, de acordo com agentes, um casal de filhos de Flordelis e Anderson. Equipes passaram toda a tarde no imóvel em busca de provas do assassinato. Procuraram principalmente o celular de Anderson, que não foi entregue à polícia por Flordelis. Ela alegou que o aparelho desapareceu. Desde o início, ela sustenta que Anderson foi vítima de uma tentativa de assalto. O casal tinha saído no domingo e voltava para casa de madrugada quando Anderson, segundo Flordelis, foi buscar algo que teria esquecido no carro. Nesse momento, ele foi atacado. Câmeras de segurança teriam registrado a ação.

— As imagens são ótimas —afirmou Bárbara Lomba.

Os dois filhos considerados suspeitos tinham antecedentes criminais. Flávio foi detido por conta de um mandado de prisão por violência doméstica logo após o sepultamento de Anderson, no cemitério Memorial de Nictheroy, em São Gonçalo. Lucas foi preso porque tinha contra ele um mandado de prisão de quando ainda era menor de idade por tráfico de drogas. Eles são, no entanto, investigados no inquérito que apura o assassinato.

Depois do sepultamento, em entrevista ao site evangélico Pleno News, Flordelis rebateu as suspeitas que recaem sobre os filhos. Ela disse que a polícia se excedeu ao prender Flávio ainda no cemitério:

— A polícia queria “aparecer”. Minha filha conta que os mesmos policiais que levaram meu filho também estavam na cerimônia de velório em nossa igreja na noite anterior. Por que não agiram naquele momento, mas só no enterro? Vou avaliar tudo isso e entrar com uma ação com tudo o que for cabível.

No desabafo, a deputada ainda criticou boatos sobre supostos abusos sexuais praticados pelo marido:

—Agora também estão dizendo que meu marido estuprava os filhos, que era pedófilo. Quanta mentira.