O Estado de São Paulo, n. 46025, 22/10/2019. Política, p. A10

 

Eduardo vira líder do PSL na Câmara

Camila Turtelli

22/10/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Alçado ao cargo após três tentativas, filho do presidente destitui 12 vice-líderes ligados a Luciano Bivar; ala ‘bivarista’ organiza reação

Articulação. Eduardo Bolsonaro na Câmara: ‘A gente está tentando colocar panos quentes’

Depois de três tentativas, o Palácio do Planalto conseguiu emplacar ontem o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, como líder da bancada na Câmara, em substituição a Delegado Waldir (GO), que abriu mão do cargo. O primeiro ato de Eduardo como líder foi destituir todos os 12 vice-líderes do partido na Casa. A determinação atinge principalmente nomes ligados ao presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), que disputa com os ‘bolsonaristas’ o controle da sigla.

Em outro movimento, parlamentares do grupo de Bolsonaro – também punidos na semana passada – anunciaram ontem que entrarão com recursos no Supremo Tribunal Federal (STF), na tentativa de evitar a suspensão de suas atividades, como a participação em comissões da Câmara e até a expulsão. Dezenove deputados ficaram surpresos ao serem notificados, no fim do dia, de que o novo Conselho de Ética do PSL abrirá processo contra eles.

A cúpula do partido chegou até mesmo a enviar uma notificação para o próprio Eduardo, mas seu gabinete não recebeu o documento. O Diretório Nacional da legenda vai se reunir hoje, em Brasília, para dar posse aos integrantes do Conselho de Ética. Como a ala pró Bivar tem maioria na estrutura partidária, o colegiado já tem como missão alvejar o grupo de Bolsonaro.

Na sexta-feira, uma convenção extraordinária do partido deu aval para tirar Eduardo da presidência do PSL em São Paulo e o senador Flávio Bolsonaro (RJ) do comando do PSL no Rio. De acordo com o deputado Júnior Bozzella (PSL-SP), um dos principais porta-vozes de Bivar, depois que os processos disciplinares forem abertos, os envolvidos terão cinco dias para recorrer.

A justificativa oficial da presidência do PSL para a abertura do processo é a de que os parlamentares atacaram o partido e correligionários em discursos, entrevistas e nas redes sociais. Um dos notificados foi o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), que na semana passada gravou uma reunião na qual Delegado Waldir, então líder da bancada, dizia que ia “implodir” Bolsonaro e chamava o presidente de “vagabundo”. Silveira foi considerado pelo grupo de Bivar como “infiltrado traidor”.

A confirmação de Eduardo como novo líder enfraqueceu sua candidatura à embaixada brasileira nos Estados Unidos, e ocorreu em um cenário marcado por intrigas, “guerra de listas” de assinaturas por parte dos dois lados e troca de ofensas. A Secretaria-Geral da Mesa da Câmara confirmou que o filho de Bolsonaro recebeu o apoio de 28 dos 53 deputados do PSL – a lista original tinha 29 nomes, mas um não foi aceito. Até a noite, porém, ninguém tinha segurança de que ele permaneceria no cargo.

“A gente está tentando colocar panos quentes. Desde ontem (anteontem) à noite estou sem falar nada em rede social”, disse Eduardo, que chegou a trocar ofensas pelo Twitter com a colega Joice Hasselmann (PSL-SP), destituída por Bolsonaro, na quinta-feira, da liderança do governo no Congresso. O tom apaziguador, no entanto, contrasta com a dispensa dos 12 vice-líderes. “O meu desejo é que o PSL voltasse a ser governo e votasse a pauta de governo. Do meu lado não tem rancor nenhum. Aqui somos políticos. Político não faz o que ele quer. Político é a arte do possível”, comentou Eduardo.

Amigo de Bivar, Waldir entregou o cargo e, logo pela manhã, gravou um vídeo dizendo que o PSL havia decidido retirar a ação de suspensão contra cinco parlamentares – Carla Zambelli (SP), Alê Silva (MG), Filipe Barros (PR), Carlos Jordy (RJ) e Bibo Nunes (RS) –, todos eles seguidores de Bolsonaro.

O anúncio da desistência foi feito após informações sobre um acordo de “pacificação” no PSL, alinhavado com a participação do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. Antes de o vídeo ser divulgado, porém, a ala ligada a Bolsonaro já tentava destituir novamente Waldir. Pelo Twitter, o deputado Major Vitor Hugo (GO), líder do governo na Câmara, negou qualquer acordo mediado por Ramos. “Não fiz acordo nenhum. A deputada Joice disse que eu rompi acordo. Tem de me respeitar. Eu jamais deixaria de cumprir minha palavra”, afirmou Ramos ao Estado.

Articulação

Eduardo Bolsonaro na Câmara: 'A gente está tentando colocar panos quentes'

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'Inventaram a crise', diz Bolsonaro em Tóquio

Julia Lindner

22/10/2019

 

 

Em viagem oficial, presidente afirma que PSL tem muitos novatos e que discussões irão cicatrizar ‘naturalmente’

Viagem . Jair Bolsonaro desembarca com a sua comitiva no Japão: ‘O bem vencerá o mal’

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que houve um “bate-boca exacerbado” entre integrantes do seu partido, o PSL, mas que deixará a ferida cicatrizar naturalmente. Discussões entre os parlamentares nos últimos dias envolveram até mesmo os filhos do presidente, o vereador licenciado Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Apesar dos conflitos, Bolsonaro insiste que a crise política é uma “invenção” e que os conflitos no partido não terão impacto na tramitação da reforma da Previdência nesta semana. Para ele, o texto será aprovado pelo Senado nas próximas 24 horas. “Que crise política? Inventaram a crise política. Não há crise nenhuma. Zero.”

Ao circular a pé por ruas da capital japonesa, acompanhado da comitiva presidencial, Bolsonaro visitou pontos turísticos, tirou fotos com apoiadores e conversou com jornalistas. Em entrevista à imprensa, ele creditou os problemas no PSL ao fato de que a maior parte dos integrantes da sigla ser composta por parlamentares de primeiro mandato.

“A maioria do PSL é nova na política, novato que chega achando que já sabe de tudo.

Passei 28 anos ali (no Congresso) sem um cargo (no governo)”, afirmou o presidente enquanto passeava pela rua Takeshita Dori, destinada apenas a pedestres e cercada por lojas. “Problemas eu tive lá dentro (do Parlamento), mas sem chegar ao nível que um parlamentar chegou agora, com linguajar que nunca vi em lugar nenhum do mundo.”

Questionado se ficou magoado, Bolsonaro afirmou que as discussões fazem parte da política. Sobre possíveis sequelas dos embates públicos, respondeu que deixará cicatrizar naturalmente. “As coisas acontecem. É igual uma ferida, cicatriza naturalmente”, disse. “Entre mortos e feridos, todo mundo vivo.”

Durante um ritual usado para purificação em um templo xintoísta, no bairro Shinbuya, em Tóquio, o presidente disse que “está precisando” deste tipo de limpeza. Ele fez o comentário ao ouvir a explicação de que o procedimento de lavar das mãos com água corrente serve para combater o mal e impurezas. “Estou precisando, estou precisando”, afirmou.

Mais cedo, ao chegar no Hotel Imperial, onde está hospedado, ele disse que “o bem vencerá o mal”, em referência às trocas de lideranças ligadas ao governo e ao partido no Congresso ocorridas na semana passada. Ao chegar a Tóquio, o presidente indicou que o cenário político poderá mudar durante sua ausência de dez dias para um périplo pela Ásia e Oriente Médio. “A política, como dizia Ulysses Guimarães, é uma nuvem. A resposta é essa”, disse Bolsonaro, ao ser questionado se a crise no Brasil o fará mudar os planos em relação ao partido. A frase, no entanto, é atribuída ao político mineiro Magalhães Pinto (1909-1996), que dizia que “política é como nuvem: você olha, ela está de um jeito; olha de novo, ela já mudou”.

Ao viajar, o presidente deixou para trás um partido dividido e dificuldades na articulação com o Congresso. “As providências estão sendo tomadas.”

O presidente está na capital japonesa para a cerimônia de coroação do imperador Naruhito. Depois, seguirá para China, Emirados Árabes, Catar e Arábia Saudita.

Tudo certo

“Que crise política? Não há crise política. Zero.”

“É igual a uma ferida, cicatriza naturalmente.”

Jair Bolsonaro,

PRESIDENTE

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Promotoria pede lista de gabinete de deputado de SP

Bruno Ribeiro

22/10/2019

 

 

O Ministério Público de São Paulo deu prazo de 20 dias para a Assembleia Legislativa apresentar a lista de funcionários e os comprovantes de pagamento de todos os servidores que trabalham ou trabalharam para o deputado estadual Gil Diniz (PSL), um dos principais aliados da família Bolsonaro no diretório do partido no Estado. Diniz é acusado por um ex-assessor de operar um esquema de “rachadinha” – quando os funcionários têm de devolver parte ou a totalidade dos salários ao político que o emprega.

O pedido faz parte de um dos dois inquéritos abertos para investigar o caso – um na esfera cível e outro na criminal, tocado pelo procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio, porque o deputado tem foro especial.

O autor da denúncia, Alexandre Junqueira, afirma que tinha de dar parte de seu salário – uma “gratificação” – para o deputado. Segundo ele, outros funcionários também tinham de repassar parte dos próprios vencimentos ao parlamentar, que nega. O dinheiro, segundo o ex-servidor, serviria para pagar apoiadores de Diniz.

Junqueira deve prestar depoimento dentro de 30 dias. Já Diniz deverá enviar sua defesa por escrito em um prazo de 15 dias. O gabinete do deputado afirmou que ainda não foi notificado sobre a abertura da investigação. Segundo o gabinete, na semana passada, assessores de Diniz juntaram voluntariamente seus extratos bancários e enviaram ao deputado, para auxiliá-lo na defesa.