O Estado de São Paulo, n. 46028, 25/10/2019. Política, p. A10

 

Filhos de Bolsonaro podem nomear até 113 assessores

Renato Onofre

25/10/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Flávio e Eduardo controlam cargos nos gabinetes do Senado e da Câmara, além de comissões; folha chega a quase R$ 1 mi por mês

Ao todo, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSLSP), ambos filhos do presidente Jair Bolsonaro, têm direito de nomear 113 pessoas no Congresso, o que gera uma folha de pagamento de quase R$ 1 milhão por mês. Como ambos ocupam cargos na estrutura do parlamento – Flávio é terceiro secretário do Senado e Eduardo é líder do PSL e presidente da Comissão de Relações Exteriores – eles possuem a prerrogativa de preencher vagas além das disponíveis nos seus gabinetes pessoais. Do total, 24 desses cargos têm salários acima de R$ 20 mil.

Em áudios divulgados pelo jornal O Globo, Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), cita os cargos à disposição dos dois filhos do presidente e indica ao seu interlocutor o caminho para preenchê-los. “Pode indicar para qualquer comissão ou, alguma coisa, sem vincular a eles em nada. ‘20 continho’ aí para gente caía bem pra c*.”

Em outro trecho divulgado pelo jornal, Queiroz menciona especificamente seu ex-chefe. “O gabinete do Flávio faz fila de deputados e senadores lá para conversar com ele. Faz fila. É só chegar: ‘Meu irmão, nomeia fulano para trabalhar contigo aí’. Salariozinho bom, para a gente que é pai de família, p* que pariu, cai igual uma uva (sic).”

De acordo com O Globo ,a mensagem de áudio foi enviada em junho – seis meses após o Estado revelar documentos do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf, agora Unidade de Inteligência Financeira) indicando “movimentações atípicas” de R$ 1,2 milhão em um ano nas contas de Queiroz. Flávio foi deputado estadual de 2003 a 2018.

O Estado mapeou os cargos e os salários nos gabinetes dos dois filhos de Bolsonaro e, também, em postos-chave que cada um ocupa como, no caso de Eduardo, a liderança do PSL e a Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Já Flávio tem aliados nomeados na Terceira Secretaria do Senado, que comanda, além dos gabinetes de Brasília e do Rio de Janeiro. O levantamento contabilizou os cargos que dependem exclusivamente da vontade dos dois parlamentares.

Apesar de poder gastar até R$ 500 mil por mês em verba para contratar funcionários, Flávio não utiliza todo o montante, segundo sua assessoria. Por mês, ele gasta R$ 366 mil da verba do Senado com os salários de 18 funcionários em seu gabinete na Casa, sete no escritório que mantém no Rio e quatro na Terceira Secretaria da Casa. Os valores variam entre R$ 27 mil (já com os descontos) a R$ 2 mil.

‘20 continho’. Com Flávio, 9 das 29 pessoas nomeadas por ele ganham igual ou mais do que os ‘20 continho’ mencionado por Queiroz no áudio, em referência ao salário de R$ 20 mil. Entre os contratados na estrutura comandada por Eduardo, 15 de 84 servidores recebem mais de R$ 20 mil.

O número de cargos que o deputado Eduardo Bolsonaro pode preencher aumentou significativamente nesta semana após ele vencer uma queda de braço no seu partido e ser confirmado líder do PSL. Com essa nova função, o filho “03” de Bolsonaro ganhou 71 cargos a mais para preencher. Segundo a assessoria do deputado, porém, ele manteve os nomes indicados pelo antigo líder, Delegado Waldir (PSL-GO). De Pequim, onde cumpre agenda oficial, Jair Bolsonaro disse que o filho herdou cargos preenchidos pelo seu antecessor na liderança. O número de vagas depende da quantidade de deputados que cada partido elegeu. O PSL é o segundo maior da Casa.

Defesa. Questionados, via assessoria, se há indicações políticas em seus gabinetes, Flávio e Eduardo não responderam até a conclusão desta edição. Em vídeo divulgado pelas redes sociais ontem à tarde, Flávio Bolsonaro negou que Queiroz influencie nas contratações do seu gabinete.

Já a defesa de Fabrício Queiroz disse que o áudio mostra o capital político do ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Alerj, e afirma que não há indício de cometimento de crime (mais informações nesta página). “Portanto, a indicação de eventuais assessores não constitui qualquer ilícito ou algo imoral, já que, repita-se, Fabrício Queiroz jamais cometeu qualquer ato criminoso.” 

PARA LEMBRAR

Investigação está suspensa

Em dezembro de 2018, o Estado revelou que relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou ocorrência de movimentações ‘atípicas’ na conta pessoal de Fabrício Queiroz – ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), quando o hoje senador era deputado estadual no Rio. Segundo o Coaf, Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão no período de um ano. Onze dias depois, o Ministério Público do Rio abriu investigação para apurar suposta ocorrência de ‘rachadinha’ – quando um servidor repassa parte ou a totalidade do salário ao político que o contratou – no gabinete de Flávio. A investigação foi suspensa por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) em julho deste ano, a pedido da defesa de Flávio.

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'Queiroz cuida da vida dele', diz presidente

Julia Lindner

25/10/2019

 

 

Em viagem à China, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse desconhecer áudio divulgado ontem envolvendo Fabrício Queiroz, ex-assessor de um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). “Eu não sei dessa informação. Por favor, o Queiroz cuida da vida dele, eu da minha. A minha preocupação aqui, para não acabar a entrevista de vocês (jornalistas), é tratar de questões que envolvem interesse de todos nós brasileiros”, disse à imprensa após jantar com empresários em Pequim.

Ao ser indagado sobre a divulgação do áudio novamente, o presidente afirmou que “não está sabendo”. “Quando esse áudio veio à tona?”, perguntou Bolsonaro. “Não sei, desconheço. Não falo com o Queiroz desde quando aconteceu esse problema”, afirmou sobre as suspeitas do ex-assessor atuar na prática da “rachadinha” – quando o titular do gabinete fica com todo ou parte do salário do funcionário público que presta serviços ao parlamentar.

Fabrício trabalhou no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), entre 2007 e 2018. A investigação sobre o caso – que identificou movimentações financeiras atípicas na conta do ex-assessor – está parada após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

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Flávio afirma que não vê o ex-assessor 'há quase 1 ano'

Gregory Prudêncio

25/10/2019

 

 

Em vídeo divulgado em suas redes sociais, senador diz estar ‘confiante de que a Justiça vai ser feita’

Afastados. Flávio diz saber de Queiróz só pela imprensa

O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) publicou um vídeo em suas redes sociais em que rebate um áudio de WhatsApp atribuído ao seu ex-assessor, Fabrício Queiroz, divulgado ontem pelo jornal O Globo.

“O que fica bem claro nesse áudio é que ele não tem nenhum acesso ao meu gabinete, o que me parece bastante óbvio”, diz o senador no vídeo. O filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse ainda estar em um momento de “bastante tranquilidade”.

O áudio, segundo informações do jornal, seria de junho de 2019, ou seja, depois de sua exoneração como assessor parlamentar de Flávio na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).

“Eu não tenho mais nenhum tipo de contato com ele há quase um ano. Nunca mais falei. A última notícia que tive, foi pela imprensa, é de que ele estaria tratando um câncer no Estado de São Paulo”, disse Flávio.

O senador falou ainda que tem a verdade ao seu lado e se disse “confiante de que muito em breve a Justiça vai ser feita e isso tudo vai estar tranquilamente esclarecido”.

Defesas. Frederick Wassef, advogado de Flávio Bolsonaro, questionou a veracidade da “suposta gravação” e diz que as informações não procedem.

“O ex-assessor e Flávio Bolsonaro não mantêm contato e jamais se encontraram desde o ano passado, quando Fabrício Queiroz foi exonerado da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro”, afirmou.

A defesa do ex-assessor diz que a indicação de eventuais assessores não constitui qualquer ilícito. “A defesa técnica de Fabrício Queiroz vê com naturalidade o fato dele ser uma pessoa que ainda detenha algum capital político, tendo contribuído de forma significativa na campanha de diversos políticos no Estado do Rio de Janeiro", disse o advogado Paulo Klein.

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PSL registra pedido de expulsão de Eduardo

Camila Turtelli

25/10/2019

 

 

A Executiva Nacional do PSL registrou em cartório ontem um pedido de expulsão do líder da bancada do partido na Câmara, Eduardo Bolsonaro (SP). Deputados paulistas da ala bivaristas entregaram o pedido ao partido.

Eles querem ainda a destituição de Eduardo do cargo de presidente do diretório estadual de São Paulo. O documento é assinado pelo senador Major Olímpio e pelos deputados Abou Anni, Coronel Tadeu, Joice Hasselmann e Júnior Bozzella.

Outro pedido é que seja revogado o cancelamento de 200 diretórios municipais do PSL em São Paulo. A alegação é que Eduardo suspendeu esses diretórios de forma ilegal e que age colocando interesses pessoais acima do partidário. O documento inicial pedia apenas destituição e a reativação dos diretórios, mas o pedido de expulsão foi feito em um complemento.

O grupo bivarista anexou ao documento uma postagem feito por Eduardo no dia 4 de outubro em sua conta no Twitter. “Nos locais em SP onde houver judicialização do PSL municipal apoiaremos candidatos de outros partidos ou ninguém, simples. Não vamos apoiar alguém só porque é do PSL”, escreveu Eduardo. Para os bivaristas, isso é um sinal de que o Eduardo age contra o partido.