O Estado de São Paulo, n. 45992, 19/09/2019. Economia, p. B1

 

BC corta juros básicos para 5,5% ao ano

Fabrício de Castro

Eduardo Rodrigues

19/09/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

 

SELIC EM QUEDA / Por unanimidade, Copom reduziu a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para um novo piso da série histórica, e indicou a possibilidade de novos cortes nos próximos meses; ao justificar decisão, BC apontou ambiente externo favorável para emergentes e inflação controlada

Em um ambiente de fraqueza da economia e taxas controladas de inflação no Brasil, o Banco Central voltou a reduzir os juros na noite de ontem. O Comitê de Política Monetária (Copom) da instituição anunciou corte de 0,50 ponto porcentual da Selic (a taxa básica de juros), de 6% para 5,50% ao ano. Com isso, a taxa está agora em um novo piso da série histórica.

Ao mesmo tempo, o Banco Central indicou a possibilidade de novos cortes nos próximos meses. A redução de juros foi a segunda no atual ciclo de baixas e era largamente esperada pelos economistas do mercado financeiro. De um total de 55 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, todas estimavam um corte de 0,50 ponto porcentual.

“Em nosso governo, pela segunda vez, a mais baixa taxa de juros da história do Brasil”, comemorou pelo Twitter o presidente da República, Jair Bolsonaro. “É a economia dando certo”, acrescentou.

Ao justificar a decisão, o Copom – formado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, e pelos oito diretores da autarquia – avaliou por meio de comunicado que o ambiente internacional tem sido favorável para países emergentes, como o Brasil. Isso porque economias centrais – como os Estados Unidos – têm adotado “estímulos monetários adicionais”, ou seja, estão reduzindo os juros.

De fato, na tarde de ontem, ainda com a reunião do Copom em andamento no Brasil, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou corte de 0,25 ponto porcentual de sua taxa de juros, para a faixa de 1,75% a 2,00% ao ano.

Sem citar diretamente a alta mais recente da cotação do petróleo nos mercados internacionais, após os ataques a refinarias da Arábia Saudita, o BC brasileiro também ponderou que o cenário “segue incerto” e que há riscos ligados a uma “desaceleração mais intensa da economia global”.

Reformas. Ao avaliar o cenário interno, os dirigentes do BC reconheceram o avanço da agenda de reformas na economia. Eles deixaram de avaliar no comunicado, inclusive, o risco de frustração no andamento das reformas como “preponderante” entre todos os riscos considerados para o controle de inflação. Essa postura surge após a aprovação, há duas semanas, da reforma da Previdência na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado.

Além do cenário externo favorável para emergentes e do avanço das reformas, o BC levou em conta os índices de inflação controlados em sua decisão sobre a Selic. Na nota de ontem, a instituição atualizou suas projeções para a alta de preços. No cenário de mercado – que utiliza expectativas para câmbio e juros do mercado financeiro –, o BC alterou a projeção para a inflação em 2019 de 3,6% para 3,3%. Para 2020, a expectativa passou de 3,9% para 3,6%. Em ambos os casos, as projeções estão abaixo da meta perseguida pelo BC, de inflação de 4,25% este ano e de 4,00% no próximo ano.

Novos cortes. Além de ter reduzido a Selic em 0,50 ponto porcentual, o BC deixou margem para novos cortes. “A consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo”, afirmou o BC no comunicado, sem se comprometer com novo corte de meio ponto porcentual ou com redução de 0,25 ponto porcentual.

“Os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”, acrescentou a instituição.

O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, aposta em mais um corte no encontro do fim de outubro. “É claro que sempre os próximos passos dependem de uma reavaliação do cenário, mas acredito que uma nova redução de 0,50 está garantida”, disse. “A continuidade do ciclo em dezembro vai depender das expectativas de inflação, principalmente para 2021.”

Juro real. Apesar do novo corte da Selic, o Brasil segue entre os países com os maiores juros reais (descontada a inflação) do mundo. Levantamento feito pela Infinity Asset e pelo site MoneYou aponta que o País tem o oitavo maior juro real (1,65%) em um ranking com 40 economias. Na liderança da lista está a Argentina, com taxa real de 10%.

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Para analistas, Selic pode terminar o ano em 4,5%

Beth Moreira

Antônio Perez

Francisco Carlos de Assis

19/09/2019

 

 

Parte dos economistas vê espaço para mais dois cortes seguidos de 0,50 ponto porcentual; bancos também reduzem juros

Diante das justificativas do Banco Central para a queda da taxa básica de juros, parte dos analistas acredita que há espaço para mais dois cortes seguidos de 0,50 ponto porcentual na taxa Selic.

Para Rodolfo Margato, economista do Santander, ao mostrar um cenário benigno para as projeções de inflação para este ano e o próximo, o Comitê de Política Monetária (Copom) sinaliza a possibilidade de mais afrouxamento monetário. “Nossa leitura é de um comunicado ‘dovish’ (política expansionista, de estímulo à atividade econômica), especialmente por conta das projeções de inflação”, explica. O Santander também reitera a expectativa de Selic estável em 4,5% ao longo de 2020.

A economista-chefe da Ourinvest Investimentos, Fernanda Consorte, disse que, apesar de não fazer projeções para taxa de juros, avalia ser perfeitamente factível a Selic encerrar o ano entre 5% e 4,5%.

Para Fernanda, pesa também a favor da continuidade dos cortes da Selic o fato de o cenário de baixa atividade pelo qual passa a economia não possibilitar repasses da alta do dólar para os preços. O comunicado, diz, manteve praticamente os mesmos balanços de riscos vistos na ata da reunião anterior: “O BC segue dando atenção para a atividade externa, mas sinaliza que a queda de juros nas economias centrais pode trazer algum alívio para os emergentes”.

“Acreditamos que essa decisão sinaliza que o Banco Central deve continuar com o processo de corte de juros, se não ocorrerem choques externos relevantes”, diz Gabriela Fernandes, economista chefe da Gauss Capital, sobre o corte do juro.

Crédito. O Bradesco informou que reduzirá os juros de suas principais linhas de crédito a partir de segunda-feira, acompanhando a decisão do Copom. O banco não especificou quais linhas terão taxas menores.

O Itaú Unibanco também anunciou uma redução nas taxas de juros de suas linhas de crédito. O banco disse que vai repassar integralmente o corte de 0,50 ponto porcentual anunciado ontem. Em nota, o banco informa que, para pessoa física, a queda será no empréstimo pessoal e, no caso de pessoa jurídica, no capital de giro. Conforme o Itaú, os valores, que passam a valer a partir de amanhã, variam de acordo com o perfil do cliente e de seu relacionamento com o banco.