O globo, n.31384, 11/07/2019. País, p. 07

 

O general, o filho do presidente e os traumas de um passado recente 

Bruno Góes 

Victor Farias 

11/07/2019

 

 

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, comentou ontem críticas do filho do presidente Jair Bolsonaro, o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC), sobre as medidas de segurança adotadas pelo GSI.

Em audiência na Câmara para tratar da apreensão de 39 quilos de cocaína na Espanha com um militar da Força Aérea Brasileira (FAB) que dava apoio à comitiva presidencial, o ministro afirmou que Carlos é “traumatizado” pelo atentado à faca sofrido pelo seu pai durante a campanha de 2018. Horas depois, o vereador o respondeu pelo Twitter.

—Os comentários do Carlos, eu sei perfeitamente porque tive convívio com ele: ele é extremamente traumatizado pelo atentado que buscou modificar a situação política do Brasil, um atentado à faca que o presidente sofreu —declarou Heleno.

Em resposta ao general Heleno, o vereador publicou ontem no Twitter que é “tremendamente traumatizado” com aquilo que pode acontecer a um “presidente honesto em uma nação historicamente administrada por bandidos e seus fiéis acessórios”.

Em recentes comentários nas redes sociais sobre a prisão do sargento Manoel Silva Rodrigues, flagrado no fim de junho transportando cocaína na comitiva que acompanhava a viagem do presidente ao Japão,

Carlos Bolsonaro afirmou que “há meses” gritava “em vão” sobre a segurança do GSI, mas sempre foi “ignorado”.

Na audiência na Câmara, Heleno citou que Bolsonaro tem comportamento por vezes imprudente em eventos públicos:

—O que acontece muitas vezes com uma autoridade como o presidente Bolsonaro e numa campanha a presidente da República? Ele desrespeita as regras traçadas pela sua segurança. Isso é normal —disse Heleno.

INVESTIGAÇÃO SOB SIGILO

Heleno também disse que o país está “acostumado a passar vergonha”, mas destacou que a apreensão de cocaína foi o primeiro incidente do GSI em décadas. O ministro afirmou que há uma investigação em sigilo e que, por enquanto, “não há indícios de participação de mais ninguém”. O ministro também afirmou que ainda não se sabe se a droga iria ser vendida em Sevilha, onde houve a apreensão, ou se seria desembarcada no Japão, para onde seguiria o avião de apoio à comitiva que esteve no G20.

Heleno acrescentou que suas declarações após o incidente foram deturpadas. Ressaltou que, quando classificou o episódio como um “azar”, referia-se ao fato de o caso ocorrer justo na véspera do G20, evento de grande importância para o país. Sobre outra declaração, a de que não tinha “bola de cristal” para prever o ocorrido, o ministro disse que a frase foi tirada de contexto e que a expressão foi usada porque o avião de apoio não era de responsabilidade do GSI, e sim da Aeronáutica.

Heleno disse ainda que não se preocupa com a influência do ideólogo de direita Olavo de Carvalho no governo.

—O senhor Olavo de Carvalho, se eu encontrar na rua, não sei quem é. Então, não vou dedicar o meu tempo a Olavo de Carvalho, meu tempo é precioso. Nunca dediquei o meu tempo a Olavo de Carvalho e vou continuar não me dedicando. Ele não me atinge em nada —disse. (*Estagiário, sob supervisão de Amanda Almeida).