O Estado de São Paulo, n. 45985, 12/09/2019. Metrópole, p. A22

 

Governo recua e libera 3,1 mil bolsas

12/09/2019

 

 

Capes anunciou reativação de parte dos benefícios a pesquisadores, congelados neste ano, após negociação com Ministério da Economia

Weintraub. ‘Os que já estavam fazendo pesquisa agora têm recursos’, diz ministro; medida atinge programas de maior nota

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC), recuou e vai ofertar parte das bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado que foram congeladas neste ano. Serão oferecidas 3.182 bolsas em 2019 e no ano que vem, segundo anunciou ontem o órgão. A decisão foi negociada com o Ministério da Economia. A gestão Bolsonaro vinha sendo alvo de protestos por causa do bloqueio de verbas.

Em 2019, o dinheiro remanejado para pagar esses pesquisadores foi de R$ 22,5 milhões. Já no ano que vem R$ 600 milhões serão destinados à manutenção das bolsas vigentes e à oferta de novos auxílios. Com isso, o orçamento da Capes para 2020, que estava previsto em R$ 2,48 bilhões, passa para R$ 3,05 bilhões, segundo o MEC.

As novas bolsas fazem parte do montante de 5.613 que não seriam renovadas, conforme anúncio do governo no dia 2. Com a garantia de mais recursos, a Capes voltou a oferecer parte delas. “Como a gente não tinha a solução, segurou. Encontramos a solução, estamos soltando 3.182 bolsas. As pessoas que já estavam fazendo pesquisa têm recursos para continuar recebendo até o fim da pesquisa delas”, disse o ministro Abraham Weintraub. Segundo ele, serão divulgados no fim do mês os detalhes sobre a origem dos recursos.

Conforme a pasta, as novas bolsas serão todas ofertadas em programas com notas 5, 6 e 7 (numa escala de 1 a 7) nas avaliações da Capes. “São dos programas das melhores notas porque esses dão maior retorno para a sociedade”, disse. No primeiro semestre, já haviam sido canceladas 6.198 bolsas da Capes e não há previsão de retomada desses auxílios. “Aquelas bolsas, lá atrás, que estavam com nota muito baixa ou estavam na mão do reitor e ele dava para quem ele quiser deixaram de existir.”

Total 11.811

é o total de bolsas que chegou a ser bloqueado. Dessas, a Capes liberou ontem 3.182.

PARA ENTENDER

CNPq não tem verba garantida

Na semana passada, o ministro da Ciência, Marcos Pontes, disse que faria remanejamento interno no orçamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para pagar o valor das bolsas previsto para setembro. A conta é de R$ 82 milhões. A saída será cortar o orçamento de fomento do CNPq, usado no apoio a outras iniciativas. A situação até o fim do ano, porém, ainda não está resolvida. Faltam R$ 250 milhões até dezembro para garantir repasses a bolsistas.

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

País avança em ranking universitário, mas fica longe do topo

Victor Vieria

Paloma Cotes

 

 

 Recorte capturado

 

 

Brasil superou Itália e Espanha e é o 7º em instituições em análise da ‘THE’; USP lidera, só que foi rebaixada de faixa

USP. Melhor colocada ainda está fora do top 250

O Brasil superou Itália e Espanha e subiu da 9.ª para a 7.ª posição entre os países com mais representantes no ranking de melhores universidades da revista britânica Times Higher Education (THE), uma das mais importantes em avaliação do ensino superior do mundo. Os Estados Unidos dominam a lista, com 172, e o Brasil tem 46. A brasileira mais bem colocada – também líder na América Latina – é a Universidade de São Paulo (USP). Mas, segundo a THE, problemas de financiamento educacional e a “hostilidade” do governo Jair Bolsonaro ao ensino superior têm efeitos negativos.

Os dados do levantamento, que inclui 1396 universidades de 92 países e regiões, foram divulgados ontem. A líder é a Universidade de Oxford, do Reino Unido, que já ocupava o topo no ano anterior. O Brasil continua fora do top 250 – a USP está na posição 251-300 (após o 200.º lugar, as instituições são classificadas em faixas), a mesma do ano passado. A segunda brasileira mais bem classificada é a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que ficou na faixa 501-600, mas recuou em relação ao ranking anterior, em que estava em 401-500. Entre as outras brasileiras listadas, a maioria é de instituições públicas.

O Chile, segundo melhor país latino-americano, tem 18 representantes. Já entre as nações emergentes, o destaque vai para a China. Segundo a revista, a Ásia tem aumentado sua relevância no ranking, ameaçando a predominância dos EUA e da Europa. O levantamento da THE é construído com base em 13 indicadores de desempenho, que consideram fatores como ensino, pesquisa, citações em revistas científicas, registro de patentes e internacionalização.

A editora do ranking da THE Ellie Bothwell classificou como “conquista” o fato de o Brasil ter avançado em relação ao ano anterior em número de representantes. “No entanto, é lamentável que todos os novos registros (as instituições que entraram na lista) do Brasil estejam fora do top 1000 e várias outras estejam fora da tabela. As constantes questões de financiamento e a falta de uma estratégia de ensino superior não ajudam a solucionar o problema”, afirmou. “O ensino superior global está se tornando um campo cada vez mais competitivo, à medida que as instituições asiáticas continuam a crescer e o Brasil terá de trabalhar mais para fazer avanços positivos na tabela. Para tal, a crescente hostilidade do governo atual em relação à educação superior inspira pouca confiança”, destacou.

Desde abril, os bloqueios de verba das universidades federais e da pós-graduação têm motivado críticas e protestos contra a gestão Bolsonaro. Segundo professores, cientistas e alunos, a falta de recursos pode paralisar pesquisas e fazer com que talentos abandonem a academia ou migrem.

MEC. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou respeitar a avaliação feita pela revista e disse que a posição no ranking depende de como foi feita a análise. Criticou, porém, o comentário da editora da THE. “Foi deselegante da parte dela. E não agrega nada”, comentou o titular da pasta. “Tem de se ater aos dados.”

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

'Trabalho é de longa maturação, e de rápida destruição'

Renato Pedrosa

12/09/2019

 

 

O cenário que o ranking do Time Higher Education mostra já é um retrato do passado. A notícia é interessante porque mostra que o Brasil vinha evoluindo positivamente, mas os trabalhos que dão base ao ranking podem ter sido publicados três, quatro anos atrás. E o fato de o Brasil estar no ranking, mesmo que não entre as 200 melhores, não é ruim, levando-se em conta que o volume de investimentos em ensino superior não é tão alto quando se compara com outros países como os Estados Unidos, por exemplo.

Na verdade, o País faz milagres nessa área. Na última década, o Brasil teve um aumento considerável no número de publicações científicas. Mas a questão é o que vai acontecer daqui para a frente, com um cenário de cortes nas universidades e também em pesquisas importantes. Subir em um ranking desses é um trabalho de longa maturação, mas de rápida destruição. Não só a falta de investimentos como também os cortes tendem a aparecer mais para a frente e derrubar a posição do País em rankings importantes.