Valor econômico, v.19, n.4685, 07/02/2019. Política, p. A9

 

MDB do Senado pode ganhar CCJ, orçamento e liderança

Vandson Lima 

Fabio Murakawa 

07/02/2019

 

 

Derrotado pela base bolsonarista na eleição à presidência do Senado, o MDB está pronto para esquecer as desavenças do pleito e virar governista. Aliados, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e o novo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), trabalham na busca de espaços para contemplar a bancada do MDB, a maior do Senado.

Pelo desenho em discussão, o MDB receberá a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante do Senado, e indicará Simone Tebet (MS) para o posto. Levará também mais uma comissão menor, ainda a ser definida, e a presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO).

Uma possibilidade também estudada é oferecer ao partido a liderança do governo no Senado, mais precisamente ao senador Fernando Bezerra Coelho (PE). Bezerra já era cotado para o posto caso Renan Calheiros fosse eleito presidente do Senado.

Coube ao próprio Davi Alcolumbre reabrir as tratativas nesse sentido. Segundo o Valor apurou, Alcolumbre, que é muito próximo de Onyx, sondou o líder do MDB, Eduardo Braga (AM), sobre uma eventual indicação de Fernando Bezerra. Na sequência, Onyx entrou em contato tanto com Braga quanto com Bezerra. Ficou de chamá-los para uma conversa nos próximos dias, sem especificar o tema nem a data.

Ao Valor, o senador pernambucano disse não ter havido convite e não saber de tratativas nesse sentido. Mas confirmou a aproximação do MDB do Senado ao governo e a busca pela pacificação após a turbulenta eleição do comando Legislativo.

"É preciso deixar a eleição para trás. O MDB está disposto ao diálogo, a contribuir com o governo em soluções que ajudem o Brasil", avaliou Bezerra, que foi ministro da Integração Nacional no governo de Dilma Rousseff, entre 2011 e 2013. "O MDB precisa ocupar espaços condizentes com seu tamanho e importância, e percebemos que Davi está trabalhando com afinco nesse sentido. Vamos buscar o acordo".

Outro nome que tem sido avaliado para a liderança do governo é o do senador Wellington Fagundes (PR-MT).

Ontem, o plenário do Senado aprovou com 72 votos a favor, 2 contrários e 3 abstenções, a composição da Mesa Diretora da Casa, com o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) no cargo de primeiro vice-presidente.

A eleição, em chapa única, foi feita em votação secreta.

A escolha não obedeceu ao critério da proporcionalidade, que leva em conta o número de senadores por partido, como é tradição no Senado.

Pesaram na composição sobretudo os pactos feitos com Davi Alcolumbre na tumultuada eleição que o alçou à presidência da Casa, derrotando Renan.

O MDB ficou relegado à segunda secretaria, com Eduardo Gomes (TO) para exercer a função.

Filho do presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) ficou com o cargo de terceiro secretário da Mesa.

Aliado de Alcolumbre, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) fez ressalvas se a indicação de Flávio Bolsonaro seria "de bom tom".

"Ao que pese as qualidades do senador, se trata de alguém que está em linha consanguínea direta com o Poder Executivo", disse ele, referindo-se ao filho do presidente. "Não tem nada vedando no regimento, em nenhuma lei, na Constituição. Mas há algo vedando, que é o bom senso e os valores republicanos", afirmou.

Major Olímpio, do PSL de São Paulo, retrucou. "O fato de o seu genitor ser o presidente da República não pode restringir a sua participação como um senador pleno, eleito pelo Estado do Rio de Janeiro", afirmou.

Flávio Bolsonaro também se defendeu: "Sobre o impedimento ético, com relação à indicação do meu partido, quando há um impedimento está expresso na lei. Eu não posso ser candidato a prefeito, a governador, para alegria de muitos no meu Estado. Há um impedimento legal".

Os componentes da Mesa terão mandato de dois anos, assim como o do presidente do Senado eleito no último sábado.

Além dos citados, foram escolhidos para a composição da Mesa Diretora do Senado o segundo vice-presidente, Lasier Martins, que trocou de partido, saindo do PSD para o Podemos; o primeiro-secretário, Sérgio Petecão (PSD-AC); o quarto secretário, Luis Caros Heinze (PP-RS); os quatro suplentes: Marcos do Val (PPS-ES); Weverton Rocha (PDT-MA); Jaques Wagner (PT-BA); e Leila Barros (PSB-DF).