O Estado de São Paulo, n. 45967, 25/08/2019. Metrópole, p.A18

 

Imagem do Brasil 'queima' na mídia internacional

 

 

 

Isadora Duarte

Célia Froufe

25/08/2019

 

 

 

 

Imprensa / New York Times traz números de aumento do desmatamento; europeus destacam 'crise diplomática' entre o País e a França, envolvendo a floresta

 

CORRESPONDENTE

 

A imagem do Brasil continua "queimada" na mídia internacional. Em reportagem publicada neste sábado, o jornal The New York Times aponta que as medidas de fiscalização contra o desmatamento no Brasil, pela "principal agência ambiental do País" caíram 20% nos primeiros seis meses deste ano, em comparação com igual intervalo do ano passado. A publicação pontua a redução na fiscalização à áreas desmatadas ao relacionar a prática ilegal com as queimadas que vêm ocorrendo na região amazônica.

''Cientistas que estudam dados de imagens de satélite dos incêndios na Amazônia disseram que a maioria dos incêndios está ocorrendo em terras agrícolas onde a floresta já havia sido derrubada", informa o artigo.

Citando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os repórteres Rebecca Lai, Denise Lu e Blacki Migliozzi destacam que até agosto houve 35% mais incêndios do que a média dos últimos oito anos. "Os incêndios não são um fenômeno natural nessas florestas.

Todos os incêndios nesta região são causados por pessoas", disse o especialista em incêndios e ecologia na Universidade de Maryland, Mark Cochrane, à reportagem do NYT.

Para o periódico americano, a maioria dos incêndios foi provavelmente definida por agricultores preparando a terra para o plantio da próxima safra. "O aumento de incêndios entre agosto e outubro coincide com a temporada em que os agricultores começam a plantar soja e milho", aponta a reportagem, mencionando mapas feitos com imagens de satélites das agências Nasa, Terra e Aqua. A reportagem afirma também que a maioria das terras agrícolas em uso na região amazônica do Brasil "foi criada através de anos de desmatamento".

 

Europa. As queimadas na Amazônia continuaram fortes no noticiário europeu. O canal de notícias da televisão britânica BBC repetiu ao longo da manhã uma longa reportagem sobre o tema, citando a possível discussão na cúpula dos países ricos (G-7), na França, consultando especialistas e reproduzindo trechos do pronunciamento feito anteontem em rede nacional pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. Também são mencionadas declarações de chefe de Estado e de governo sobre o tema e avaliações de países vizinhos, incluindo depoimentos de índios preocupados com a  destruição da Terra.

Do outro lado do Atlântico, a Amazônia se tomou uma prioridade às vésperas do encontro no balneáreo de Biarritz. O jornal do Reino Unido The Guardian também registrou o discurso do presidente na TV para criticar a "desinformação" sobre a crise na Amazônia, argumentando que não pode ser usada como pretexto para sanções. O periódico enfatizou a declaração de um "profundo amor" feita por Bolsonaro pela floresta tropicai, à medida que as críticas se intensificam.

O jornal francês Le Monde registrou que os incêndios causaram uma crise diplomática entre o Brasil e a França, depois que o presidente Emmanuel Macron acusou Bolsonaro de "mentir" sobre seus compromissos ambientais. Em resposta, o brasileiro disse que a fala de Macron denuncia uma "mentalidade colonialista".

O também francês Le Figaro, por sua vez, destacou a autorização dada por Bolsonaro para o envio do Exército para combater incêndios na Amazônia em um momento em que a pressão internacional está aumentando contra as políticas de clima do presidente conservador. "A magnitude dos incêndios na maior floresta tropical do mundo-cerca de 700 novos incêndios registrados em 24 horas na quinta-feira - é de extrema preocupação para a comunidade internacional, que ignorou as acusações do presidente de interferência "colonialista" no Brasil." descreveu.

O presidente francês Emmanuel Macron decidiu se opor ao acordo comercial da União Europeia (UE). A Irlanda também ameaçou votar contra o acordo se o Brasil não proteger a Floresta Amazônica. A Finlândia, que detém a presidência rotativa da UE, anunciou ontem que vai propor aos seus pares a proibição da importação de carne brasileira para protestar contra a resposta de Bolsonaro aos incêndios.

 

Em Portugal. O jornal português Diário de Notícias traz um perfil do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles: "Quem é o ministro do ambiente que queria correr a esquerda a tiro". Na apresentação, o veículo de comunicação apresentou um cartaz de campanha. "Contra a praga do javali, contra o roubo de trator, de gado e de insumos, contra a esquerda e o Movimento dos Sem Terra, contra a bandidagem no campo, bala: vote Ricardo Salles, do Partido Novo."

 

Crise histórica

"A França e o Brasil passam pela pior crise diplomática desde o retomo da democracia a Brasília no final dos anos 1980. Segundo muitos observadores, esse seria o conflito mais grave de toda a história de suas relações bilaterais."

Le Monde