Título: Minorias atingidas
Autor: Lisbôa, Anna Beatriz
Fonte: Correio Braziliense, 04/10/2012, Brasil, p. 10

O coordenador do projeto e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz, Marcelo Firpo, diz que o Brasil vive um processo de intensificação dos conflitos ambientais, que têm impacto, principalmente, nas populações indígenas, de agricultores familiares e de quilombolas (veja quadro). “O modelo atual de desenvolvimento, da monocultura e de atividades industriais pesadas aumentam os conflitos por terra. Essas atividades geram impactos pela poluição e uso de recursos naturais, não devidamente negociados com as populações, que sofrem mudanças significativas no modo de vida”, explica.

A pesquisa mostra que, no Centro-Oeste, por exemplo, os conflitos estão, na maioria dos casos, relacionados ao agronegócio e ao uso de defensivos agrícolas e fertilizantes tóxicos, que contaminam os lençóis freáticos e podem, até mesmo, estar presentes na água da chuva. “Há uma série de indícios de que o aumento na incidência de câncer esteja associado ao uso de agrotóxicos”, alerta Firpo.

Áreas contaminadas Nos centros urbanos, os problemas estão relacionados, principalmente, à ocupação de áreas poluídas, próximas de fábricas e aterros sanitários. O chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Fernando Carneiro, coordenou a pesquisa que resultará na inclusão do Lixão da Estrutural no mapa. O depósito de lixo, que existe desde os anos 1960, deu origem à invasão que, hoje, está urbanizada e conta com 35 mil habitantes.

De acordo com o professor, o lixão atrai catadores que vivem em situação de extrema pobreza. Também ameaça a represa Santa Maria, no Parque Nacional de Brasília, que é responsável pelo abastecimento de 30% da água potável do DF. “Há milhares de pessoas trabalhando de forma precária, que se alimentam no lixo e moram em barracas de madeirite e chão de terra batida”.

A desativação do lixão é uma medidas acertadas pelo Governo do Distrito Federal com o Ministério Público para minimizar o problema da poluição, melhorar o tratamento de resíduos no DF — com a implantação da coleta seletiva — e promover o desenvolvimento social e econômico dos catadores de lixo.

O Comitê de Resíduos Sólidos do Distrito Federal prevê o lançamento, até o fim do ano, do edital de licitação das obras de pavimentação e drenagem da área onde será construído o Aterro Oeste, em Samambaia, que vai receber os resíduos do Df com a desativação do Lixão da Estrutural.

Mas Fernando Carneiro ressalta que não basta acabar com o lixão. “São 50 anos sem políticas públicas que garantam o trabalho digno e a emancipação econômica dessas pessoas”. O conflito envolvendo as etnias indígenas que ocupam uma área no novo Setor Noroeste também deve ser incluído no mapa. (ABL)