O globo, n. 31358, 15/06/2019. Tempo, p. 27

 

Bolsonaro critica decisão do STF contra a homofobia

Jussara Soares

Gustavo Maia

15/06/2019

 

 

Presidente diz que julgamento ‘prejudica o próprio homossexual’ e lamenta ausência de ministro evangélico para bloquear ação

O presidente Jair Bolsonaro criticou ontem a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de criminalizar a homofobia. Segundo ele, equiparar as práticas de homofobia e transfobia ao crime de racismo é um "completo equívoco". Bolsonaro afirmou ainda que a medida pode atrapalhar homossexuais a conseguirem vagas de trabalho.
— Prejudica o próprio homossexual essa decisão. Os homossexuais, agora, alguém vai dar um emprego? Vai pensar duas vezes antes: 'se der um problema aqui dentro? Ele me acusa disso ou daquilo, o que que vai acontecer, como que fica a minha empresa?'—disse. Falando a jornalistas durante um café da manhã, Bolsonaro citou uma situação hipotética em que um hóspede gay tentar alugar um quarto em um hotel que está lotado e depois descobre que havia uma vaga: "Aí, o dono vai preso". Na quinta-feira, por oito votos a três, os ministros do Supremo decidiram que, enquanto o Congresso não aprovar um projeto de lei sobre o assunto, deverá ser aplicada em casos de homofobia a lei do racismo, cujo crime é inafiançável e imprescritível. A pena é de um a três anos de prisão. Bolsonaro disse que, com a decisão, "o STF entrou na seara do Legislativo" — há um projeto de lei sobre o tema aprovado preliminarmente pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, mas que ainda precisa ser votado novamente no colegiado e, depois, na Câmara. O presidente também defendeu a presença de um ministro evangélico na mais alta Corte do país, como havia feito no final de maio, durante uma viagem a Goiânia. — Acho completamente equivocado o que o Supremo fez ontem aqui, por isso que falo do evangélico. O que é natural, poderia acontecer lá? O cara pede vista do processo e senta em cima dele —disse Bolsonaro.