O globo, n. 31360, 17/06/2019. Economia, p. 17

 

Levy sai após ataque

Bruno Rosa

Geralda Doca

Daiane Costa

17/06/2019

 

 

Guedes quer nome com experiência no setor privado para presidência do BNDES

Menos de seis meses após assumir o comando do BNDES, Joaquim Levy entregou sua carta de demissão. A decisão foi anunciada um dia após o presidente Jair Bolsonaro dizer que ele estava com a “cabeça a prêmio”. A gota d’água foi a nomeação de diretor que havia trabalhado no governo do PT, o que desagradou a Bolsonaro. Especialistas criticaram a interferência do presidente. O ministro da Economia, Paulo Guedes, busca um nome com experiência no setor privado e perfil para implementar o plano de concentrar no banco as desestatizações da área de infraestrutura. Menos deseis meses após assumira presidência do BNDES, Joaquim Levy entregou ontem sua carta de demissão. A decisão foi anunciada um dia depois que o presidente Jair Bolsonaro o criticou publicamente, disse que estava “por aqui” co mele eque Levy estava com“a cabeça a prêmio”. A saída deixa em aberto o comando do banco de fomento, que, somente no ano passado, liberou R$ 69,3 bilhões em financiamentos e administra carteira de ações da BNDESPar de mais de R$ 100 bilhões.

Na carta, Levy informa que solicitou ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que o indicou ao cargo, seu desligamento. “Minha expectativa é que ele aceda. Agradeço ao ministro o convite para servira o país e desejo sucesso nas reformas. Agradeço também, por oportuno, a lealdade, dedicação e determinação da minha diretoria”. Ele também agradece aos funcionários.

Comas aída de Levy,o governo já contabiliza 19 baixas no segundo escalão, além da demissão de três ministros. Na sexta-feira, Bolsonaro anunciou ainda a decisão de demitir o presidente dos Correios.

Integrantes da equipe econômica discutiram nomes para ocupar o cargo. Onovop residente do banco deverá ser indicado por Guedes e contar com o aval de Bolsonaro.

Escolha do substituto

Guedes tema preferência por um profissional com experiência no setor privado. Um dos nomes mais cotados é odo secretário de Desestatizações, S alim Mattar, do noda Localiza. Ele seria um candidato ao cargo diante dos planos do governo de mudar o perfil do banco e concentrar nele as privatizações. Outros nomes, porém, também foram avaliados como o da superintendente da Susep (seguros privados), Solange Vieira, que conta coma confiança de Guedes. Integrantes da equipe citaram ainda o secretário de Produtividade e Emprego, Carlos da Costa, o secretário adjunto de Desestatizações, Gustavo Montezano, e do ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco. Nenhum deles comentou.

Agota d’ água no relacionamento entreBol sonar oeLevy foi a escolha de Marcos Barbosa Pinto para a diretoria de Mercado de Capitais. Considerado um profissional de perfil técnico, ele teria o papel de acelerara venda de ações da carteira do banco. O nome desagradou a Bolsonaro por considerar que ele era ligado ao PT. Barbosa Pinto trabalhou co moche fede gabinete de D em ian Fiocca, quando ele ocupou a presidência doBND ES, no governo Lula.

De acordo com interlocutores do Palácio do Planalto, Bolso na rojá dava sinais de insatisfação há meses com Levy. Uma das promessas de campanha do presidente era abrira “caixa-preta” do BNDES. No início do ano, o banco divulgou uma lista de empresas e países que mais tomaram empréstimos da instituição. Para o presidente, isso não era suficiente. Ele cobrava que Levy criticasse publicamente as operações feitas nos governos do PT, em particular os financiamentos a exportações em países como Cuba, Angola e Venezuela, nos quais a garantia era do governo brasileiro. Para aliados do presidente, o banco continuava uma “caixa preta”. E a leitura era que Levy evitava se indispor com os funcionários do banco.

Levy também entrou em atrito com o ministro da Economia. Guedes foi o responsável pela nomeação dele ao cargo e o defendeu diante da resistência do próprio Bolsonaro. Levy também havia trabalhado em governos petistas, como secretário do Tesouro na gestão de Lula e ministro da Fazenda na de Dilma Rousseff. Seu currículo inclui instituições como o FMI e o Banco Mundial e a formação como PhD em Economia na Universidade de Chicago.

O motivo da divergência com Guede sera o cronograma de devolução de recursos ao Tesouro. O ministro pressionava pelo pagamento de R$ 126 bilhões, que ajudariam na redução da dívida, mas Levy resistia. O ritmo de venda de ativos do banco e de sua carteira de ações também era considerado lento.

No sábado, Guedes disse ao G1 que entendia a “angústia” de Bolsonaro ao ver Levy indicar nomes ligados ao PT e acrescentou que o problema era que ele não tinha resolvido o passado nem indicado o futuro da instituição.

O ex-presidente do BNDES Paulo Rabel lo de Castro avalia que não será difícil encontrar um nome para o banco em razão do prestígio da instituição, mas critica aforma como o episódio foi conduzido:

—O banco é jogado indiscriminadamente no lamaçal.

Foco nas privtizações

Especialistas avaliam que o presidente do banco terá o desafio de levar adiante o projeto de reduzir o tamanho da instituição, abrindo caminho para o setor privado. O papel do BNDES deve se voltar para as privatizações, para os setores de infraestrutura e saneamento, além de lidar com questões como a reestruturação de dívidados estados. Terá ainda de equacionaras cobranças do governo por maior transparência e a necessidade de efetuar pagamentos bilionários ao Tesouro.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Para economistas, episódio é novo fator de instabilidade

Daiane Costa

Ana Letícia Leão

17/06/2019

 

 

Ex-ministro da Fazenda afirma que Levy foi demitido por um impulso do presidente eque isso causa insegurança no mercado

Economistas lamentaram a saída de Joaquim Levy do comando do BNDES e dizem que o e pi sódioém ais umf ator de instabilidade no governo. — Ele foi demitido publicamente, por um impulso do presidente, e isso causa insegurança na equipe e no próprio mercado. Quem vai ser o próximo a passar por esse aborrecimento? Areação vai depender do nome que o substituirá —disse à Globo News o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega.

Em artigo, o Financial Times afirma que oca solevanta o te morde investidores de interferência do Estadona economia. O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, aval iaque areação do mercado pode ser negativa:

—Esse cargo ficar vago dois dias após o ministro da Economia ter demonstrado desconforto como relatório que trouxe mudanças no texto da reformada Previdência preocupa —disse à Globo News.

Para Margarida Gutierrez, especialista em contas públicas da UFRJ, será difícil encontrar um substituto comas mesmas credenciais:

— O que ocorreu representa uma ingerência muito grande sobre a estrutura administrativa do banco.

Para Carlos Melo, cientista político e professor do Insper, o país precisa tratara economia com mais pragmatismo.

— O Brasil precisa sair desse buraco econômico onde se meteu e buscar operadores capazes de fazer isso em pontos-chaves.

Na avaliação de Claudio Couto, cientista político e professor do curso de Administração Pública da FGV, o caso mostra que questões ideológicas estão se sobrepondo a aspectos técnicos.

O ex-diretor do Banco Central José Júlio Senna minimizou possíveis danos:

—A forma com que a saída do Levy se deu assusta, mas é possível encontrar outros nomes competentes.