O globo, n. 31350, 07/06/2019. País, p. 6

 

Após Moro, força-tarefa da Lava-Jato também é alvo de ataque hacker

Bela Megale

07/06/2019

 

 

Aparelhos celulares de procuradores de Curitiba sofreram tentativa de invasão, mesmo com investigação da PF em curso

Um dia depois do celular do ministro da Justiça, Sergio Moro, ser hackeado, os aparelhos de procuradores da força-tarefa da Lava-Jato, em Curitiba, também foram alvos de novas tentativas de invasão. Ao menos dois investigadores relataram ao GLOBO que seus telefones sofreram ataques cibernéticos na última quarta-feira.

— Eu e vários colegas, inclusive de outras forças-tarefas, fomos alvos. Comecei a receber ligação do meu próprio telefone. Depois, passei a receber mensagens como se eu tivesse solicitado um código de Telegram (aplicativo de troca de mensagens) — contou um procurador.

Na maioria dos casos, o modo de atuação dos hackers se repete. Os donos dos telefones recebem ligações de seus próprios números e de um número do exterior. Em algumas situações, contatos dos usuários chegaram a receber mensagens supostamente enviadas por eles, mas que, na verdade, foram mandadas por um destinatário desconhecido. Os investigadores também têm recebido vários pedidos de códigos de acesso de seus aparelhos para usar aplicativos como o Telegram.

Os ataques continuam mesmo após a Polícia Federal de Curitiba e do Rio de Janeiro começarem a apurar o caso, há cerca de um mês. Os pedidos de abertura de investigação foram feitos pelas unidades do Ministério Público Federal (MPF) de cada estado, já que os principais alvos vêm sendo as forças-tarefas do Rio e do Paraná. A apuração sobre os ataques cibernéticos ao telefone de Sergio Moro, porém, é conduzida pela sede da Polícia Federal, em Brasília.

As três investigações em curso também estão sendo abastecidas por dados da Procuradoria-Geral da República (PGR), que, paralelamente à Polícia Federal, instaurou um procedimento administrativo para acompanhar a apuração dos casos. Logo que foi informada sobre os ataques, no início de maio, a Secretaria de Tecnologia do órgão passou a orientar os procuradores a tomarem medidas específicas para ampliar a segurança dos aplicativos de mensagem, como a troca de senhas e de aparelhos.

Os procuradores de Curitiba e do Rio acreditam que o mesmo grupo vem coordenando a ação contra eles, Moro e o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. Os ataques cibernéticos a Janot aconteceram no mesmo dia em que os investigadores de Curitiba sofreram novas investidas de hackers.

O procurador Deltan Dallagnol, um dos chefes da Lava-Jato no Paraná, está entre os alvos das tentativas de invasão no início de maio. Ao longo do mês, porém, os ataques se estenderam a quase todos os integrantes da força-tarefa de Curitiba.

Em maio, quando a PGR tornou públicas as tentativas de invasões aos telefones, destacou que “os ataques noticiados pelos membros do MPF são graves e configuram uma situação que pode comprometer diversas apurações em curso”.

MBL e Gentili entre alvos

O apresentador do SBT Danilo Gentili e integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) também foram alvos de ataques similares aos sofridos por Moro e pelos procuradores.

O vereador Fernando Holiday (DEM-SP), o deputado estadual Arthur Moledo (DEM-SP), conhecido como Arthur Mamãe Falei, e um dos responsáveis pela área administrativa do MBL tiveram seus telefones atacados há cerca de três meses. Em 15 de março, após as investidas dos hackers, o movimento registrou um boletim de ocorrência. A forma de atuação dos invasores narrada à polícia é a mesma relatada no caso de Moro.

— Estamos achando muito estranho que o mesmo procedimento vem se repetindo com várias figuras públicas. Já se passaram três meses e ainda não tivemos nenhum retorno da polícia sobre a investigação — disse Renan Santos, um dos fundadores MBL.

Em sua conta no Twitter, Danilo Gentili detalhou ontem como foram os ataques cibernéticos que sofreu.

—Recentemente fui vítima de celular hackeado. Um número estrangeiro me telefonou. Depois meu próprio número me ligou. Em seguida alguém conversou com pessoas no Telegram se passando por mim —escreveu.

O apresentador disse que não descarta “a hipótese de mera coincidência”, mas diz que percebeu um “certo padrão nos ataques”.