O Estado de São Paulo, n. 45828, 08/04/2019. Política, p. A8

 

Bolsonaro define hoje se Vélez vai ficar no MEC

Julia Lindner

Lorenna Rodrigues

Renata Cafardo

08/04/2019

 

 

Parlamentar do PSDB é um dos cotados para substituir ministro, que tem atuação contestada

Churrasco. Bolsonaro deixa a casa de Ricardo Zelenovsky, colega de Exército, em Brasília; definição para o MEC e a Apex

O presidente Jair Bolsonaro reafirmou que vai decidir hoje o destino do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, alvo de críticas desde a sua posse. Entre os cotados para o cargo, estão o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) e o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Anderson Ribeiro Correia. Mas, segundo o Estado apurou, ainda não houve o convite.

Bolsonaro também quer que cada um dos seus ministros faça um balanço da sua área nesta semana para marcar os 100 dias do seu governo. “Não é tanta notícia ruim como a imprensa vem publicando”, afirmou ele, após participar de um churrasco na casa de um amigo em Brasília, ontem. O compromisso não estava na agenda oficial.

O dono da casa, Ricardo Zelenovsky, foi companheiro de Bolsonaro do Exército. Ao deixar o local, ele disse que estava com amigos da turma de 1974. “O mais novo sou eu, todo mundo é general, e eu sou capitão.”

O fim de semana foi intenso, com conversas e articulações para o substituto de Vélez. O ministro enfrenta uma crise que vem desde sua posse, com disputa interna entre grupos adversários, medidas criticadas, recuos e quase 20 exonerações. Na semana passada, um de seus principais assessores foi exonerado pela Casa Civil, o que indicou mais ainda seu enfraquecimento.

Cotados. O nome mais forte é o do senador Izalci Lucas, que tem recebido apoio da bancada do PSL e também de entidades não governamentais ligadas à educação. Izalci foi contador de escolas particulares no Distrito Federal e atuante na Comissão de Educação quando era deputado. Apesar de ter sido um dos autores de um projeto sobre o Escola sem Partido, fontes ligadas a ele dizem que o senador não toca mais no assunto e não levaria essa bandeira para o MEC. Há também resistência de lideranças do PSDB a entrar no governo.

Um nome que aparece associado a ele é o do ex-reitor da Universidade de Brasília (UNB) Ivan Camargo, engenheiro elétrico e filho de militar, que poderia compor a equipe em uma eventual gestão. Camargo também já foi cotado para assumir o próprio cargo de ministro.

Já Anderson Correia tem o apoio da bancada evangélica no Congresso. Ele foi reitor do Instituto de Tecnologia Aeronática (ITA), é evangélico e tem bom relacionamento com pastores de São Paulo. Além disso, é ligado ao grupo militar que ajuda o governo desde a transição.

Outro nome que chegou a ser mencionado foi o do ex-diretor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Stavros Xanthopoylos. Ele se reuniu como vice-presidente Hamilton Mourão em Cambridge, nos Estados Unidos, neste fim de semana.

Há movimentações ainda para tentar emplacar o diretor do Instituto Ayrton Senna Mozart Neves, que chegou a ser chamado antes de Vélez e depois foi desconvidado pela pressão dos evangélicos. E o último cotado seria Álvaro Moreira Domingues, presidente do sindicato das escolas particulares do Distrito Federal.

Bolsonaro também quer resolver hoje a disputa na Agência Brasileira de Exportações e Investimentos (Apex). O presidente Mário Vilalva tem apoio dos militares e está em crise com diretores próximos do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

'Escolheria outros para trabalhar comogo', diz Mourão

Beatriz Bulla

Ricardo Leopoldo

08/04/2019

 

 

Em evento organizado por alunos de Harvard, vice responde a pergunta sobre o que faria de diferente de Bolsonaro

Harvard. Mourão durante seminário nos Estados Unidos

Em evento organizado por alunos brasileiros de Harvard e do MIT, nos Estados Unidos, o vice-presidente Hamilton Mourão disse ontem que talvez tivesse escolhido “outras pessoas” para trabalhar com ele, ao ser questionado sobre o que faria de diferente do presidente Jair Bolsonaro nesse início de governo. De início, Mourão evitou responder objetivamente o que faria se fosse o presidente e enalteceu a parceria com Bolsonaro. “Minha parceria com presidente Bolsonaro é total. A gente debate as ideias. Mas, quando ele toma decisão, eu apoio 100%”, afirmou Mourão.

Olhando para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, presente na plateia, Mourão disse: “Como é aquela música, presidente? Faria tudo outra vez? Faria tudo outra vez.” Depois, questionado mais uma vez pelo mediador do evento, o general, afirmou sem dar nomes: “Talvez, pela minha personalidade, eu escolhesse outras pessoas para trabalhar comigo.”

Mourão tem sido criticado por uma ala do governo, que avalia que ele tenta se mostrar como uma figura antagônica ao presidente. Em uma pergunta sobre a situação do Ministério da Educação, Mourão reforçou que deve haver uma troca no comando da pasta. “Não sei se Vélez será mantido , mas precisamos resolver esse problema.”

Militares. Mourão foi aplaudido ao responder a pergunta sobre o papel dos militares na política brasileira. Em uma pergunta sobre o histórico dos militares no Brasil e uma comparação feita com o general Ernesto Geisel, Mourão rebateu: “O general Geisel não foi eleito, eu fui.”

Nessa hora, enquanto a plateia se levantava para aplaudir o vice-presidente, um manifestante gritou “ditadura nunca mais” e foi retirado por seguranças

Na plateia, além de alunos e professores de Harvard e FHC, estavam também o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, e o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel.

Mourão minimizou o papel dos militares no governo Bolsonaro e disse que os integrantes das Forças Armadas que fazem parte do governo já estavam na reserva quando foram convocados para o Executivo. Ele afirmou ainda que, se o governo “errar demais”, a “conta” irá para as Forças Armadas. “Daí a nossa extrema preocupação e as palavras que o presidente falou no dia 28 de outubro quando fomos eleitos. Ele olhou para mim e disse assim: nós não podemos errar.”

'Eleito'

“O general (Ernesto) Geisel não foi eleito, eu fui.”

Hamilton Mourão

VICE-PRESIDENTE, DURANTE ENCERRAMENTO DE SEMINÁRIO ORGANIZADO NOS ESTADOS UNIDOS