O Estado de São Paulo, n.45818, 29/03/2019. Economia, p. B5

 

Empresários se mobilizam para 'proteger' reforma 

Pedro Venceslau 

Mônica Scaramuzzo 

Fernando Scheller 

29/03/2019

 

 

Diante da série de desentendimentos que colocou em xeque a aprovação da reforma da Previdência e levou o dólar a superar a marca de R$ 4 na manhã de ontem, empresários e altos executivos se mobilizaram nos últimos dias para conversar com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), na tentativa de pôr a proposta, considerada vital para a retomada do crescimento da economia, de volta ao foco das lideranças em Brasília.

Em movimentos paralelos, tanto individuais como de pequenos grupos, empresários se aproximaram de Bolsonaro, de Maia e do ministro da Economia, Paulo Guedes, na intenção de reforçar a importância de o governo agir em uma mesma direção.

Segundo apurou o Estado, um grupo de 12 executivos e empresários se reuniu com Maia, em um jantar em São Paulo. O deputado disse estar empenhado na aprovação da proposta, mas que depende da articulação do Planalto para angariar votos. Afirmou que, sozinho, tem no máximo 40 votos. A reunião teve ainda a participação de Rodrigo Garcia (DEM), vice-governador de São Paulo, e de Alexandre Baldy, ex-ministro da Saúde e atual secretário do governador João Doria (PSDB).

Ao longo da semana, em eventos como o jantar oferecido em homenagem à primeira-dama, Michele Bolsonaro, e a reunião entre empresários e o vice-presidente, Hamilton Mourão, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o setor produtivo demonstrou sua tensão sobre o andamento lento da reforma da Previdência.

Um dos recados repassados por empresários a Bolsonaro e Maia é que o clima de disputa não faz sentido: “Todo mundo que é a favor da reforma da Previdência neste momento deve ser considerado um amigo pelo governo”, disse um empresário.

Entre os mais próximos de Bolsonaro, instalou-se clima de impaciência em relação ao presidente da Câmara. Apesar de admitir que o filho do presidente, Carlos Bolsonaro, passou dos limites nas provocações a Maia no Twitter, um empresário disse que a impressão é de que o parlamentar começou a usar a troca de farpas para valorizar seu passe. Em um dos eventos desta semana, Bolsonaro externou a insatisfação com o Congresso e disse a um empresário que não quer se render à “velha política”.

Outro empresário, que se reuniu em Brasília com o presidente nesta semana, afirmou que a resistência ao velho “toma lá, dá cá” não quer dizer simplesmente fechar o diálogo com os líderes do Congresso. “O presidente tem, sim, a obrigação de conversar com o Congresso, de negociar as pautas vitais.”

Para Pedro Wongtschowski, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), não houve movimento organizado do empresariado para discutir a crise. “Há uma preocupação geral do empresariado. De forma individual, os empresários levaram sua preocupação aos seus interlocutores em Brasília.”

Alívio. Após tanto Maia quanto Bolsonaro acalmarem os ânimos e o presidente classificar a crise como “chuva de verão”, a sensação entre empresários era de alívio – ao menos temporário. Um empresário, que falou com Maia e também com Bolsonaro nesta semana, classificou a tensão como “uma briga de crianças”.

A sensação de um clima mais apaziguado também teve reflexos no mercado financeiro. Depois de romper a marca dos R$ 4, o dólar fechou o dia em queda de 0,96%, a R$ 3,9165. Já o Ibovespa, principal índice da B3, fechou aos 94.388,94 pontos, em alta de 2,70%.

Na avaliação de analistas, a bandeira branca acenada entre Executivo e Legislativo trouxe algum alívio na percepção de crise política, mas está longe de reativar no mercado o otimismo que havia levado o Ibovespa a testar os 100 mil pontos. Por isso, a alta foi considerada essencialmente técnica, com investidores em busca de oportunidades de compra para ganhos de curto prazo.

Atuação

“Há uma preocupação geral do empresariado. De forma individual, os empresários levaram sua preocupação aos seus interlocutores em Brasília esta semana.”

Pedro Wongtschowski

PRESIDENTE DO IEDI

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Freitas, do PSL, vai ser o relator da PEC na CCJ 

Camila Turtelli 

Eliane Cantanhêde 

29/03/2019

 

 

Mais de uma semana após o prazo inicial, o delegado Marcelo Freitas (PSL-MG) foi anunciado como relator da reforma da Previdência na Comissão de Constituição, Cidadania e Justiça (CCJ). Ao Estado/Broadcast, o deputado disse não ter dúvida de que está preparado para enfrentar o desafio que tem pela frente. “Temos a tranquilidade necessária para conduzir com responsabilidade essa relatoria”, disse.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, trabalhou pelo deputado Vinicius Poit, do Novo, que é um liberal e faz propaganda aberta a favor da reforma. O PSL, que tinha recusado a relatoria, mudou de ideia e passou a bombardear Poit para garantir a vaga e, assim, protagonismo e holofotes na tramitação. A resistência de Maia e dos principais defensores da reforma a um nome do PSL é que o partido do presidente Jair Bolsonaro tem muitos representantes das grandes corporações do serviço público contrárias à reforma, como policiais. Mas, no embate, prevaleceu o PSL.

Em seu primeiro mandato na Câmara, Marcelo Freitas foi eleito com 58,1 mil votos, é delegado da Polícia Federal e tem pós-graduação em Direito Processual, de acordo com sua biografia no site da Câmara dos Deputados.

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PSL decide fechar questão sobre reforma 

Renato Onofre

29/03/2019

 

 

Parlamentar do partido que não votar a favor poderá ser punido; 14 siglas já se declararam favoráveis à proposta

Sob pressão. Bivar, presidente do PSL: ‘dando o exemplo’

Depois de receber uma cobrança pública do ministro da Economia, Paulo Guedes, a bancada do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, oficializou que vai determinar que seus filiados votem a favor da reforma da Previdência – fechar questão no jargão político. Com a legenda, já são 14 partidos que se mostram favoráveis à proposta, somando 345 deputados. O partido do presidente, em tese, garante 54 votos favoráveis com o fechamento de questão.

Para aprovar as modificações nas regras para se aposentar no Brasil, o governo precisa de 308 votos na Câmara e 49 votos no Senado, em dois turnos, em cada Casa. Os parlamentares do partido do presidente devem estar entre os primeiros a serem recebidos por equipes do Ministério da Economia para discutir a proposta no início da semana que vem. Apesar de o presidente do partido garantir todos os votos da legenda ao projeto – sob o risco de até expulsão dos desertores –, os deputados vão poder discutir e propor mudanças à proposta apresentada por Guedes. Oficialmente, a bancada deixou em aberto quais seriam essas alterações.

Os líderes do Centrão e demais partidos favoráveis à proposta de emenda constitucional que altera as regras da Previdência já externaram que apoiam a reforma desde que se retire as mudanças na aposentadoria rural e no Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a pessoas com deficiência e idosos de baixa renda.

O coronel Tadeu (PSL-SP) afirmou que esses são pontos de quase consenso entre os parlamentares do partido do presidente. “Os líderes dos outros partidos externaram essa preocupação que é de boa parte da nossa bancada também”, afirmou. Ele também considera necessário modificar o tempo de aposentadoria dos professores: “Não é possível imaginar um educador ser obrigado a passar 40 anos em uma sala de aula.”

“Se tiver alguns ajustes, a bancada vai fazer através de destaques. Mas o importante é que fechamos a questão unanimemente”, afirmou o presidente do PSL, Luciano Bivar.

A reunião no PSL teve a participação de 32 dos 54 parlamentares do partidos. Um dos ausentes, o deputado federal Alexandre Frota (PSL) disse que não foi consultado sobre o fechamento de questão, mas que é favorável – individualmente – à Previdência: “Mas posso levar em discussão essa questão da idade. Acho que (do jeito que está) é muito”.

Turbulência. O fechamento de questão ocorre depois de uma semana de turbulência. Na semana passada, o líder do partido na Câmara, o deputado delegado Waldir (GO), criticou o projeto encaminhado pelo governo que trata da reestruturação das carreiras das Forças Armadas e da aposentadoria dos militares. “O governo nos mandou um abacaxi e não temos como descascá-lo com os dentes. É preciso nos dar a faca”, disse em coletiva. Ontem, Waldir mudou de posição. “Estamos construindo o diálogo. O governo está trazendo o facão para descascar”, disse completando: “E vamos comer o abacaxi docinho”.

A decisão oficial do PSL responde, para o presidente Bivar, às críticas de Guedes. Na quarta-feira, em audiência pública no Senado, Guedes disse que não foi à Câmara no dia anterior para não levar “tiros nas costas” dos aliados. Após as declarações, Bivar, convocou correligionários para oficializar o apoio. Ontem, ele falou que era necessário “dar o exemplo”.

Destaque

“Se tiver alguns ajustes, a bancada vai fazer através de destaques. Mas o importante é que fechamos a questão unanimemente.”

Luciano Bivar.

PRESIDENTE DO PSL