O Estado de São Paulo, n. 45801, 12/03/2019. Economia, p. B6

 

Azul faz acordo para comprar Avianca e ameaça hegemonia de Gol e Latam

Luciana Dyniewicz

Rénée Pereira

Fernando Nakagawa

12/03/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Novo porte. Com proposta de mais de R$ 400 milhões, Azul ficará com 30 aeronaves hoje operadas pela Avianca e ganhará mais 70 ‘slots’ (autorizações de pousos e decolagens); com o negócio, empresa ficará bem mais próxima das tradicionais líderes do setor

A companhia aérea Azul informou ontem que assinou uma proposta no valor de US$ 105 milhões ( R$ 404 milhões) para a compra da Avianca Brasil, que está em recuperação judicial desde dezembro de 2018. O negócio entre as companhias deverá incluir o certificado de operador aéreo da Avianca, 30 aviões e 70 autorizações de pousos e decolagens em aeroportos do Brasil. As dívidas da empresa, que ultrapassam R$ 1 bilhão, ficarão de fora.

Pela estrutura atual das empresas, a nova companhia passaria a deter 31% do mercado doméstico, transformando-se na segunda maior do País. A Azul, porém, deverá enxugar a Avianca, que hoje atua com 48 aviões. Após o anúncio, as ações da Azul subiram 6,45%.

A compra da Avianca garante também à Azul uma maior participação no aeroporto de Congonhas, objetivo antigo da companhia. O terminal é o mais disputado do Brasil em autorizações para pousos e decolagens, os chamados slots. Atualmente, a Azul é a menor companhia aérea em Congonhas, com 13 slots diários. A Avianca tem 21.

Apesar de o acordo anunciado ser não-vinculante, o que significa que a Azul pode desistir da compra sem punição, ele prevê injeção de recursos para que a Avianca opere até a conclusão do negócio. O Estado apurou que o aporte deve variar de US$ 20 milhões a US$ 40 milhões.

Para o negócio ser concluído, as empresas deverão vencer vários pontos controversos. Será preciso que os credores aprovem e, principalmente, que os donos das aeronaves que serão incluídas no negócio deem aval.

As arrendadoras dos aviões usados pela Avianca – às quais a empresa deve cerca de US$ 150 milhões – disputam a posse deles na Justiça desde o fim do ano passado. Segundo os documentos apresentados pela Azul ontem, a intenção é renegociar os preços de aluguel dessas aeronaves, o que pode não ser bem recebido pelas arrendadoras, disseram duas fontes envolvidas nas negociações.

Há ainda o fato de a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) proibir a venda ou a cessão dos slots, pois considera que eles não são propriedades da companhia aérea. O Estado apurou, porém, que as companhias estão formatando um modelo de negócio que tem grandes chances de passar pelo crivo da Anac. A ideia é criar uma espécie de subsidiária que tenha uma composição acionária diferente e que detenha os ativos que serão comercializados.

“A regulamentação veda a comercialização de slots, mas não proíbe, em hipótese alguma, a venda de companhias aéreas em si. Tudo dependerá da estrutura societária estabelecida (por Azul e Avianca) e da análise da Anac e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica)”, explicou o advogado Felipe Bonsenso, especializado em direito aeronáutico.

Uma fonte próxima às empresas afirmou que a expectativa é que o processo, incluindo análise da Anac e do Cade, seja concluído em três meses. No órgão antitruste, não deve haver empecilhos, disse a mesma fonte, já que as duas companhias têm poucas rotas que se sobrepõem. Além de terem malhas aéreas complementares, Azul e Avianca também usam o mesmo modelo de avião – o que facilita a transição para a compradora.

Justiça. Ontem também foi realizado o julgamento dos agravos de instrumento dos arrendadores que querem retomar as aeronaves. Segundo fontes que acompanharam, o relator do processo Ricardo Negrão votou contra a Avianca e criticou a transação com a Azul. O julgamento foi suspenso pelo pedido de vistas do desembargador Sergio Shimura. Além do adiamento, a Avianca conseguiu antecipar de 15 de abril para 29 de março a assembleia de credores.

Credores

US$ 150 mi é a dívida atual da Avianca com as empresas que arrendam aeronaves à companhia; Azul quer renegociar preços de aluguel dos aviões

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Gol suspende voos de modelo de aeronave envolvida em acidentes

Luciana Dyniewicz

Fabiana Holtz

Wagner Gomes

12/03/2019

 

 

Companhia tem sete aviões Boeing 737 Max 8 em operação; decisão veio após recomendação do Procon de São Paulo

A Gol anunciou, na noite de ontem, que vai suspender os voos das sete aeronaves Boeing 737 Max 8 que estão em operação no País. A companhia é a única empresa nacional que utiliza o modelo, que também é o esteio de sua expansão – a aérea tem hoje um total de 135 pedidos com a fabricante americana (a conta inclui também a variação Max 10). A aeronave protagonizou dois acidentes fatais em questão de meses: em outubro de 2018, um avião da Lion Air, da Indonésia, caiu e deixou 189 mortos. No fim de semana, a queda de um voo da Ethiopian matou 157 pessoas.

A decisão da Gol veio após vários países – incluindo China e Indonésia – determinarem que os Boeing 737 Max 8 deveriam permanecer em solo. Ontem, a Fundação Procon-SP recomendou, ainda pela manhã, que a Gol suspendesse de imediato a operação de todas as aeronaves 737 Max 8. A recomendação foi atribuída a dois acidentes fatais em um curso espaço de tempo. “O objetivo é prevenir que ocorram futuros acidentes colocando em risco a vida dos usuários do transporte aéreo”, disse o Procon, em nota.

Em nova divulgada ontem, a Gol informou que a decisão já foi comunicada à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), órgão regulador do setor aéreo. “Os clientes com viagens previstas nas aeronaves 737 Max 8 serão (...) reacomodados em voos da empresa ou de outras companhias aéreas, como a nossa parceira Delta Air Lines.”

O papel da empresa registrou ontem recuo de 2,59%, para R$ 26,35. A Gol apostava na aquisição de aquisição das aeronaves 737 Max 8 e 10, modelos de avião que utilizaria para voos mais longos, como as rotas para Miami e Orlando, nos EUA, e Quito, no Equador. O resultado na Bolsa também foi influenciado pela união de Azul e Avianca, anunciado na manhã de ontem, que criará uma terceira força no mercado nacional de aviação.

Força. Um total de 68 companhias aéreas ao redor do mundo utilizam o 737 Max, da Boeing. De acordo com o site da fabricante, pelo menos quatro empresas na América Latina utilizam ou estão prestes a iniciar voos com a aeronave: Gol, Aeromexico, Copa Airlines (do Panamá) e a Aerolíneas Argentinas. O novo modelo da Boeing se destacaria pelo consumo de combustível, cerca de 15% inferior ao de aviões similares.

Vítimas

346

é o total de mortes com aeronaves 737 Max 8, da Boeing, em acidentes na Indonésia e na Etiópia