Correio braziliense, n. 20445, 13/05/2019. Cidades, p. 17

 

Eleitos ganham força no comando de partidos

Alexandre de Paula

13/05/2019

 

 

 

 

 Recorte capturado

 

Articulação » Legendas políticas da capital federal se reorganizam depois do resultado das eleições de 2018. Novos nomes conquistam destaque e substituem caciques, alguns reprovados nas urnas, na direção de siglas como MDB, PSD, PR, PP, PTB e PSL

Passada a ressaca das eleições de 2018, os partidos políticos do Distrito Federal começam a se reorganizar. Candidatos que conseguiram vencer no pleito do ano passado ganharam força dentro das legendas e, em muitos casos, conquistaram posições de comando e de destaque dentro das direções regionais. Em contrapartida, medalhões que ficaram de fora da lista de eleitos, em geral, perderam importância e tiveram de ceder espaço às lideranças que se consolidaram pelo voto. O movimento ocorreu em algumas das siglas mais importantes da capital, como MDB, PSD, PR, PP, PTB e PSL.

O MDB era comandado pelo ex-vice-governador Tadeu Filippelli. Sem mandato eletivo, Filippelli — que tentou, sem sucesso, um lugar na Câmara dos Deputados em 2018 — viu-se obrigado a ceder lugar para um nome em ascensão na política brasiliense: o presidente da Câmara Legislativa, Rafael Prudente.

A pressão para a mudança no partido teve apoio do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), que também é uma liderança que despontou nas últimas eleições. Ele e Prudente chegaram a protocolar um pedido à executiva nacional para dissolver o diretório local. Por fim, Ibaneis e Filippelli entraram em acordo para que Prudente assumisse o comando da legenda. Nora do ex-vice-governador, a secretária da Mulher, Ericka Filippelli, ficou como vice-presidente.

No PP, a perda do mandato também teve impacto e implicará na saída do comandante da legenda, o ex-deputado federal Rôney Nemer. Ele dará lugar a Celina Leão, fortalecida depois da conquista de uma vaga na Câmara dos Deputados nas últimas eleições. Ela é também uma das principais aliadas do chefe do Palácio do Buriti. A troca deve ocorrer apenas em outubro, quando vence o mandato de Nemer. “Estamos fazendo uma transição pacífica. Já nos reunimos com a direção nacional para acertar as mudanças. Os nomes, inclusive, serão decididos juntos”, adiantou Celina.

O impacto do pleito de 2018 também se manifestou no PSD. O partido era presidido pelo ex-governador e ex-deputado federal Rogério Rosso. Ele se colocou na disputa pelo Buriti no ano passado, mas acabou em terceiro lugar. Sem mandato, optou por voltar à iniciativa privada e deixar, ao menos por enquanto, a política de lado.

Problemas

Com a saída de Rosso, o partido dá os primeiros passos para a criação de um grupo político. O ex-senador Paulo Octávio comandará a sigla. Ele estava no PP e não disputou nenhum cargo nas eleições passadas, mas apoiou a campanha vitoriosa de Ibaneis Rocha. O empresário levou para a legenda os filhos Felipe Octávio e André Octávio, além da mulher, Anna Christina Kubitschek. Ela é neta de JK, que se elegeu presidente pelo PSD.

Salvador Bispo, do PR, também cedeu espaço a uma liderança eleita. Na disputa de 2018, ele emplacou a candidatura do filho, Alexandre Bispo, a vice na chapa do ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM), mas ficaram em sexto lugar. Com isso, a direção regional da sigla foi para as mãos de Flávia Arruda, a deputada federal mais bem votada do DF, com 121 mil votos. Alexandre ficou com o cargo de vice-presidente.

Em algumas legendas, as trocas de comando combinaram o fator renovação com problemas ao longo da campanha de 2018. É o caso do PSL, partido do presidente da República, Jair Bolsonaro. A sigla disputou as eleições distritais sem alinhamento com a família Bolsonaro, que chegou a pedir que apoiadores se filiassem a outra legenda, o PRP — do então candidato a governador Paulo Chagas.

Com a vitória de Bolsonaro, a executiva nacional convidou a deputada federal Bia Kicis, eleita pelo PRP, para fazer parte da agremiação. Com a chegada de Bia, Newton Lins deixou a Presidência e a entregou para a parlamentar. Ele também disputou o cargo em 2018, mas, com 6,8 mil votos, não se elegeu.

Outra legenda em que dificuldades na campanha culminaram na troca de comando é o PTB. O partido era comandado pelo ex-distrital Alírio Neto e teve a candidatura de diversos representantes barrada pela Justiça Eleitoral por falhas na transmissão de dados da legenda ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Após as eleições, porém, a Justiça reviu as candidaturas e validou votos do PTB. A decisão deu uma cadeira na Câmara Legislativa a Jaqueline Silva. No processo, a distrital se fortaleceu e se firmou como liderança da sigla. Pesou também a derrota de Alírio —  candidato a vice de Eliana Pedrosa (Pros) —  nas urnas. Com apoio do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, Jaqueline assumiu o comando.

O PSB, do ex-governador Rodrigo Rollemberg, também trocou de direção. No caso da sigla, no entanto, o ex-presidente Tiago Coelho renunciou ao posto para se dedicar à carreira acadêmica. Militante do partido de longa data, o vice-presidente Daniel Cunha ficou com o posto até que sejam realizadas novas eleições —  ainda sem data.

Sem mudanças

Embora tenha permanecido com o mesmo presidente, o PSDB também foi influenciado pelo resultado do pleito. Comandante da legenda, Izalci Lucas sofria resistência de parte dos filiados e teve a direção contestada por diversas vezes no último ano. Porém, com a conquista de uma vaga no Senado, Izalci firmou-se como comandante do partido. Para a Vice-presidência, ele recrutou o distrital Daniel Donizet. Novato, Donizet foi eleito pelo PRP.

No DEM, o ex-deputado federal Alberto Fraga conseguiu se manter no cargo. Nos bastidores, o deputado eleito Luis Miranda pleiteou a posição, mas as lideranças chegaram a um consenso, e Miranda ficou com a Vice-presidência. “Ele é um nome que tende a crescer, mas vamos ter de esperar um pouquinho mais para vê-lo na Presidência. Quem sabe na próxima”, arriscou Fraga.

Para o cientista político e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) Creomar de Souza, a troca de velhos nomes sem cargos eletivos por aqueles que ocupam mandato dentro das direções partidárias é um movimento natural na política.  “A liderança partidária tem de estar ancorada dentro do mandato, porque é o mandato que dá voz ao partido dentro da estrutura da política. Se o comandante não foi eleito, nada mais normal do que ser substituído por alguém com mais pujança neste momento”, avaliou.

Frase

"A liderança partidária tem de estar ancorada dentro do mandato, porque é o mandato que dá voz ao partido dentro da estrutura da política”

Creomar de Souza, cientista político e professor da UnB