O Estado de São Paulo, n. 45809, 20/03/2019. Economia, p. B4

 

Brasil cede na OMC em troca de apoio dos EUA na OCDE

Beatriz Bulla

Ricardo Leopoldo

Luciana Dyniewicz

Bárbara Nascimento

20/03/2019

 

 

Governo concordou em abrir mão de tratamento especial em órgão de comércio por aval americano à entrada em ‘clube’ de países ricos

Status. Donald Trump confirmou nos jardins da Casa Branca apoio ao governo Bolsonaro

Os Estados Unidos se comprometeram ontem a apoiar a candidatura do Brasil a membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O pleito brasileiro foi encampado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que vê a adesão ao chamado clube dos países ricos como um selo internacional de confiança no Brasil. “Estou apoiando o Brasil para entrar na OCDE”, disse Trump no Salão Oval da Casa Branca, onde recebeu o presidente Jair Bolsonaro.

O apoio formal dos EUA para a entrada do Brasil na OCDE é considerado crucial, mas veio com uma contrapartida. Em troca, o governo brasileiro concordou em “começar a renunciar” ao tratamento diferenciado dado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) aos países em desenvolvimento. Para os EUA, isso ajudaria a abrir caminho para a reforma que o país propõe nas regras globais de trocas comerciais.

O governo americano era contra a entrada simultânea de vários países na OCDE, alegando que isso prejudica o trabalho da organização. Embora considerado um “clube dos ricos”, a organização tem membros como Colômbia e Letônia – economias bem menores do que o Brasil – e Turquia, que enfrenta uma grave crise econômica. A fila de países que já pediram para entrar inclui Argentina, Peru, Croácia, Romênia e Bulgária. Trump já se manifestou a favor da candidatura dos argentinos.

Após a reunião privada, o presidente americano confirmou o posicionamento à imprensa nos jardins da Casa Branca. “Nós vamos apoiar. Vamos ter uma boa relação em diferentes formas. Isso é algo que vamos fazer em honra ao presidente (Bolsonaro) e ao Brasil.”

PARA ENTENDER

A tentativa de transformar o Brasil em um membro efetivo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) teve início há quase dois anos, em junho de 2017, ainda no governo Michel Temer. Embora considerado um “clube dos ricos”, a organização tem membros como Colômbia e Letônia – economias bem menores do que o Brasil – e Turquia, que enfrenta uma grave crise econômica. A noção é que a entrada nesse grupo pode ajudar a atrair investimentos internacionais e a captar recursos com juros mais baixos. Atualmente o Brasil é “parceiro-chave” da OCDE – status que conquistou há 12 anos.

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Países se comprometem a reduzir barreiras comerciais 

Beatriz Bulla

20/03/2019

 

 

No encontro entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente americano, Donald Trump, Brasil e Estados Unidos concordaram em acordos para reduzir obstáculos no comércio e investimento. Nos jardins da Casa Branca, Trump afirmou que os dois países iriam estabelecer uma relação “justa”.

Por meio de uma comissão entre os dois países de relações econômicas e de comércio, Brasil e Estados Unidos pretendem explorar “novas iniciativas para facilitar comércio, investimento e práticas regulatórias”.

O Brasil anunciou com a cota de importação de 750 mil toneladas de trigo americano a uma tarifa zero de impostos e também com o “estabelecimento de bases científicas para a importação de carne suína produzida nos EUA”. Os EUA pressionam o Brasil pela abertura de mercado para a carne de porco, o que deve passar por avaliação de questões de regulação fitossanitária.

Em contrapartida, os EUA concordaram em marcar a visita técnica ao Brasil para reabrir o mercado americano para carne crua bovina brasileira. Os americanos aumentaram os testes de qualidade sobre a carne fresca importada do Brasil depois da Operação Carne Fraca. Três meses depois da repercussão internacional da operação, o Departamento de Agricultura americano suspendeu a importação de carne crua brasileira.

A partir de então, o Brasil entrou em uma longa negociação e submeteu aos EUA uma série de formulários para certificar a qualidade da carne bovina fresca. A última etapa para reabertura do mercado é a visita técnica de autoridades dos EUA. Apesar de ser um mercado relativamente novo ao País, a venda para os americanos é vista como importante referência para as operações internacionais.

Os dois países também se comprometeram a negociar o acordo de reconhecimento mútuo de exportadores e importadores de larga escala, para facilitar as operações comerciais. Este era um dos acordos que o Brasil queria colocar no papel já nesta visita, mas houve apenas a intenção registrada no comunicado.

Brasil e Estados Unidos também anunciaram a recriação do CEO Fórum, uma reunião de executivos dos dois países para discutir temas comuns.

Os EUA tentam reduzir a influência da China no Brasil. Questionado sobre como iria conciliar os interesses dos americanos e os negócios com os chineses, Bolsonaro afirmou, ao lado de Trump, que vai continuar a fazer negócio com “quantos países forem possíveis”.