Valor econômico, v.20, n.4714, 18/06/2019. Política, p. A10

 

Blindado pela bancada BBB, Moro explica troca de mensagens no Senado 

Isadora Peron 

Vandson Lima 

Carla Araújo

Fabio Murakawa 

18/06/2019

 

 

 Após sobreviver à primeira semana de escrutínio, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, vai ter de explicar amanhã no Senado a troca de mensagens com integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato. Na sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o ex-juiz deve ser alvo de senadores do PT, mas será blindado por integrantes da base governista e, principalmente, da chamada bancada BBB - Bala, Bíblia e Boi.

O ministro faz uma ofensiva para manter o apoio das ruas e das redes sociais desde a última semana. Ontem, viajou a São Paulo para gravar uma participação no "programa do Ratinho", no SBT. O presidente Jair Bolsonaro, após uma hesitação inicial, também tem feito uma série de acenos a Moro. Ontem, ao assinar uma medida provisória ao lado do ministro, voltou a defendê-lo.

"Nós passamos a ser alvos compensadores para o inimigo, então, atirar em Vossa Excelência, para os inimigos, é motivo de satisfação. Mas, quando se tem a verdade e Deus ao seu lado, ninguém nos atinge", disse Bolsonaro. A expressão "alvos compensadores" costuma ser usada pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, que é general do Exército.

Moro começou a costurar o apoio de parlamentares para tentar rebater a acusação de que agiu com imparcialidade quando era titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, especialmente nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Antecipando-se a uma eventual convocação no Congresso, Moro "autoconvidou-se" para ir à CCJ do Senado - um ambiente mais controlado e menos hostil do que a Câmara - para falar das reportagens publicadas pelo site "The Intercept Brasil". O ministro tem se preparado, com a ajuda de assessores, para conhecer o perfil de cada integrante da CCJ e acertar o tom das respostas que dará durante a audiência.

O maior medo da base governista é que aconteça com Moro o que se passou com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Em abril, ao falar à CCJ da Câmara sobre a reforma da Previdência, Guedes ficou por cinco horas respondendo questionamentos da oposição. Exausto, explodiu após o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) chamá-lo de "tchutchuca". O episódio foi visto como o cúmulo da falta de articulação da base, que não se organizou para disputar a fila na ordem de inscrição, e deixou Guedes "na chuva".

A oposição quer impor este tipo de constrangimento a Moro e se prepara, desde a semana passada, para tentar desestabilizar o ministro. Grupos de técnicos do PT realizaram reuniões e estão formulando perguntas, com diferentes abordagens. A ideia é tirar Moro da discussão jurídica e empurrá-lo à arena política.

Uma questão em aberto, e com potencial explosivo, é se o senador Renan Calheiros (MDB-AL), crítico contumaz de Moro e alvo da Lava-Jato, vai participar da audiência. Renan é suplente na CCJ e, segundo o Valor apurou, está preparando uma série de perguntas bastante desconfortáveis caso tenha a oportunidade de interpelar o ex-juiz.