Valor econômico, v.19, n.4626, 08/11/2018. Opinião, p. A16

 

Zeitgeist, conexão com o saber para transformar o mundo 

Luiz Carlos Trabuco Cappi

08/11/2018

 

 

A admirável capacidade da língua alemã em exprimir amplos significados dentro de palavras únicas está fazendo, já há dez anos, mais uma delas correr mundo, aglutinando ideias transformadoras aos mais diferentes setores da economia. Em torno do Zeitgeist, termo germânico que define o ambiente geral de uma época e o espírito do tempo, milhões de pessoas com práticas cada vez mais amplas de sustentabilidade, inclusive no campo financeiro, têm-se conectado para interpretar as velozes mudanças da sociedade global e, apoiadas nestas observações, produzir inovação ao nosso conhecimento.

A atitude disruptiva da maneira de ser e agir no século XXI é a base para a circulação dessas reflexões criativas sobre o que de mais importante está acontecendo precisamente agora, em diferentes partes do mundo, simultaneamente. As muitas plataformas de tecnologia existentes compõem o ambiente que une essa inovação e a veicula a bilhões de seres humanos. O futuro, assim, já é tempo presente a todos nós que estamos conectados e se atualiza a cada instante.

Pelo gentil convite do CEO do Google no Brasil, Fabio Coelho, tomei parte, em Nevada, nos EUA, no Zeitgeist Google 2018, envolvente encontro entre cientistas, pesquisadores, intelectuais, empreendedores e executivos de marcas de expressão mundial, no qual mais de 30 luminares do saber e do empreendedorismo apresentaram novos capítulos relacionados ao estágio da evolução humana.

A intenção do evento com o CEO mundial do Google, Sundar Pichai, foi a de proporcionar elementos para novas descobertas e significados. Ele próprio, em seu painel, sustentou que a inteligência artificial é a próxima revolução humana, cujo curso já se estende. Alguns dos maiores avanços que estão por vir serão derivados dela, mas será preciso, segundo ele, observar cuidados em seu desenvolvimento, para que funcione a favor, e não em oposição ao homem.

Nas palestras e debates, a aclamada escritora e ensaísta canadense Margaret Atwood, autora da 'ficção especulativa', como ela própria define, "The Handmaid's Tale", abordou a questão da distopia. Atwood assinalou os riscos existentes quando divergências remetem a desagregações incontornáveis. Deixou claro que bons planos, ainda que construtivos, podem ter resultado diametralmente opostos ao objetivo se forem aplicados erradamente.

Autor, produtor e arranjador de músicas que atingiram a fabulosa casa de 600 milhões de álbuns vendidos nas últimas seis décadas, o americano Nile Rodgers baseou-se em sua convivência com grandes plateias, em shows pelo mundo, para lembrar que distopias como as apontadas pela autora canadense podem ser contornadas pela universalidade da linguagem musical. Com bastante propriedade, ele lembrou que as mensagens mais diretas e assertivas, quando embaladas por ritmos ao gosto das pessoas, são mais facilmente transmitidas, e com longo alcance.

Mais jovem prefeito da história dos Estados Unidos, Michael D. Tubbs, de Stockton, na Califórnia, narrou os progressos obtidos com seu plano de incrementar o número de estudantes em todos os níveis de ensino em sua comunidade. Ele ousou destinar US$ 20 milhões para criar uma academia de professores e especialistas, logo em seu primeiro ano de gestão, com a meta de triplicar o acesso aos bancos escolares.

Eleito aos 26 anos de idade, no ano passado, Tubbs nasceu e cresceu numa comunidade pobre. Ele conquistou fama nacional ao ganhar um concurso de monografias com o tema "Superando os Erros de Seus Pais". Bacharelou-se na Universidade de Stanford e afirma que sua missão é retribuir à comunidade as oportunidades de superação que ele mesmo soube aproveitar.

No campo do empreendedorismo individual, sobressaiu o exemplo de Logan Green, CEO da Lyft, empresa nascida em 2007, integralmente apoiada nas novas tecnologias e nas redes sociais, cujo foco é administrar o compartilhamento de transporte. A ideia inicial foi oferecer uma alternativa complementar aos vazios abertos pelo sistema público. Sua inspiração surgiu numa visita ao Zimbabue, na África, onde Green observou um modelo de compartilhamento de veículos surgido espontaneamente entre a população local.

Muitas outras conectividades se deram. A aula do maior estudioso global da Teoria de Tudo, o físico americano Michio Kaku, combinou-se à palavra do filósofo suíço Alain de Botton, que por sua vez conectou-se com as informações do jornalista James Fallow.

Michio obtém descobertas no estudo das partículas das partículas, chamadas hádrons. Botton fundou a Escola da Vida, que aplica achados filosóficos ao dia-a-dia das pessoas. Ele sustenta, para tomarmos um tema universal, que o amor não é tão somente uma sucessão de reações celulares, mas sim uma escolha que se pode desenvolver com ciência.

Já James Fallow, atuante por mais de 30 anos na prestigiada "The Atlantic Magazine", chamou a atenção para as oportunidades embutidas na novíssima infraestrutura à disposição da humanidade, capaz de nos proporcionar uma vida plena de boas chances.

Exercidas nas fronteiras do conhecimento, as análises apresentadas já ressoam mudança de conceitos sobre o que, positivamente, é uma atitude contemporânea. Estão em alta no espírito do nosso tempo - o zeitgeist! - Imaginação, Economia Livre e Saudável, Inclusão, Respeito, Eficiência, Efetividade e Trabalho Duro.

Também estão cada vez mais presentes no hoje atitudes como Agir sobre os Fatos, Compromisso em Servir às Pessoas, Domínio de Capacidades e a grande meta de Você Deter o Controle de Sua Vida.

A profunda incursão àquela efervescência de conhecimentos trouxe-me a certeza de que na vida e, portanto, no trabalho e em sociedade, é fundamental nos alinharmos aos futuros desafios do comportamento humano.

Fortaleceu-se minha crença na tecnologia como grande aliada das atividades humanas, assim como na realização de parcerias para a chegada a descobertas que tornem a vida de todos nós mais fácil, inovadora e transformadora. Sempre.